sexta-feira, 31 de março de 2017

Renan quer aliança com Lula em 2018

Por Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico

BRASÍLIA - Preocupado com a reeleição do filho ao governo de Alagoas, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) iniciou movimento de desembarque da base de apoio ao governo Temer. Ele tem aumentado o tom das críticas ao governo e ensaia aproximação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem nunca cortou os laços, apesar do apoio ao impeachment de Dilma Rousseff.
A aposta de Renan é arriscada. Ele acredita que a economia não dará sinais robustos de recuperação até o próximo ano. Isso dificultará a permanência do grupo do presidente Michel Temer no poder depois da eleição de 2018. Renan também acha que as reformas propostas pelo governo vão minar a popularidade do presidente e de seus defensores.

Nesse cenário, Renan acredita que, se Lula puder se candidatar à Presidência no próximo ano, a formação de um palanque com o petista criará as condições ideais para a reeleição de Renan Filho em Alagoas, onde o ex-presidente continua muito popular.

Por 2018, Renan articula aliança com Lula e rompimento com o governo
Não é por cargos e nem por discordâncias sobre terceirização ou mudanças na aposentadoria que o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), tem se tornado cada vez mais crítico ao governo do presidente Michel Temer. Pragmático, às voltas com a Operação Lava-Jato e preocupado com a reeleição do filho no comando de Alagoas, Renan resolveu iniciar um movimento de desembarque da base aliada para apostar suas fichas em uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.

Lideranças de PMDB, PSDB e PP ouvidos pelo Valor já estão cientes e o presidente Michel Temer, asseguram, também: Renan, que nunca cortou laços com Lula, aposta que a economia não dará sinais robustos de recuperação até 2018 e que as reformas vão minar a popularidade de seus defensores.

Nesse cenário, na hipótese de o ex-presidente ter condições legais de concorrer à Presidência da República novamente, Renan enxerga na formação de um palanque com Lula as condições ideais para a reeleição de Renan Filho (PMDB) no governo de Alagoas, onde o ex-presidente continua muito popular.

Uma pesquisa à qual Renan teve acesso fez com que ele se decidisse por este caminho. No Estado, Lula teria 53% de aprovação e Temer, 7%. O grupo político do senador e de seu filho foi derrotado nas principais cidades de Alagoas em 2016 por adversários de PSDB e PP, que agora ameaçam o PMDB nas disputas majoritárias em 2018. O caso do próprio Senado, de acordo com a sondagem, é emblemática: há pelo menos seis outros possíveis postulantes às duas vagas do Senado. Ronaldo Lessa (PDT), Teotônio Vilela Filho (PSDB), o atual senador Benedito Lira (PP), os ministros Maurício Quintella (PR, Transportes), Marx Beltrão (PMDB, Turismo) e até Heloísa Helena. Todos em condições melhores que Renan, cuja impopularidade teria batido os 73%, de acordo com fontes que tiveram acesso à pesquisa. Dadas as condições, o senador já estaria até vislumbrando uma candidatura a deputado federal.

Segundo dirigentes petistas de Alagoas, a articulação é vista com naturalidade. Fontes do PT local reiteram que Renan jamais rompeu pontes com eles. "Renan é um animal político que trabalha constantemente com pesquisas. E a informação que temos é que Lula subiu muito em Alagoas", conta um deputado. "Se Renan pular do 10º andar de um prédio, pode pular atrás porque lá embaixo é água".

No Senado, petistas lembram que, no impeachment, Renan foi decisivo para que a ex-presidente Dilma Rousseff mantivesse seus direitos políticos, apesar de cassação do mandato. O gesto foi visto como uma mostra de lealdade.

Tudo somado, Renan passou a ser desde já um crítico contumaz do governo, como forma de já ir moldando um discurso que lhe dê "coerência" mais à frente. Para além da discordância com medidas de impacto econômico, Renan acusou recentemente o governo de Temer de atender indicações feitas pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, condenado ontem a 15 anos de prisão, diretamente da cadeia: a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça e do Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha Vale, são usados por Renan como exemplos.

Um embate nesse sentido ocorrerá nos próximos dias: Vale foi indicado à recondução como membro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Renan tem feito intensa campanha contra o suposto aliado de Cunha. "Suposto não. Ele mantém relações com Eduardo Cunha, eu sei disso", rebate, quando questionado.

A estratégia de Renan é considerada por senadores próximos "de alto risco" e já produz ruídos. Ele "forçou a mão", dizem, para que a bancada do PMDB chancelasse uma nota contrária ao projeto de terceirização. Obteve oito apoios entre 22 pemedebistas. Alguns, no entanto, foram depois ao Palácio do Planalto se explicar.

Se levar a cabo a articulação, lembram ainda, Renan colocará em xeque o comando de ministérios que influenciou as indicações, como Turismo e Hélder Barbalho na Integração Nacional. E também a disposição do governo para encaminhar recursos para Alagoas.

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