terça-feira, 16 de maio de 2017

Discutir a relação – Editorial | Folha de S. Paulo

Um incauto que assistisse à propaganda televisiva do PSDB, na quinta-feira (11), poderia imaginar que testemunhava o início de um movimento de renovação da vida partidária brasileira, uma versão local do "En Marche" francês.

Em uma roda, sentados, jovens prefeitos, deputados e vereadores discutiam política com eleitores de idades variadas, a maioria aparentando pertencer aos diversos estratos da classe média.

"Nós, políticos, devemos pedir desculpas para vocês", diz-se, a certa altura da conversa editada para TV, "porque a classe política, de fato, faz por merecer tudo isso que vocês falaram da gente".

A cúpula tucana, é provável, imaginou que cairiam em seu colo, por mera ação da gravidade, os votos dos desencantados com o estrondoso fracasso da administração petista. Entretanto o partido vê-se agora em canhestra tentativa de debate com um eleitorado que rejeita os líderes tradicionais.

A estes reservou-se a segunda metade da peça publicitária, na qual Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves discorrem sobre a necessidade de renovação —de práticas, sem a imprudência de falar em nomes.

Notou-se a ausência do prefeito de São Paulo, João Doria, ora atribuída a represálias dos caciques partidários, ora interpretada como estratégia para preservar a imagem da estrela emergente.

Para além dos efeitos da Lava Jato, é razoável supor que considerável parcela do desgaste do PSDB se deva a seu apoio explícito ao governo Michel Temer (PMDB) e a suas reformas polêmicas.

A respeito delas, mal se ouve uma palavra na propaganda tucana —que, espantosamente, tampouco trata do legado da legenda que ocupou o Planalto por oito anos e governa o Estado mais rico do país há mais de duas décadas.

Muito mais à vontade esteve o PMDB no programa levado ao ar no final de março, quase inteiramente dedicado à defesa da agenda do governo. Se a impopularidade de Temer parece irreversível, resta ao partido colher à frente alguns dos frutos da esperada recuperação da economia.

Ainda mais simples, dada a absoluta inexistência de alternativas, foi a escolha do PT, que dedicou seus dez minutos de televisão ao culto a Luiz Inácio Lula da Silva —filmado em seu maior reduto eleitoral, o Nordeste— e à memória dos programas sociais.

Nos principais partidos, o único nome bem colocado nas pesquisas de intenção de voto é o de Lula. Os 45% que o rejeitam, porém, são capazes de decidir a eleição de 2018. A Justiça ainda pode tirar o petista da disputa, que, nessa hipótese, torna-se ainda mais imprevisível.

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