sábado, 24 de junho de 2017

Prévia da inflação é a menor em dez anos

IPCA-15 tem alta de 3,52% em 12 meses. Preço das carnes cai 0,70% em junho

Lucianne Carneiro, Ana PaulaA Ribeiro, O Globo

RIO E SÃO PAULO - Com vários itens registrando queda, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, subiu apenas 0,16% em junho. Em 12 meses, o índice acumula alta de só 3,52% — o menor patamar em 10 anos. Os grupos de alimentos e transportes, que respondem por quase metade do IPCA-15, tiveram deflação. Os preços de alimentos recuaram 0,47% — com queda ainda mais intensa entre os que são consumidos em casa (-0,83%) — e os de transportes, 0,10%.

O preço das carnes teve deflação de 0,70%, como reflexo de uma maior oferta devido à crise da JBS. Houve recuo de preços em vários cortes, como filé mignon (-0,65%), chã de dentro (-1,13%), pá (-1,57%), acém (-1,80%) e lagarto comum (-0,88%). Por outro lado, os grupos que pressionaram para cima a inflação foram habitação — com alta de 0,93%, puxada pela variação de 2,24% da energia elétrica — e saúde e cuidados pessoais, que subiu 0,64%.

Analistas acreditam que, no resultado fechado de junho, o IPCA, que é o índice usado nas metas de inflação do governo, ficará negativo. Ontem, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) reduziu sua projeção para o IPCA deste mês, de de -0,12% para -0,17%.

Nas previsões do Itaú, o IPCA ficará negativo em 0,15% este mês. Se no IPCA-15 os preços da energia subiram, no resultado fechado do mês, segundo o Itaú, deverá haver queda das tarifas, graças ao acionamento da bandeira verde no início do mês, que ocorre quando os reservatórios das hidrelétricas estão cheios, gerando eletricidade mais barata. O alívio na conta de luz ocorreu após dois meses seguidos de bandeira vermelha, quando há cobrança de sobretaxa. O Itaú prevê ainda que os preços de alimentos in natura e carnes devem continuar em queda.

Em relatório a clientes, a corretora Coinvalores destacou que o resultado de 3,52% acumulado em doze meses do IPCA-15 reforça a avaliação de que “a trajetória para o índice oficial de inflação no país é de arrefecimento e convergência para o centro da meta (4,5% ao ano) do Banco Central, o que neste ano não deverá ser muito difícil de acontecer”. Ontem, em seu relatório de inflação, o BC revisou para baixo sua previsão para o IPCA este ano, para 3,8%.

Em evento ontem na Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), em São Paulo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, citou a queda da inflação como um exemplo de que a economia já dá sinais de melhora. Meirelles mencionou ainda o crescimento do consumo do setor privado, a melhora dos índices de confiança e a redução do nível de endividamento das famílias e empresas como sinais de recuperação da economia.

— A queda da inflação já está levando a um aumento do poder de compra em valores reais. Além disso, a taxa de desemprego já deu uma equilibrada. Não está subindo como estava no ritmo anterior. Vamos aguardar a evolução dos dados econômicos, mas não seria surpresa se começasse a cair (o desemprego) a partir do meio ou final do terceiro trimestre — avaliou.

Sobre o crescimento da economia brasileira este ano, Meirelles mantém uma projeção de 0,5%, mas afirma que no quarto trimestre a expansão estará em 2,7% na comparação anual.

O ministro voltou a defender a continuidade das reformas econômicas e afirmou que elas estão avançando no Congresso. Ele avaliou ainda que a crise política vai ser superada porque as instituições estão funcionando. Em relação à reforma da Previdência, afirmou que as mudanças são necessárias para garantir o pagamento das aposentadorias no futuro. Ele lembrou que a proposta, do jeito que está na Câmara, mantém 75% da economia do projeto original do governo, mas que os parlamentares podem fazer novos ajustes.

— Recebi uma carta de um cidadão dizendo que não gostava de trabalhar e queria se aposentar. E me perguntou por que ele não poderia se aposentar aos 53 anos. Por mim, todo brasileiro poderia se aposentar com 50 anos, mas o problema é que quem vai pagar isso é a população. Há o risco, de se isso acontecer, o país chegar a insolvência — disse.

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