sexta-feira, 2 de junho de 2017

O PIB reage, mas não passa firmeza | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

O presidente Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejaram nesta quinta-feira o que chamaram de “fim da recessão”. Mas estão comemorando vitória antes do fim do jogo. (Sobre os conceitos técnicos de recessão.

O primeiro avanço trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) em dois anos, aconteceu no primeiro trimestre de 2017. Foi de nada menos de 1,0% sobre o quarto trimestre do ano passado, em média mais do que o esperado pelos analistas. É, sim, excelente notícia, mas ainda não dá a taça para o capitão do time. E há pelo menos duas razões para pedir mais prudência nessa louvação.

A primeira delas é a alta concentração desse avanço em poucos setores da economia. O PIB cresceu até agora graças à força do agro (13,4%), pelo lado da oferta; e das exportações, pelo lado da demanda (4,8%). Não dá para dizer que o avanço da indústria (0,9%) foi uma ajuda relevante para garantir sustentação do PIB, porque a base de comparação é relativamente baixa e porque não há ainda tração no consumo das famílias (- 0,1%). Se o consumo está fraco, a criação de renda, que é a própria definição do PIB, também está fraca. Ou seja, o crescimento ainda é desigual, é saúde apenas das pernas e não dos pulmões e do resto.

A segunda razão são as novas incertezas impostas pela crise política, que têm potencial para nova onda paralisante. Qualquer um sente isso: quando começava nova disposição a consumir e a sair da toca, eis que saiu a divulgação do conteúdo da delação premiada dos irmãos Batista, da JBS, e tudo ficou tão bambo que levou todo mundo de volta para a retranca. O reconhecimento dessa nova safra de incertezas já é oficial, a despeito das cornetadas do Palácio do Planalto: foi o próprio Banco Central que, em documento do Copom, avisou nessa quarta-feira que as incertezas aumentaram com a crise política – e nisso, rejeita o ufanismo da dupla Temer-Meirelles, hoje empenhada em alardear que a economia está descolada da crise política.

Mas convém olhar para o limite oposto. Também não dá para garantir que esse crescimento seja apenas ponto fora da curva e que o segundo trimestre mostre novo recuo. Boa parte da renda do agronegócio ainda está para ser incorporada, a distribuição do FGTS das contas inativas ajudou muita gente a pagar as dívidas e abrir espaço para mais consumo e a indústria tem enorme capacidade ociosa que pode ajudar a faturar sem exigir novos investimentos. Os resultados deste trimestre e dos próximos dependem dos desdobramentos da crise política.

A amarração entre os destinos da economia e da política fica mais clara quando se olha para as contas públicas. Crise política é ameaça séria de deterioração do lado fiscal, até porque pode comprometer as reformas. Mais despesas públicas empurram a dívida para cima e tendem a desorganizar tudo.

Do ponto de vista da recuperação sustentável da economia e do emprego, o melhor que poderia acontecer agora seria a troca rápida de presidentes, com manutenção da atual política econômica.

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