quinta-feira, 15 de junho de 2017

'Temer precisa comprovar inocência para ter autoridade', diz Tasso

Talita Fernandes, Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Defensor da saída do PSDB do governo, o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), diz que o presidente Michel Temer precisa "comprovar sua inocência" rapidamente para reconquistar autoridade na crise política aberta pelas acusações feitas na delação da JBS.

Em entrevista à Folha, o senador tucano insiste que o PSDB deve desembarcar do governo para mudar um sistema político que considera "podre". Embora o partido tenha decidido, em reunião na segunda (12), manter o apoio a Temer, Tasso diz que a sigla segue discutindo o possível rompimento.

Para ele, é um "delírio" e um "erro" decidir apoiar ou não o governo Temer pensando em aliança para 2018.
*
Folha - Como o PSDB vai se posicionar em relação à denúncia que deve ser oferecida contra Temer?

Tasso Jereissati - A crise não vai se aprofundar apenas por causa da decisão eventual da PGR. Estamos vivendo um sistema político que apodreceu e morreu. A corrupção que era de batedor de carteira virou de quadrilhas internacionais.

A Câmara precisaria autorizar um processo contra Temer. Qual será a posição do PSDB?

Não há decisão, mas com certeza os deputados vão agir como juízes e votar de acordo com sua consciência, não de acordo com orientação.

Se o sistema político está podre, por que o PSDB continua num governo desse sistema?

Ninguém falou em romper com o governo Temer, em entrar na linha do PT. Estamos dentro desse sistema que apodreceu e a saída só se dará por meio de reformas. Estar dentro do governo significaria continuarmos dentro de um sistema que temos que mudar. Não temos condições éticas e morais para tentar mudar isso estando no governo.

O sr. quer dizer que a decisão do partido –de permanecer no governo– não é adequada?

Ficar no governo em si é detalhe. O que é importante é que precisamos fazer uma autocrítica profunda, reconhecer que a população não aguenta mais o que está aqui.

O sr. continuará defendendo que o PSDB saia do governo?

Sim, mas isso não é pedir "Fora, Temer", não é pedir o impeachment. Eu acho difícil que o presidente saia.

Temer tem condições éticas de continuar governando?

Não tenho condições de dizer se ele é culpado ou não, mas tenho condições de dizer que, praticamente com todo o seu gabinete preso, processado ou pego em flagrante, e as próprias gravações com ele, ele precisa muito rapidamente comprovar sua inocência para ter autoridade suficiente para levar esse momento difícil.

O presidente se recusou a responder a perguntas da PF...

Não vou julgar cada ato do presidente. É preciso reconquistar credibilidade. Quanto mais rodeios e omissões, mais essa falta de credibilidade vai se aprofundar.

Em que momento o PSDB vai precisar reavaliar seu apoio?

A reavaliação já está sendo feita. Estamos atrasados.

O sr. diz que o PSDB não quer "Fora, Temer", mas quer recorrer da decisão do TSE que o livrou da cassação.

Demos início a esse processo, passamos anos no microfone dizendo que a eleição foi financiada por corrupção com dinheiro público. Então, vamos recorrer, sim.

Mas esse recurso pode ter um efeito prático, que é a cassação do presidente.

Se a Justiça chegar à conclusão de que houve [abuso], que se cumpra a lei.

A preocupação eleitoral influenciou a decisão do PSDB de ficar no governo e preservar uma aliança com o PMDB?

Quem tiver alguma atitude pensando na eleição de 2018... Não é um sonho, é um delírio.

Seu nome surgiu em articulações para suceder Temer em caso de eleição indireta. O sr. pretende se candidatar?

Eu seria irresponsável se colocasse isso em pauta.

A delação da JBS atingiu em especial o PSDB dado o envolvimento do senador Aécio Neves. Ele deve deixar o partido?

Ele tem direito de defesa. Ele se afastou, está vivendo momentos muito difíceis, principalmente com a prisão da irmã dele, que, a meu ver foi uma brutalidade –como eu acho que uma série de abusos também foram feitos.

A Lava Jato comete abusos?

A Lava Jato está fazendo um trabalho excepcional, colocando a nu toda essa podridão do sistema político. O problema é que no meio disso, não só na Lava Jato, existem abusos.

É preciso impor limites?

Há excesso de interferência do Ministério Público e do Judiciário no Legislativo e no Executivo. Mais do que isso, essas prisões... Sou a favor da delação premiada. Sem ela, não teríamos descoberto uma porção de coisas, mas a questão da JBS, preparar delação em troca de esquecer pecados de 30 anos, é um acinte.

Muitos tucanos dizem que Aécio foi vítima de uma armadilha. O sr. concorda?

Uma pegadinha, com certeza. Foi montado. Agora, isso não o inocenta totalmente, porque foi montada uma armadilha e ele caiu. Tem que averiguar quais as razões que teve para ele cair –e é disso que ele está se defendendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário