segunda-feira, 17 de abril de 2017

FH nega acordo para barrar Lava-Jato

Ex-presidente defendeu diálogo com a sociedade para refundar as bases morais da política

- O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou ontem ter participado de articulações com o presidente Michel Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar driblar a Operação Lava-Jato. A declaração é uma reação ao noticiário dos últimos dias de que os três estariam negociando um acordo político com esse objetivo.

“Não participei e não participo de qualquer articulação com o presidente Temer e com o ex-presidente Lula para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da Operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa", disse FH em sua página em uma rede social.

O ex-presidente afirmou ainda que, diante do “desmoronamento da ordem político partidária” e das distorções do sistema eleitoral, é urgente um diálogo envolvendo o mundo político e a sociedade. “O diálogo em torno do interesse nacional é o oposto de conchavos. Deve ser feito às claras com o propósito de refundar as bases morais da política”, disse ele, em sua publicação.

Para FH, a atual crise é “gravíssima”, com desdobramentos econômicos e sociais imprevisíveis. “Esta situação afeta os brasileiros preocupados com a democracia”, escreveu o tucano.

O ex-presidente defendeu as investigações e disse não temer seus desdobramentos. “Basta ouvir a íntegra das declarações de Emílio Odebrecht em seu depoimento ao Judiciário para comprovar que nelas não há referência a qualquer ilicitude por mim praticada nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998”, disse ele, no texto.

FH JÁ RELATIVIZOU CAIXA DOIS
Na delação, o dono da empreiteira disse que pagou “vantagens indevidas, não contabilizadas”, para abastecer a campanha eleitoral de FH à Presidência da República em 1993 e 1997. O empresário não disse qual seria o valor repassado.

O relator da Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, enviou as menções contra o tucano para a Justiça Federal de São Paulo. Como o ex-presidente não ocupa cargo público, não tem direito ao foro especial. Caberá assim ao juiz de primeira instância decidir se abre ou não inquérito contra o tucano.

No início do mês passado, Fernando Henrique chegou a relativizar, em nota divulgada à imprensa, o uso do caixa dois, dizendo que há diferença entre o dinheiro para financiar campanhas políticas e o recebido pelos partidos por fora para enriquecimento pessoal. Dezenove dias depois, ele divulgou vídeo afirmando que “caixa dois também é crime”.

LEIA O TEXTO DE FHC
"Na última vez que falei nesta página insisti em que chegou a hora de por as cartas na mesa: não participei e não participo de qualquer articulação com o presidente Temer e com o ex-presidente Lula para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da Operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa.

As investigações em curso devem prosseguir. De seus desdobramentos nada tenho a temer. Basta ouvir a íntegra das declarações de Emilio Odebrecht em seu depoimento ao Judiciário para comprovar que nelas não há referência a qualquer ilicitude por mim praticada nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998.

Dito isto devo reiterar que o país vive uma crise gravíssima com desdobramentos econômicos e sociais imprevisíveis. Esta situação afeta os brasileiros preocupados com a democracia.

Diante do desmoronamento da ordem político partidária e das distorções do sistema eleitoral é urgente um diálogo envolvendo o mundo político e a sociedade.

O diálogo em torno do interesse nacional é o oposto de conchavos. Deve ser feito às claras com o propósito de refundar as bases morais da política."

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