quinta-feira, 25 de maio de 2017

Uso de Forças Armadas provoca confusão e briga entre deputados

Câmara tem xingamentos e empurrões à tarde e votações a jato à noite

Cristiane Jungblut, Catarina Alencastro | O Globo

-BRASÍLIA- De empurrões e xingamentos a votações desenfreadas como não se via há semanas, o plenário da Câmara passou ontem por extremos. Depois de bate-bocas e suspensões ao longo do dia, no início da noite a sessão foi retomada, e a oposição abandonou os trabalhos. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), aproveitou e fez o rolo compressor: colocou em votação sete medidas provisórias que estão para vencer na próxima semana e ainda pretendia votar outras.

Os ânimos estavam acirrados desde o início da tarde, quando deputados de PSOL, PT e PCdoB ocuparam a Mesa e cercaram a presidência gritando “Fora, Temer”, criticando a ação policial na Esplanada dos Ministérios e cobrando o encerramento da sessão. A sessão foi suspensa duas vezes, mas os parlamentares do governo insistiam em tentar votar algo. A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) era uma das mais exaltadas e se recusava a descer da Mesa. Já o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado do governo, tentava arrancar os cartazes da frente do presidente da sessão, André Fufuca (PP-MA).

O ápice do tumulto ocorreu no meio do plenário, após o governo anunciar que havia convocado as Forças Armadas para proteger a Esplanada, com vários deputados trocando empurrões e socos no ar. Os mais exaltados eram Paulo Pimenta (PT-RS), Glauber Braga (PSOL-RJ) e Reginaldo Lopes (PT-MG), que gritavam pelo encerramento da sessão. Eles brigavam com deputados como Major Olímpio (SDSP). Um dos parlamentares mais próximos do Planalto hoje, Carlos Marun (PMDB-MS) também ficou no meio da confusão.

O clima esquentou quando os discursos passaram a falar em “renúncia coletiva”. O empurra-empurra envolveu ainda os deputados Alessandro Molon (Rede-RJ), Valmir Prascidelli (PT-SP), Marco Maia (PT-RS) e outros.

— Encerra! Encerra! — gritavam deputados da oposição, começando a se engalfinhar com os governistas.

André Fufuca, que comandava a sessão, pedia: — Calma! Calma! — Não façam isso! — complementou outro parlamentar.

Enquanto os colegas se empurravam, Molon atravessava o bolo e olhava para Fufuca, gritando, aflito.

— Encerra (a sessão)! — pedia Molon, desesperado.

— A sessão está suspensa por dez minutos porque não há a menor condição — disse Fufuca, assustado e recebendo conselhos do experiente Nelson Marquezelli (PTB-SP).

“NÃO PODE TER ZONA”, DIZ MAIA
A confusão começou enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, havia se ausentado da sessão para ir ao seu gabinete, acompanhado do líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Diante do embate, Maia voltou e entrou correndo no plenário. A confusão recomeçou.

— Diz que foi tu (Rodrigo Maia) — gritava Paulo Pimenta.

— Eu já disse! — respondeu Maia, que depois esclareceu ter pedido apenas a Força Nacional e não o Exército.

— Mas ninguém acredita! Está no documento do Palácio — rebateu Pimenta.

— Calma! Calma! — pedia Maia e outros parlamentares.

— Vamos reorganizar, não pode ter zona. O Parlamento não pode passar essa imagem. A posição contra ou a favor é democrática, agora esse tipo de imagem não agrega nada para campo nenhum — completou Maia.

Após deixar o plenário, o PSOL apresentou um projeto para suspender a decisão da Presidência de convocar as Forças Armadas para a Esplanada. Depois de bate-boca e suspensões ao longo do dia, no início da noite a sessão foi retomada, e a oposição abandonou os trabalhos. Então, Maia começou a votar todas as MPs que trancavam a pauta.

— Que bom. Já vão tarde! Vamos aproveitar e votar a reforma da Previdência! — brincou um deputado governista quando o líder do PSOL, Glauber Rocha (RJ), avisou que a oposição deixaria a sessão.

A base aliada comemorava a “calmaria” no plenário. A oposição ficou irritada e, por volta de 18h30m, saiu em protesto ao uso das Forças Armadas pelo presidente Michel Temer.

— Vamos votar até as 23h, temos mais duas horas de sessão — avisava Rodrigo Maia.

A ideia era tentar aprovar outras MPs até tarde, inclusive com novo financiamento a empresas. As sete Medidas Provisórias tratavam dos mais diversos assuntos e algumas já haviam sido votadas até as 22h de ontem. A tranquilidade era completamente o oposto das brigas da tarde.

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