sábado, 8 de abril de 2017

A menor inflação desde o Real

A inflação do 1º trimestre de 2017 foi de 0,96%, a menor desde a edição do Plano Real, em 1994. Em março, a alta foi de 0,25%, a menor desde 2012. O resultado deve acelerar a redução dos juros.

Inflação no trimestre é a menor do Plano Real

Com alta de 0,25% em março, IPCA acumula 0,96% este ano. Alívio deve ajudar na redução dos juros básicos

Lucas Moretzsohn | O Globo

A inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou em março e já se aproxima do centro da meta do governo, de 4,5% em 12 meses. Com a alta de 0,25% no mês passado frente a fevereiro, o acumulado em 12 meses está em 4,57%. É a menor taxa para março desde 2012, e o melhor resultado para o primeiro trimestre do Plano Real: 0,96%, bem abaixo dos 2,62% de igual período de 2016.

Para especialistas, os dados divulgados ontem pelo IBGE apontam para uma continuidade da queda da taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,25%. Há expectativa de que, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, o corte seja de 1 ponto percentual ou mais.

André Braz, economista do Ibre/FGV, é um dos que acreditam na redução da Selic. Ele destaca que a desaceleração da inflação é positiva principalmente para as famílias que, diante do desemprego, sentem menos o efeito corrosivo dos preços sobre os salários. O poder aquisitivo, principalmente dos mais pobres, fica mais protegido.

— O Banco Central tem feito movimentos fortes de redução da taxa básica de juros, e a expectativa é que terminemos o ano com ela em torno de 9%. Se a inflação está mais controlada, é mais espaço que o BC tem para diminuir a Selic, o que é fundamental para aquecer a economia e voltar a fazer investimentos. Fica mais fácil para o empresário tomar empréstimos e investir na atividade produtiva, o que gera mais emprego — afirma.

Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índice de Preços do IBGE, os primeiros três meses de 2016 tiveram taxas muito fortes, sob influência principalmente dos alimentos, que cresciam de forma significativa. Com a retirada dessas taxas elevadas, ela diz que vemos uma ladeira abaixo para a inflação em 2017:

— Éo segundo mês seguido em que o IPCA fica na casa dos 4%, o que não víamos desde 2012. Isso significa, matematicamente, que o Brasil está deixando para trás as taxas muito elevadas e seus efeitos, e que há força para que alguns itens até caiam — afirma Eulina. — O primeiro trimestre mostra claramente um efeito da demanda e da renda do brasileiro, que está diminuindo com o desemprego aumentando. Isso se reflete instantaneamente sobre o comércio e os preços, com os agentes econômicos tendo até dificuldade de repassar custos represados.

Os grupos de alimentos e bebidas e energia elétrica devem contribuir expressivamente para o recuo do IPCA em direção ao centro da meta. Marcio Milan, economista da Consultoria Tendências, afirma que o conjunto de alimentos em domicílio vem caindo mais rápido do que esperado:

— Se pegarmos a inflação de alimentos e bebidas no domicílio em 12 meses, a taxa saiu de 16,8% em agosto de 2016 para 3% em março deste ano.

EFEITO PÁSCOA
Segundo Braz, do Ibre/FGV, a previsão é que o setor agrícola tenha bom desempenho este ano, o que ajuda a sustentar a alta dos preços, mas não tão intensa quanto em 2016. O grupo alimentos e bebidas teve alta de 0,34% em março, ante queda de 0,45% no mês anterior.

Produtos importantes para o consumidor ficaram mais caros, como leite longa vida (2,60%), café (1,89%) e pão francês (0,91%). O tomate teve alta expressiva de 14,47%, mas caiu 26,92% em 12 meses. Açaí e cenoura subiram 8,47% e 6,83%, respectivamente, no mês, mas recuaram 4,31% e 45,47% no último ano. Ovos (5,86%) e pescados (3,43%), muito comuns na Páscoa, também se valorizaram.

Mais da metade da alta de 0,25% da inflação de março veio da energia elétrica, o componente de maior peso no IPCA do mês: a alta de 4,43% representou 0,15 ponto percentual no índice. O aumento se deve majoritariamente à cobrança da bandeira tarifária amarela (R$ 2 a cada 100 kWh consumidos), aliada à elevação nas parcelas do PIS/Cofins dependendo da região analisada.

TRANSPORTE E VESTUÁRIO CAEM
A energia teve alta de 6,74% no Rio, a maior entre as regiões analisadas pelo IBGE. Em seguida, vieram Belo Horizonte (5,59%), Goiânia (5,17%), Curitiba (5,17%) e São Paulo (4,80%). A expectativa é que a energia também tenha peso importante para ajudar a alcançar o centro da meta em abril. De acordo com Braz, ela vai favorecer os preços devido a dois movimentos: a incidência da bandeira vermelha nas contas de luz (R$ 3 a cada 100 kWh) e a compensação concedida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aos consumidores por cobranças indevidas em 2016 por encargos da usina de Angra 3. Segundo o IBGE, o alívio nas contas será de até 19,5%.

— Mesmo com bandeira vermelha, haverá um recuo expressivo — explica.
Quatro dos nove grupos tiveram queda: transportes (-0,86%), comunicação (-0,63%), artigos de residência (-0,29%) vestuário (-0,12%). O destaque ficou com a gasolina, do grupo de transportes, que teve queda média de 2,21% no preço, e o etanol, que caiu, 5,10%. A passagem aérea também contribuiu para o recuo do grupo, com preços 9,63% menores.

Para Braz, a inflação deve chegar a 4% no fim do ano. Já a Tendências prevê um índice de 4,3% em dezembro. E o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, projeta um IPCA abaixo de 4% em dezembro.

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