sexta-feira, 2 de junho de 2017

PIB volta a crescer, mas crise política ameaça retomada

PIB cresce e governo diz que recessão acabou, mas analistas pregam cautela

O resultado veio das estimativas dos analistas, que previam expansão de 0,50% a 1,50%

Daniela Amorim, Fernanda Nunes e Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo

RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,0% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2016 e interrompe um ciclo de oito quedas trimestrais consecutivas, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda segundo o instituto, o PIB do primeiro trimestre do ano totalizou R$ 1,594 trilhão.

A alta é a maior nessa base de comparação desde o segundo trimestre de 2013. Naquele trimestre, o PIB cresceu 2,3% em relação ao primeiro trimestre de 2013. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, porém, o PIB registrou queda pelo 12º trimestre seguido. Ainda assim, a queda de 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2016 foi a menor desde o quarto trimestre de 2014, quando o recuo foi de 0,3% em relação a igual período de 2013.

O resultado foi comemorado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pelo presidente da República, Michel Temer (PMDB). Em nota, Meirelles afirmou que o País "saiu da maior recessão do século". No Twitter, o presidente disse que a alta é resultado das medidas que estão sendo tomadas.

O resultado veio dentro das estimativas dos analistas, que previam expansão de 0,50% a 1,50% para o PIB do período de janeiro a março em relação ao imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Para o PIB do primeiro trimestre em relação a igual período de 2016, sem ajuste, as previsões eram de retração de 1,20% a expansão de 0,65%

Grande parte da influência de crescimento, segundo analistas, está relacionada a fatores temporários como da safra recorde que irá impulsionar o PIB da agropecuária. Por isso, avaliam que o crescimento esperado para o primeiro trimestre não deve ser sustentável, sugerindo que a retomada será lenta e gradual, ainda mais neste momento de incerteza política, que deve minguar principalmente os investimentos.

Setores. O PIB da indústria subiu 0,9% no primeiro trimestre do ano na comparação com os três últimos meses de 2016, a maior alta desde o segundo trimestre de 2013, quando foi registrado 3,4% de crescimento. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, o PIB da indústria mostrou queda de 1,1%.

Na agropecuária a alta foi de 13,4% no primeiro trimestre de 2017 ante o quarto trimestre de 2016. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, o PIB da agropecuária mostrou alta de 15,2%.

Nos serviços, o PIB ficou estável em 0,0% na comparação com o trimestre anterior e caiu 1,7% na compração anual.

O consumo das famílias caiu 0,1% nos três primeiros meses de 2017 contra o último trimestre do ano passado. A queda foi a nona seguida mas, ainda assim, foi o melhor desempenho nessa base de comparação desde o quarto trimestre de 2014. Naquela ocasião, o consumo das famílias cresceu 1,3% em relação ao terceiro trimestre de 2014. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, a queda foi de 1,9%.

O consumo do governo completou dez trimestres sem crescimento, com queda de 0,6% no primeiro trimestre de 2017 contra o quarto trimestre de 2016. Ante o primeiro trimestre do ano passado, a queda registrada foi de 1,3%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 1,6% no primeiro trimestre de 2017 ante o quarto trimestre do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, a FBCF mostrou queda de 3,7%. Segundo o instituto, a taxa de investimento (FBCF/PIB) ficou em 15,6% no primeiro trimestre.


Exportações e importações. As exportações cresceram 4,8% no primeiro trimestre de 2017 na comparação com os três últimos meses do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, as exportações mostraram alta de 1,9%.

As importações contabilizadas no PIB, por sua vez, subiram 1,8% nos três primeiros meses do ano ante o quarto trimestre de 2016. Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, as importações mostraram alta de 9,8%.

A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços, e as variações porcentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Já na balança comercial, entram somente bens, e o registro é feito em valores, com grande influência dos preços.

Revisão. O IBGE revisou o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2016 ante o terceiro trimestre de 2016, de -0,9% para -0,5%. Também houve revisão nos dados do terceiro trimestre de 2016 ante o segundo trimestre de 2016, de -0,7% para -0,6%. A taxa do primeiro trimestre de 2016 ante o quarto trimestre de 2015 saiu de -0,6% para -1,0%.

Poupança. A taxa de poupança ficou em 15,7% no primeiro trimestre de 2017. Já a taxa de investimento ficou em 15,6% nos três primeiros meses do ano, segundo o IBGE.

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