segunda-feira, 8 de maio de 2017

Macron vence por ampla margem e barra avanço de onda populista

Centrista Macron é eleito presidente da França e traz alívio à União Europeia

Candidato do En Marche! derrotou por 32 pontos porcentuais a nacionalista Marine Le Pen, da Frente Nacional, que ameaçava deixar o bloco europeu

Andrei Netto | O Estado de S.Paulo

PARIS | Emmanuel Macron, de 39 anos, foi eleito neste domingo o novo presidente da França, barrando o avanço da onda populista que se propagou pelo Ocidente em 2016 e trazendo alívio à União Europeia. Apurados 100% dos votos, o ex-ministro da Economia centrista tinha 66,06% e sua rival Marine Le Pen – que ameaçava deixar a UE –, 33,94%. Ele assumirá o Palácio do Eliseu na próxima semana.

Em primeiro discurso solene, o novo chefe de Estado exortou os franceses à união nacional após a fragmentação eleitoral. Mas sua missão não será simples, diante do recorde de votos do partido de extrema direita Frente Nacional (FN) e da oposição de partidos de esquerda, que já convocam protestos.

A vitória de Macron significa uma página virada na vida política da França, pois encerra 36 anos de bipartidarismo no país. Presidente mais jovem da história, superando Louis-Napoléon Bonaparte, eleito aos 40 anos em 1848, o ex-ministro coloca pela primeira vez desde os anos 70 um líder de legenda independente no topo do Estado – o último havia sido Valery Giscard D’Estaing.

Vencedor do primeiro turno, com 23,9% dos votos, Macron contou com o apoio de quase todos os maiores partidos políticos da França em sua disputa contra Le Pen, cujo apoio de mais destaque foi o do sexto lugar da eleição, Nicolas Dupont-Aignan. Segundo estimativas, ele teria obtido 40% dos votos de seus rivais no primeiro turno Jean-Luc Melénchon e Fraçois Fillon. Mas, ao contrário de 2002, quando o xenófobo antissemita Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, foi ao segundo turno contra Jacques Chirac, a Frente Republicana – união de partidos de direita e de esquerda contra a extrema direita – demonstrou suas fissuras. O resultado de Macron, com seus 20 milhões de votos, foi 16% menor do que o de Chirac há 15 anos.

Ciente de que vai governar um país dividido em quatro tendências políticas, todos com cerca de 20% dos votos, Macron fez um pronunciamento solene em frente à pirâmide do Louvre, onde apelou pela unidade do país. Dirigindo-se aos eleitores de outros partidos, o presidente eleito afirmou que lutará contra “a divisão que nos mina e nos abate”. “Eu não os esquecerei. Colocarei todo o meu cuidado para ser digno de sua confiança.”

“Obrigado aos que votaram em mim sem ter nossas ideias. Sei que não se trata de um cheque em branco”, afirmou, prometendo que fará tudo que for possível para que os franceses “não tenham mais qualquer motivo para votar nos extremos”.

O novo chefe de Estado indicou qual será sua prioridade no início do mandato: a reforma política, que pressupõe medidas anticorrupção e de moralização, como o fim do nepotismo, e a redução do número de parlamentares. “A renovação da vida política se imporá desde amanhã (hoje). Com a moralização da vida pública, a vitalidade democrática será desde o primeiro dia o coração de nossa nação.”

Macron mencionou a luta contra o terrorismo como outra de suas prioridades, que incluem ainda as reformas econômicas e a reforma da União Europeia (UE). “Defenderei a França, seus interesses vitais e sua imagem”, ressaltou, mantendo seu discurso pró-Europa e pró-globalização. “Defenderei a Europa, porque sua civilização está em jogo. Trabalharei para restabelecer os vínculos entre a Europa e os cidadãos.”

Antes, Marine Le Pen fez um pronunciamento a seus correligionários em um restaurante na região metropolitana de Paris. Longe da multidão, a nacionalista evitou desferir ataques ao rival e anunciou a reforma do partido de extrema direita Frente Nacional, mesmo que a legenda tenha obtido um recorde histórico, com cerca de 10,6 milhões de votos. " Através deste resultado histórico, os franceses fizeram da aliança de patriotas a primeira força e oposição ", reivindicou a nacionalista.

Até o início de 2018, a FN, partido fundado pelo empresário xenofóbico e antissemita Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, deverá mudar de nome, refundar seu programa - até mesmo abandonando bandeiras históricas, como a ruptura com a União Europeia e o fim da zona do euro. Além disso, uma estratégia de alianças será colocada em prática, já que isolado o partido fracassa a cada tentativa de chegar ao poder. " Eu proporei uma transformação profunda em nosso movimento a fim de constituir uma nova força política que muitos franceses desejam ", disse Marine Le Pen.

Repercussão. No plano internacional, a vitória de Macron foi saudada também como a vitória da UE. Durante sua campanha, o novo presidente não hesitou em portar a bandeira azul estrelada do bloco, contrastando com Le Pen. Sem surpresas, o resultado na eleição da França foi comemorado em outras capitais, que celebraram o voto dos franceses a um candidato pró-Europa, barrando a onda populista que resultou em 2016 no Brexit, no Reino Unido, e na eleição de Donald Trump, nos EUA.

Através de seu porta-voz, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, saudou a vitória de Macron, a quem havia manifestado apoio. “Sua vitória é uma vitória para uma Europa forte e unida e para a amizade franco-alemã”, afirmou. Nos EUA, o presidente Donald Trump, que havia demonstrado simpatia por Marine Le Pen, parabenizou o novo presidente francês. “Congratulações a Emmanuel Macron por sua ampla vitória hoje (ontem)”, disse. “Estou ansioso para trabalhar com ele.”

Já o presidente brasileiro, Michel Temer, usou suas redes sociais para parabenizar Macron. “Brasil e França continuarão a trabalhar juntos em favor da democracia, dos direitos humanos, do desenvolvimento, da integração e da paz”, escreveu Temer, no Twitter.

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