domingo, 9 de abril de 2017

Lava-Jato deixa eleições de 2018 no Rio em aberto

Avanço de investigações aumenta aposta em novos nomes para governo e esperança de antigos

Fernanda Krakovics | O Globo

O avanço da Lava-Jato torna cada vez mais incerta a disputa pelo governo do Rio no ano que vem. Pedidos de investigação feitos pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra políticos fluminenses, além de citações em delações premiadas, aumentam as apostas em novos nomes para as próximas eleições, mas também dão esperança a velhos conhecidos dos eleitores do Rio, que pretendem aproveitar eventual vácuo de lideranças.

Com seu principal cacique, o ex-governador Sérgio Cabral, na cadeia e com dificuldade para reverter a derrocada financeira do estado, o grupo político que comanda o Palácio Guanabara há dez anos aposta tudo na pré-candidatura do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB), mas está em compasso de espera desde que ele foi alvo, no mês passado, de pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Paes foi citado em delações de ex-executivos do Grupo Odebrecht. O ex-prefeito não se pronunciou até o momento porque, segundo sua assessoria, não tem conhecimento do teor do pedido de investigação.

PLANO B
Aliado de Paes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), manifestou em fevereiro desejo de concorrer a governador. Mas ele está na mesma situação do ex-prefeito: aguarda manifestação do STF sobre pedido de abertura de inquérito contra ele.

Diante desse cenário, já há no PMDB quem levante a possibilidade de o partido apoiar, em último caso, eventual candidatura do pai do presidente da Câmara, o ex-prefeito do Rio e vereador Cesar Maia (DEM). Mas ele também apareceu, junto com o filho, nas apurações preliminares da Lava-Jato.

O presidente da Câmara foi alvo de inquérito da Polícia Federal que apontou indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em sua relação com a empreiteira OAS. Rodrigo Maia teria pedido à construtora doações no valor de R$ 1 milhão em 2014, que teriam sido repassadas à campanha de seu pai ao Senado. As contribuições foram registradas na Justiça Eleitoral, mas os investigadores sustentam que sua origem é ilícita.

Rodrigo Maia tem afirmado que não recebeu vantagens indevidas em troca de favores políticos. Quanto ao pedido de investigação feito pela PGR, ele afirmou estar certo de que eventual inquérito será arquivado.

O presidente da Câmara foi citado na delação de Cláudio Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, como beneficiário de pelo menos R$ 600 mil. O executivo vinculou um dos pagamentos, de R$ 100 mil, à compra de apoio a uma Medida Provisória.

Apesar de estarem preocupadas com o futuro do partido no Rio, lideranças do PMDB consideram precipitado discutir, neste momento, alternativas à précandidatura de Paes.

— Não tem plano A, quanto mais plano B. O PMDB no Rio está vivendo seu pior momento. Tem que esperar passar — disse um integrante da cúpula do PMDB fluminense.

O derretimento do PMDB, que é a principal força política do estado, anima seus adversários.

— As grandes máquinas estão apodrecidas e com a corrosão exposta, principalmente PMDB e PT. É uma eleição inteiramente aberta — disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), cujo partido lançará o vereador Tarcísio Motta para governador.

ALTERNATIVAS
O projeto do PT é apoiar eventual candidatura do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PV). O nome de Neves apareceu em planilha apreendida com Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, como beneficiário de R$ 500 mil para a campanha de 2012. O repasse não consta em sua prestação de contas. O prefeito afirmou, na ocasião, que todas as doações para a campanha de 2012 foram declaradas.

No PSC, a aposta é que, apesar de o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) estar em pré-campanha para a Presidência da República, ele dispute o governo do Rio. Ele deve trocar de partido. Já pessoas próximas da família Bolsonaro dizem que ele deve sair para o Senado. Em pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, o deputado aparece em quarto lugar para presidente da República, com 9%.

O PSDB quer lançar o técnico de vôlei Bernardinho para governador, apostando na rejeição do eleitorado à classe política. Ele era a principal opção dos tucanos em 2014, mas não aceitou a tarefa porque estava engajado na Olimpíada do Rio.

Já o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), deve apoiar para governador seu secretário de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, Indio da Costa (PSD). Além de ações da administração municipal, Indio poderia se beneficiar do voto evangélico.

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