sexta-feira, 9 de junho de 2017

Temer busca base para ‘sobreviver’

Já contando com a vitória no TSE, o presidente Temer trabalha para ter mais do que os 172 votos necessários na Câmara para impedir a abertura de processo contra ele no STF

Temer tenta montar ‘base de sobrevivência’

Com sinais de que TSE o absolverá, presidente busca ao menos 220 votos na Câmara para evitar processo no STF
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Cristiane Jungblut, Maria Lima | O Globo

BRASÍLIA- Confiante na sinalização de um desfecho positivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente Michel Temer passou a centrar esforços na tentativa de montar uma base de sobrevivência na Câmara para se proteger de eventual denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, baseada na delação do empresário Joesley Batista, da JBS. Temer está formando um núcleo duro de aliados na Câmara e tentando atrair os chamados partidos do centrão, como PP, PTB e PR. O presidente quer ter uma base mínima de 220 votos para barrar a aprovação, pela Câmara, da acusação a ser feita por Janot, além dos pedidos de impeachment já protocolados contra ele na Casa. Ele precisa, regimentalmente, de 172 votos para evitar a aprovação da acusação.

O mapa de apoios vem sendo checado diariamente por Temer, ministros e alguns deputados próximos ao governo. Embora tente um número maior de votos, o fato é que o Palácio do Planalto se contenta em garantir apoio de aproximadamente 200 deputados diante da ameaça da debandada do PSDB. Aliados contabilizam que, com todo o desgaste, o Palácio do Planalto teria hoje garantidos de 220 a 250 votos.

O comportamento entre aliados foi dúbio ontem. Se, de um lado, havia alívio com a sinalização favorável a Temer da maioria dos ministros do TSE, do outro permanecia a preocupação com a posição a ser tomada pelo PSDB. Os mais experientes não acreditam num rompimento total, mas admitem que há pressão nesse sentido. O PSDB se reúne na segunda-feira para bater o martelo.

— Se o PSDB sair, ninguém sabe o que vai acontecer — disse outro fiel aliado.

O temor é de uma contaminação da base aliada. Afinal, a ex-presidente Dilma Rousseff também afirmava ter sustentação sólida, que ruiu com o desenrolar do processo de impeachment. Cinco meses antes de Dilma ser afastada do cargo com a abertura do processo de impeachment, o então chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, dizia que o governo teria metade dos deputados ao seu lado e ainda ironizou, em entrevista: “Se nós não tivermos pelo menos 172 votos para barrar (o impeachment), então vamos para casa porque não tem musculatura política”.

Acuado e alvo de nova denúncia a cada dia, Temer tem esse mesmo temor. Aliados do presidente repetem hoje a declaração de Wagner de que, se o presidente não tiver 172 votos de apoio, é melhor deixar o governo.

Temer aposta em sua relação com os deputados, principalmente com os do chamado baixo clero, para garantir sua continuidade no cargo. Ele também aposta em uma irritação do Congresso com o que qualifica como “abusos” do Ministério Público, inclusive na prisão de parlamentares e ex-parlamentares. A Constituição determina que a abertura de processo seja autorizada pela Câmara, por dois terços dos deputados, ou seja, 342 dos 513 deputados.

— Temer quer ter o maior número de votos, não apenas os 172, para mostrar força neste momento — disse um interlocutor do presidente.

Temer tem recebido deputados, aprovado pacote de bondades e usado nomeações no Diário Oficial. Para demonstrar força, um número ideal seria o de cerca de 300 deputados. A aliados, o presidente disse que “não há chances” de a Câmara aprovar abertura de processo por crime penal ou mesmo impeachment, por crime de responsabilidade.

A possibilidade de rompimento do PSDB com o governo Temer na próxima segunda-feira levou o comando do PMDB a se reunir ontem pela manhã. Peemedebistas deixaram claro para o comando tucano que, se houver o desembarque, o PMDB não irá apoiar um candidato tucano em 2018 ou em uma eleição indireta, caso Temer seja afastado antes do fim de seu mandato. Irritada, a cúpula tucana devolveu, avisando que a ameaça “foi um tiro no pé”, “um gol contra” que só irritou ainda mais a bancada de deputados do PSDB que pressiona pelo rompimento.

AMEAÇAS ENTRE PMDB E PSDB
A quebra da aliança entre os dois principais partidos que dão suporte à coalizão de Temer pode complicar também a situação do senador Aécio Neves (MG) no Conselho de Ética do Senado, que é dominado pelos peemedebistas. Um dos caciques peemedebistas disse ao GLOBO que Aécio “foi jogado fora” pelos tucanos no primeiro dia.

O recado que mais irritou os tucanos foi mandado pelo presidente do PMDB e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). Em declaração ao jornal “Folha de S.Paulo”, Jucá disse que, “se o PSDB deixar hoje a base, vai ficar muito difícil de o PMDB apoiá-los nas eleições de 2018. Política é feita de reciprocidade”.

— Acho que ameaças não ajudam no entendimento entre partidos, ainda mais quando vêm do presidente de partido e homem de confiança de Temer — reagiu o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP).

O PMDB também não engoliu o fato de os advogados do PSDB continuarem sustentando no TSE o pedido de cassação de Temer. À tarde, no entanto, Jucá tentou minimizar a crise e informou que conversou com o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), “em um encontro amistoso”.

— Com ameaças, o PMDB está provocando um efeito inverso e irritando ainda mais os deputados e senadores que pregam o desembarque — rebateu um integrante da Executiva nacional do PSDB com direito a voto na reunião de segunda-feira.

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