sexta-feira, 26 de maio de 2017

Temer quer usar falta de consenso para substitui-lo e negociar 'sobrevida'

Marina Dias, Bruno Boghossian, Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto vai se aproveitar da falta de consenso em torno da sucessão de Michel Temer para negociar com aliados uma "sobrevida" ao governo, condicionada à aprovação das reformas e à retirada do peemedebista da cena política de 2018.

Nos últimos dias, auxiliares do presidente abriram diálogo com os principais articuladores de eleições indiretas, que seriam convocadas caso Temer seja cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no início de junho.

A avaliação é de que os movimentos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Sarney (PMDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estão "maduros" e que não haverá, nesses grupos, um acordo que permita a construção de um nome comum para a Presidência.

É na falta de entendimento de agentes –que Temer tem chamado de "conspiradores"– que o Planalto vai apostar para ganhar tempo e tentar recuperar musculatura para as votações no Congresso.

Desde a semana passada, quando foram divulgados os detalhes da delação da JBS que implicam Temer, partidos da base aliada e da oposição começaram a articular a substituição do presidente por eleições indiretas.

Eles entendem que a crise é incontornável, que o peemedebista não terá força política para aprovar a pauta legislativa e que a formação de um novo governo é o melhor caminho para a recuperação da estabilidade do país.

Temer, por sua vez, já sabe que, com baixíssima aprovação e sob investigação no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa, ele e o PMDB não terão condições de influenciar as eleições de 2018.

Sem capital político, o governo oferece agora a aliados, em especial o PSDB, a opção de fazer uma "transição responsável", nas palavras de um assessor de Temer, e com a possibilidade de os tucanos adotarem uma postura independente no ano final da gestão peemedebista.

Em troca da manutenção da coalizão para que o presidente complete seu mandato, ele promete finalizar a agenda de reformas, como a previdenciária e a trabalhista, e permitir que esse grupo dispute 2018 sem a necessidade de implantar medidas consideradas impopulares.

Auxiliares próximos a Temer têm conversado diariamente com os principais articuladores da possível sucessão do presidente via eleição indireta: Sarney, FHC, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) -os três últimos, inclusive, despontam como opções para assumir o Planalto.

Nas conversas, insistem que o governo não está fragilizado, que Temer não vai renunciar e que na Câmara há votos suficientes para barrar qualquer um dos 17 pedidos de impeachment que já existem contra o presidente.

Quem articula o pós-Temer dá como certa a cassação do peemedebista pelo TSE no julgamento marcado para 6 de junho. O Planalto, por sua vez, diz que pode protelar o processo com o pedido de vista de um dos ministros indicados por Temer: Admar Gonzaga ou Tarcísio Vieira.

Além disso, a equipe do presidente trabalha com uma série de recursos que podem ser apresentados no próprio TSE e no STF caso a defesa do seja derrotada. Nesse cenário, o presidente permaneceria no cargo até uma decisão final da Justiça.

O objetivo é ganhar tempo para tentar resistir à crise política e reforçar a tese de que é possível aprovar as reformas no Congresso.

DISCURSO
Com a estratégia em curso, Temer fez nesta quinta (25) um pronunciamento, divulgado nas redes sociais, para dizer que ainda tem condições de continuar no governo e aprovar as reformas.

No discurso, pregou que o país "não parou e não vai parar"."Continuamos avançando e votando matérias importantíssimas no Congresso Nacional", disse.

"O trabalho continua, vai continuar e temos muito a fazer e esse é o único caminho que meu governo pretende seguir: colocar o país nos trilhos. Portanto, vamos ao trabalho", completou.

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