segunda-feira, 20 de março de 2017

Social-democratas contra Merkel

Os social-democratas elegeram por unanimidade ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz para desafiar Angela Merkel nas urnas.

Rival poderoso para Merkel

Social-democratas escolhem por unanimidade novo líder que desafiará chanceler

- O Globo

-BERLIM- Único candidato à liderança do Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão) da Alemanha, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz deixou a convenção da legenda, na tarde de ontem em Berlim, fortalecido como o principal desafio à chanceler federal Angela Merkel nas eleições marcadas para 24 de setembro. Numa demonstração de unidade, Schulz foi eleito por 100% dos votos, superando o recorde anterior de Kurt Schumacher, popular líder da legenda no período pós-guerra, que conquistou o apoio de 99,71% dos delegados em 1948.

O SDP integra a coalizão de governo ao lado da União Democrata-Cristã (CDU), partido de Merkel, desde 2013, mas no ano passado divisões internas levaram a imprensa alemã a especular que os socialdemocratas poderiam se juntar aos Verdes e à Esquerda, dois partidos atualmente na oposição, para tirar a chanceler do poder. Ela está no cargo desde 2005 e busca um quarto mandato. O entusiasmo do partido com a escolha de Schulz ontem reforçou essas especulações, e analistas acreditam que o SPD — que não vence eleições federais desde o triunfo de Gerhard Schröder em 2002 — pode voltar a ser o maior partido no Parlamento.

Uma pesquisa publicada ontem pelo semanário “Bild am Sonntag” mostra a coalizão entre a CDU e a União Social Cristã (CSU), da Baviera, com 33% de apoio entre os eleitores alemães, seguida pelo SPD com 32%. Verdes e a Esquerda teriam 8% cada um, e, caso esses números se mantenham, uma coalizão “vermelha, verde e vermelha” — reunindo SDP, Verdes e a Esquerda — conseguiria a maioria necessária para assumir o governo, evitando a reeleição de Merkel.

Schulz, um ex-vendedor de livros de 61 anos, ocupará o lugar do ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel — que abandonou o cargo em janeiro, depois de sete anos e meio, para ampliar as chances do SPD nas próximas eleições — e conseguiu um feito inédito na história do partido: conseguiu os votos de todos os 605 delegados social-democratas.

— Essa foi a transferência de liderança mais alegre e otimista que o partido teve em décadas — afirmou Gabriel, garantindo que não havia “razão para melancolia” de sua parte. — A ressurreição do SPD tem um nome, e seu nome é Martin Schulz.

Inicialmente, Schulz afirmara que não tinha intenções de concorrer à chefia do governo alemão, mas mudou de ideia no fim de 2016, quando abriu mão de mais um mandato como presidente do Parlamento Europeu. Desde então, o SPD tem colhido os frutos do que a imprensa alemã batizou de “efeito Schulz”, atraindo 13 mil novos filiados nos últimos três meses, e ganhando cerca de dez pontos percentuais nas intenções de voto segundo as pesquisas de opinião.

Boa parte desse novo apoio vem de eleitores jovens, que veem Schulz como um “vento de mudança no partido”, e renderam ao novo líder do SDP uma série de comparações com o senador Bernie Sanders, que mobilizou a juventude americana com um discurso progressista durante as primárias do Partido Democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, no ano passado.

— O SPD voltou! Estamos de volta! — exclamou Schulz em seu discurso de vitória, no qual culpou a crescente desigualdade social pelo recente aumento do populismo no país e prometeu reverter algumas das políticas radicais de Schröder, que fizeram com que o partido perdesse força junto aos eleitores. — Queremos que o SPD seja maior força política depois dessas eleições federais para que consiga uma chance de tornar este país melhor e mais justo, e dar aos cidadãos o respeito que eles merecem. Quero ser o próximo chanceler alemão.

IMPORTANTE AVAL DE LÍDER EUROPEU
O novo líder do SPD também atacou partidos populistas como o Alternativa para a Alemanha (AfD), e o movimento dos Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente (Pegida), comparando-os aos apoiadores do presidente americano, Donald Trump, cuja retórica classificou como “misógina, antidemocrática e racista”. As críticas de Schulz também se estenderam à CDU, que se comprometeu a reduzir impostos numa tentativa de conquistar mais um mandato.

— Quando a população percebe que seus impostos estão sendo usados para dar um futuro a seus filhos, elas os apoiam — afirmou o ex-presidente do Parlamento Europeu, em entrevista no mês passado, na qual enfatizou a redistribuição de recursos e a justiça social no país.

Na sexta-feira, Merkel comentou a euforia do eleitorado em torno de Schulz, afirmando que “a concorrência é estimulante”. Após a convenção do SPD, o presidente da Comissão Europeia, JeanClaude Juncker, que enfrenta o crescimento do euroceticismo no continente, afirmou que tanto Schulz quanto Merkel têm as qualidades necessárias para ocupar o cargo de chanceler.

— É incrível a maneira como Martin Schulz mudou a situação dos socialdemocratas — afirmou o corregedor do SPD, Thomas Oppermann. — Isso se deve ao fato de que boa parte da população acredita que Angela Merkel fez um bom trabalho, mas que já se cansou do cargo de chanceler.

Nascido no vilarejo de Hehlrath, próximo às fronteiras com a Bélgica e a Holanda, Schulz foi eleito para o conselho municipal de Würselen, e em 1987 se tornou o mais jovem prefeito no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Após deixar o cargo, comandou a delegação do SPD no Parlamento Europeu, e passou a liderar a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, principal coalizão da esquerda europeia. Em 2012 chegou à Presidência do Parlamento Europeu, na qual permaneceu até janeiro deste ano.

Fluente em seis línguas, Schulz não terminou o ensino médio nem cursou a universidade. O sonho de se tornar jogador de futebol foi interrompido por uma lesão no joelho que o levou a uma longa luta contra o alcoolismo.

— Nada tenho a esconder. Travei as lutas que tive que travar em minha vida e fui bem-sucedido — afirmou em entrevista a revista “Bunte”.

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