segunda-feira, 31 de julho de 2017

Oposição tenta definir estratégia comum para votação

Objetivo é retardar quorum para a sessão e expor governistas ao desgaste de defender presidente

Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- A oposição se reúne amanhã, um dia antes da votação na Câmara da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, para tentar alinhavar uma estratégia comum. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) defende que os oposicionistas estejam na Câmara na quarta-feira, data marcada para análise da peça apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), mas sem registrar presença em plenário até que a base governista tenha quorum suficiente para iniciar a sessão. Desta forma, acredita Molon, a oposição evitaria fazer o jogo político do governo, que prefere a instalação da sessão com um quorum baixo.

Apenas um grupo de 10 a 20 parlamentares da oposição seria escalado para discursar na tribuna a favor do prosseguimento da denúncia, marcando posição. Para que a acusação da PGR siga adiante, são necessários 342 votos a favor do processo. Para o deputado da Rede, a oposição deveria comparecer à sessão quando o governo conseguir colocar pelo menos 300 aliados em plenário.

— As oposições não devem fazer o jogo do governo e facilitar a instalação de uma sessão com quorum baixo, porque isso vai permitir que os parlamentares favoráveis a Temer se escondam através de suas ausências e, ainda assim, o ajudem. Estaremos presentes no salão verde, mas sem registrar presença em plenário. Considero um erro tático registrar presença com menos de 300 deputados governistas — afirma Molon.

APOSTA NA PRESSÃO DA SOCIEDADE
O deputado defende que, mesmo que a oposição não consiga alcançar os 342 votos nesta sessão, os deputados que votarem para salvar Temer ficarão expostos à opinião pública, o que poderia levá-los a modificarem suas posições nas próximas denúncias de que o presidente deve ser alvo. A expectativa é que integrantes de Rede, PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, Podemos, além de alguns do PSDB e até mesmo do PMDB e de outros partidos da base estejam afinados com esta estratégia.

— Se não conseguirmos alcançar, nessa primeira denúncia, os 342 votos necessários, a exposição dos deputados ao lado de Temer vai levar à pressão da sociedade sobre eles, o que tende a modificar seus votos na votação na segunda denúncia. É uma questão de transparência e tática — aposta Molon.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), as mobilizações contra Temer devem ajudar a pressionar deputados a votarem pelo prosseguimento da denúncia. Para Chico, os parlamentares estão mais preocupados em manter seus mandatos do que em salvar o presidente:

— Se Temer está empenhado na batalha pela sobrevivência no fim da carreira, até como pato manco, seus defensores pensam na reprodução dos mandatos, inclusive como proteção a investigações. Quantos vão querer se vincular, com o voto pelo engavetamento da primeira denúncia, à desconfiança de 87%, à reprovação de 83% e à desqualificação como ruim ou péssimo de 70% da população?

Segundo Chico, na reabertura dos trabalhos legislativos, o PSOL e outros partidos farão a sua parte, e o desgaste de defender Temer publicamente será explicitado.

— Governista que canta vitória sabe que ela, se vier, terá a firmeza de uma estaca no brejo. No dia 2 de agosto haverá mobilização em muitas cidades brasileiras, e as atenções estarão voltadas para os deputados em Brasília. Mesmo sem o púlpito que o hoje presidiário Eduardo Cunha montou em 17 de abril de 2016 (dia da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ), cada um terá o microfone para proferir seu voto e se submeter ao julgamento da cidadania — afirma Chico.

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