sexta-feira, 2 de junho de 2017

Doria e Alckmin pregam cautela sobre rompimento

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito paulistano, João Doria, ambos tucanos e potenciais candidatos à Presidência em 2018, adotaram posturas diferentes em relação ao encontro partidário convocado para segunda-feira pelo diretório estadual do PSDB para discutir a permanência da sigla no governo Michel Temer.

Os dois participaram ontem da abertura do "Latin America Safe City Summit 2017", um evento sobre tecnologia. Eles elogiaram a iniciativa do PSDB paulista em consultar suas bases e pregaram cautela e responsabilidade aos correligionários a fim de evitar "atitudes precipitadas. Alckmin, no entanto, disse que não participará do ato e que uma eventual decisão cabe ao diretório nacional. Já Doria afirmou que irá e defenderá a permanência da sigla no governo pemedebista.

Alckmin procurou ser comedido. "Essa [ficar ou sair do governo] não é uma decisão do Estado. Essa é uma decisão nacional. Acho que nós não devemos nos precipitar", afirmou o governador paulista ao ressaltar que outras questões, como o resultado do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), previsto para começar no próximo dia 6 de junho, podem influenciar ou determinar os rumos do PSDB daqui para frente.

Ao descartar sua participação no encontro e reduzir o papel do diretório estadual em um eventual desembarque do PSDB, Alckmin procura se desvincular do evento. Assim, conforme aliados, tenta evitar qualquer tipo de mal-estar com a cúpula tucana, que na segunda-feira à noite, em reunião com a presença de Temer, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), acertou o compromisso de votar pelas reformas e só depois tratar da sucessão presidencial.

Doria, por sua vez, não só confirmou presença no encontro partidário, como ressaltou que vai defender a continuidade do partido no governo Temer. "Não há problema em fazer a reunião. Ela é democrática e positiva. O diálogo no PSDB é altivo, construtivo, não é agressivo. Então, é útil e bom. Apenas entendo que não é hora de fazer o desembarque", disse o prefeito que, pouco antes, argumentou que "atitudes precipitadas, ainda que amparadas por pessoas sérias e dedicadas, como tem o PSDB, devem ser avaliadas com muito cuidado".

"Se não protegermos o Brasil, quem perde é a população, principalmente os mais fragilizados", alegou Doria. Apesar do esforço dos dois tucanos em afinar o discurso, com declarações em favor da responsabilidade e do equilíbrio com o país, a posição do prefeito evidencia as diferentes estratégias entre os dois grupos. Isso porque, entre os "cabeças brancas" tucanos, como são chamados os mais influentes caciques do PSDB, Alckmin é o que demonstra maior entusiasmo pelo desembarque imediato.

Coincidência ou não, a reunião do PSDB paulista foi convocada por um tradicional aliado do governador, o deputado estadual e presidente do diretório paulista, Pedro Tobias. A tendência no momento para o ato, conforme dirigentes tucanos, é pela ruptura com o governo Temer, o que deve reforçar a pressão feita pelos chamados "cabeças pretas" da sigla, como são conhecidos os parlamentares mais jovens que defendem a saída da base aliada.

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