sexta-feira, 7 de abril de 2017

FH diz que PT criou polarização política

Ao lançar terceiro volume da coleção ‘Diários da Presidência’, ex-presidente também fala sobre retomada de diálogo

Fernanda Krakovics | O Globo

Ao lançar no Rio o terceiro volume da coleção “Diários da Presidência: 1999-2000”, o ex-presidente Fernando Henrique culpou, ontem, o PT pela atual polarização política radicalizada no país e disse que isso começou quando os petistas “inventaram”, por razões eleitoreiras, segundo FH, que o PSDB era o “inimigo principal”. Embora tenha demonstrado ressentimento, o ex-presidente pregou a retomada do diálogo.

A colunista do GLOBO Míriam Leitão, que participou de um bate-papo com o ex-presidente no lançamento do livro, citou passagens de “Diários da Presidência” nos quais FH elogia encontros com petistas como o então governador do Acre, Jorge Viana, e Marina Silva, na época no PT. Ele também relata um telefonema para Lula:

— O diálogo se perdeu quando o PT inventou que o PSDB era o inimigo principal. Uma vez eu ouvi uma declaração do José Dirceu, coitado, está na cadeia hoje, lamento, perguntando por que eu não ia cuidar dos netos. Uma coisa grosseira, está velho, vai embora. Eu me dava com eles. A briga foi eleitoreira.

Fernando Henrique ressaltou que, apesar de só PT e PSDB terem lançado candidatos competitivos à Presidência da República depois da redemocratização, os dois partidos nunca tiveram maioria no Congresso:

— Isso foi levando cada um desses dois partidos a buscar apoio onde fosse possível. Deu no que deu, uma tragédia nacional. Houve contaminação de um partido que veio com uma proposta renovadora (PT) pelas práticas tradicionais e exagerou nelas. Chegou em uma corrupção institucionalizada.

Fernando Henrique disse também que nunca incentivou “essa visão antagônica com ódio” e defendeu a retomada do diálogo:

— Democracia exige certo grau de aceitação um do outro. Acho que só vamos sair de onde estamos se criarmos de novo um ambiente que permita um jogo de divergências, e não de ódio.

“SEM RANCOR” COM ITAMAR FRANCO
Ao chegar ao evento, FH negou que tenha mostrado, no terceiro volume de suas memórias, “rancor e animosidade” inexplicáveis com seu antecessor, o ex-presidente Itamar Franco, como disse o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS), que foi líder do governo Itamar.

— O Simon sabe como é a política. Ele é o primeiro a atacar todo mundo, inclusive a mim — disse o ex-presidente, em entrevista.

Fernando Henrique tentou minimizar os ataques a Itamar feitos no livro:

— Não tem rancor nem animosidade. Aquilo foi uma coisa momentânea, em função do que o próprio Itamar tinha feito na hora. Ele pediu moratória (como governador de Minas), o que não podia e abalou o Real, abalou o Brasil. No final do meu mandato ficamos outra vez de bem.

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