quinta-feira, 11 de maio de 2017

Ex-presidente atribui a Marisa interesse pelo tríplex no Guarujá

Lula afirmou ter dito a Léo Pinheiro que apartamento tinha ‘500 defeitos’

Cleide Carvalho, Tiago Dantas e Silvia Amorim | O Globo

-SÃO PAULO E CURITIBA- Depois de negar ser dono do tríplex no Guarujá e de ter dito que achou “500 defeitos” no imóvel, que visitou em 2014, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu as decisões a respeito do apartamento à ex-primeira dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro passado. Afirmou que só falou sobre o apartamento duas vezes — a primeira em 2005, quando a ex-primeira dama comprou uma cota da Bancoop, a cooperativa que lançou o empreendimento, e a segunda em 2013, quando foi chamado pelo empresário Léo Pinheiro, então presidente da OAS, para conhecer o imóvel.

— Léo estava querendo vender o apartamento. E como todo e qualquer vendedor, quer vender de qualquer jeito. Não sei se o doutor já procurou alguma casa para morar, para saber como o vendedor quer fazer. E eu disse ao Léo que o apartamento tinha 500 defeitos — disse Lula.

O ex-presidente e Marisa visitaram o tríplex juntos, no início de 2014. A Moro, Lula disse que achou o apartamento inadequado e apontou defeitos, mas nunca pediu qualquer reforma à OAS, como a instalação de um elevador privativo. E assinalou que só soube depois que dona Marisa havia feito uma segunda visita ao local, em agosto de 2014:

— Eu nem sabia que teve essa visita, doutor. Eu não sei se o senhor tem mulher, mas nem sempre elas perguntam pra gente o que vão fazer. Dez ou quinze dias depois ela me relatou e disse que não tinha gostado. Ela já sabia que eu não queria o apartamento.

MENÇÕES À DONA MARISA
Lula contou ter dito a dona Marisa que ela não gostava de praia e, embora ele gostasse, achava o tríplex inadequado.

— O apartamento estava no nome da minha mulher. Eu tinha dito em fevereiro que não queria. Ela certamente pensava em fazer negócio se ela fosse ficar com o apartamento — afirmou.

As citações a Marisa Letícia causaram irritação em Lula. Após pergunta de Moro se ela havia relatado reformas no tríplex, o ex-presidente disse que não e, lamentavelmente, ela não estava mais viva para perguntar.

O ex-presidente não respondeu a diversas perguntas sobre o apartamento, justificando não ter conhecimento porque o negócio era tratado por sua ex-mulher. E chegou a pedir a Moro que evitasse citar o nome de Marisa Letícia no interrogatório:

— Deixa eu te dizer uma coisa. Eu ouvi falar desse apartamento em 2005, quando comprou, e fui voltar a ouvir falar do apartamento em 2013. Ninguém nunca conversou comigo. Eu não sabia que esse apartamento estava na OAS. Eu queria pedir uma coisa. É muito difícil para mim toda hora que o senhor cita a minha mulher sem ela poder estar aqui para se defender. Uma das causas que ela morreu foi a pressão que ela sofreu.

CONTRADIÇÃO SOBRE REPORTAGEM
O ex-presidente Lula foi questionado sobre reportagem do GLOBO que, em 2010, noticiou, pela primeira vez, que a família ocuparia uma cobertura tríplex no Guarujá. Moro quis saber como Lula explicaria o jornal ter feito tal afirmação em 2010. Lula reagiu com críticas ao GLOBO.

— Invenção e ilações fazem em qualquer momento. A verdade é a seguinte e vou repetir: eu não solicitei, não recebi, não paguei nenhum tríplex — afirmou o petista, que continuou: — Eu vou lhe explicar. O jornal O Globo nesse mesmo período fez 530 matérias negativas contra o Lula e só duas favoráveis. Só posso entender que alguém do Ministério Público em São Paulo, que não vou dizer o nome, fomentava a imprensa. Nós fizemos representação no Conselho do Ministério Público — disse Lula.

Moro, no entanto, lembrou-lhe que não havia nenhuma investigação ou processo aberto à época da reportagem.

Nas declarações finais a Moro, Lula disse estar sendo vítima “da maior caçada jurídica” contra um político brasileiro e que esperava que, no interrogatório, fossem apresentadas provas contra ele. Acusou a Lava-Jato de ter feito um “acordo com a imprensa” para condenar políticos e pessoas ricas e disse que ninguém sofre 10% dos ataques que ele recebe da imprensa. Afirmou ainda que, em função disso, seus netos sofrem bullying na escola “todo santo dia”.

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