quinta-feira, 18 de maio de 2017

Quem anda com porcos farelo come... | Ancelmo Gois

- O Globo

PSDB e PT, forjados na luta contra a ditadura e na defesa de valores sociais e éticos, ao chegarem ao poder, a partir de 2002, aliaram-se a esta ratatuia

Corrupção, a tragédia de uma geração. Eduardo Cunha sempre foi um salteador dos cofres públicos. Duvideodó que alguém que milite no andar de cima da política brasileira não soubesse desta verdade desde 2003, quando ele assumiu o primeiro mandato de deputado federal. Portanto, quem acoitou Cunha em Brasília — Temer foi só um deles — vendeu sua alma a um capo de uma organização criminosa.

Nesse sentido, as informações trazidas à tona pelo repórter Lauro Jardim são, ao mesmo tempo, bombásticas — afinal, estamos falando de um presidente da República — mas não chegam a surpreender, convenhamos. Pois é assim que esta gente do PMDB e de outras legendas da mesma laia toca a política brasileira há tempos.

Só que o mais grave disso tudo, acho, é saber que o PSDB e o PT, dois partidos forjados na luta contra a ditadura e na defesa de valores sociais e éticos elevados, ao chegarem ao poder, a partir de 2002, aliaram-se a esta ratatuia.

Sempre se pode dizer, com certa dose de razão, que, sem esta aliança com os safados, não se governa o Brasil. Mas o que era para ser “Presidencialismo de coalizão" — expressão criada pelo sociólogo Sérgio Abranches para explicar o fato de o sistema político lotear o governo entre vários partidos — virou, como disse certa feita, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, “Presidencialismo de safadeza”.

Só que a Lava-Jato tem mostrado é que muitos caciques petistas e tucanos — não são todos, claro —, no convívio com a gangue, aderiram à rapinagem.

Esta é, a meu ver, a nossa tragédia maior. A tragédia de uma geração, ou, como dizem os versos de Belchior, o músico que o Brasil perdeu dia desses, “Minha dor é perceber/Que apesar de termos/Feito tudo, tudo, tudo o que fizemos/Nós ainda somos os mesmos e vivemos/Como os nossos pais.”

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