quarta-feira, 14 de junho de 2017

Tasso aguarda decisão judicial sobre Aécio para atuar

Por Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), na próxima terça-feira, de recursos envolvendo o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) será o ponto decisivo na definição dos rumos do PSDB no futuro próximo. O colegiado irá decidir, de um lado, sobre o pedido de prisão feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e, de outro, o agravo que o tucano ajuizou para tentar retomar suas atividades legislativas.

Há no PSDB a percepção de que o partido está "travado" pela indefinição da situação de Aécio. Isso ficou claro na reunião da cúpula dos tucanos anteontem, em Brasília. Muitas reclamações foram feitas, em especial mais reservadamente, de que apenas pensando em seu próprio benefício, Aécio fez forte pressão para o partido não deixar a base do governo de Michel Temer. Vários integrantes do partido ficaram incomodados com o que consideram uma ação indevida do presidente da sigla, afastado das funções desde que apareceu em grampos no âmbito da delação do grupo JBS.


Só que tudo pode mudar a partir de terça. Se o Supremo determinar a prisão de Aécio, o Senado será chamado a chancelar ou rejeitar a decisão. Caso vá preso, haverá pressão para que o ex-presidenciável deixe o partido, sob pena de contaminar todo o PSDB.

"Esse é talvez o momento mais grave da vida do nosso partido. Nós não estamos falando para as pessoas. Perdemos a conexão com a população. Temos que mudar". A fala do presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), foi feita ontem a seus pares na reunião da Executiva nacional. Nela, Tasso buscou ao mesmo tempo fazer um diagnóstico e dar uma sinalização para o futuro. Para os chamados "cabeças-pretas", ala mais jovem da sigla e que defendia o rompimento com Temer, Tasso procurou mostrar que estaria ciente de que os tucanos precisam de se reinventar, em meio ao cenário de descrença da população em relação às siglas tradicionais.

Tasso quer mudar o PSDB. Recebeu diversas sinalizações de que, se Aécio sofrer um revés na justiça, ele receberá aval para se tornar presidente em definitivo. Em contrapartida, tem oferecido aos correligionários a ideia de um comando mais plural e da modernização das teses partidárias. Ideias que agradam os mais jovens, que chegaram a acenar com uma debandada.

Um argumento que balançou alguns dos presentes na reunião foi de Ricardo Ferraço (ES). Senador, mas "cabeça-preta", ele avaliou que o PSDB não tem o que ganhar ao manter até 2018 a aliança governista: se a situação do governo melhorar muito, o que é improvável, o PMDB terá candidato. Se piorar ou continuar como está - o que considera mais provável -, a aliança com o PMDB será tóxica ao PSDB.

Líder da bancada na Câmara, Ricardo Tripoli (SP) tem segurado os "cabeças-pretas" com o argumento de que, resolvido o caso Aécio, Tasso tocará de outra forma a legenda. E ele já tem tentado fazer isso, recebendo em seu gabinete com frequência os deputados jovens para conversar, algo que, alegam, não acontecia com Aécio. A mudança foi bem vista.

Enquanto isso, o Senado ainda se vê às voltas com os termos do afastamento de Aécio. Presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) afirmou que a Casa aguarda esclarecimentos do Supremo Tribunal Federal (STF). Há quase um mês, o STF determinou que Aécio fosse afastado das funções. O nome do tucano, contudo, permanece no painel de votação e na lista de senadores em exercício. Seu gabinete tem funcionado normalmente, o que levou o relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello, a criticar o Senado.

"A decisão do ministro Edson Fachin foi liminarmente cumprida. Mas não tem previsão constitucional sobre o afastamento pela justiça. Cabe ao STF determinar a forma e eu cumprirei a decisão complementar", afirmou Eunício ao chegar ao Congresso.

Mais tarde, Eunício informou que teve encontros com Cármen Lúcia e Fachin. E procurará o ministro Marco Aurélio Mello. O Senado enviou ainda uma certidão ao STF atestando que Aécio está afastado desde 18 de maio. (Colaborou Luísa Martins)

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