quinta-feira, 1 de junho de 2017

Alta do desemprego começa a perder força

Taxa vai a 13,6%, menor avanço desde 2015. Porém, em 12 meses, mais 2,6 milhões estão sem trabalho

Marcello Corrêa | Globo

A taxa de desemprego chegou a 13,6% em abril. Nos últimos 12 meses, mais 2,6 milhões ficaram sem trabalho. Analistas esperavam alta ainda maior. O desemprego está subindo mais lentamente no Brasil. A taxa de desocupação do trimestre encerrado em abril ficou em 13,6%, 2,4 pontos percentuais acima do índice registrado um ano anterior. Esse é o menor avanço da taxa, na comparação anual, desde outubro de 2015 — quando o indicador ficou 2,3 pontos acima do registrado um ano antes. Para se ter ideia, a taxa de abril do ano passado chegou a ser 3,2 pontos mais alta que a registrada no ano anterior — sinal de velocidade com que o desemprego crescia no país. Apesar do freio, a fila de desempregados continua grande: 14 milhões de brasileiros seguem à procura de vagas, mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, divulgada ontem pelo IBGE.

O resultado de abril veio abaixo do esperado por analistas, que projetavam alta para 13,8%. Dois movimentos chamam a atenção de economistas: o aumento menos intenso da população desocupada, o grupo dos que procuram emprego; e a queda mais moderada da população ocupada, isto é, aqueles que estão na ativa, seja como empregados, seja por conta própria.

Na comparação anual, o grupo de desempregados cresceu 23,1%, equivalente a 2,6 milhões de pessoas. O crescimento é alto, porém menor que o registrado em abril do ano passado, quando o salto foi de 42,1% que levou mais 3,3 milhões de trabalhadores para a lista do desemprego naquele ano.

Já a população ocupada continua a cair, mas esse movimento perdeu fôlego. A queda foi de 1,5%, frente ao recuo de 1,7% do mesmo período no ano passado. O número de brasileiros com algum tipo de ocupação está em 89,2 milhões, bem abaixo do ponto máximo da série histórica, em dezembro de 2014, quando 92,8 milhões de trabalhadores estavam na ativa.

Mas a dinâmica mais favorável do mercado de trabalho não chega a evitar que dramas como o de Dorcelino Silva, de 54 anos, em busca de emprego desde agosto de 2014. Ontem, ele era um dos que se aglomeravam em torno de uma folha de papel colada na parede da entrada do Sine Centro, que oferecia 16 vagas para dezenas de interessados.

Nascido em Minas Gerais, ele vinha emendando um trabalho no outro como auxiliar de manutenção em empresas e condomínios. Ter estudado até a 4ª série do ensino fundamental nunca foi empecilho para garantir trabalho. Até que veio a recessão e tudo mudou. Hoje, vive da ajuda financeira dos irmãos.

— É muito triste depender da boa vontade dos outros, por mais que sejam parentes. Eles vivem apertados também. Mas, depois de tanto tempo sem emprego, ou eles me ajudam ou sou despejado — lamenta o auxiliar, que mora sozinho em uma casa alugada em Coelho da Rocha, distrito de São João do Meriti.

Analistas se dividem sobre o que esperar do mercado de trabalho, mas concordam em relação à desaceleração do ritmo de piora.

— Claramente, o desemprego está em trajetória de desaceleração. É difícil avaliar se a taxa de desemprego parou de aumentar definitivamente. Nos nossos modelos, estamos esperando que ela pare de crescer no segundo trimestre — afirma José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio.

Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, é mais pessimista em relação a quando o país alcançará o fundo do poço no mercado de trabalho. Para ele, que esperava que a taxa subisse a 14% em abril, o desemprego continuará subindo até maio de 2018, quando alcançaria a marca de 14,9%. Daí, começaria a cair. Mas ele também destaca o cenário um pouco melhor: pelos cálculos da LCA, a taxa de desemprego, excluindo os efeitos sazonais, ficou estável em 13,2% em abril, estacionando pela primeira vez desde junho de 2014.

— No primeiro momento, diria que foi uma pausa nessa tendência de alta. Mas essa taxa, em nenhum momento, sinaliza que chegamos a um ponto de inflexão. Não indica que o desemprego vai cair, nem que vai ficar estável — avaliou o analista.

INDÚSTRIA: SINAL DE RECUPERAÇÃO
Para Bruno Ottoni, economista do Ibre/FGV, o desemprego continuará a subir até o terceiro trimestre, quando chegaria a 13,8%, para então começar a cair gradativamente a partir da segunda metade do ano. Ele destaca, no entanto, que a turbulência política deflagrada nas últimas semanas pode alterar esse cenário, caso afete o rumo das reformas econômicas propostas pelo governo.

— Quanto mais a gente se distanciar das condições dessas mudanças e desse conjunto de forças que foi posto para gerar essa recuperação, mais pode haver deterioração com relação a esse cenário base — avalia.

Parte do freio no desemprego em abril foi influenciada por um bom resultado da indústria, que foi a mais afetada pelo momento ruim do mercado de trabalho. Em relação ao último trimestre comparável, encerrado em janeiro, o número de empregados no setor aumentou 1,8%. Foi a primeira alta estatisticamente relevante no setor desde setembro de 2014. Na comparação anual, ainda há corte, mas muito menor: 220 mil vagas, contra 1,6 milhão a menos no ano anterior.

O coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, foi cauteloso ao analisar o comportamento da indústria, também destacando o peso que uma eventual influência da crise política pode ter sobre a atividade econômica nos próximos meses. Segundo o IBGE, 14,8% dos brasileiros empregados no Brasil estavam na indústria em 2012. Agora, esse percentual é de apenas 12,9%.

— Temos que ser cautelosos com esse resultado, aguardar o segundo trimestre do ano e confrontar com o primeiro, para ver se esse crescimento da indústria é só um soluço ou parte de um movimento consolidado — destacou Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE. O dado de desemprego foi divulgado na véspera da divulgação do resultado do PIB do primeiro trimestre, que será conhecido hoje. Ontem, no Rio, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, avaliou que o esperado crescimento da economia demonstraria sinal do fim da recessão. Sobre o dado do desemprego, o ministro afirmou que “veio dentro do esperado”.

Colaboraram Daiane Costa e Cássia Almeida

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