terça-feira, 18 de julho de 2017

Planalto atua para conter dissidência no próprio PMDB

Luiza Franco, Daniel Carvalho, Angela Boldrini, Gustavo Uribe, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Planalto atua para evitar dissidência expressiva na base governista, inclusive no próprio PMDB, na votação da denúncia contra o presidente Michel Temer.

O comando do partido calcula que ao menos oito deputados do partido de Temer podem ficar contra o presidente quando a denúncia for a voto no plenário da Câmara, o que representa mais de 10% dos 63 deputados da bancada.

Para derrotar o peemedebista e permitir que o STF (Supremo Tribunal Federal) aceite a denúncia da Procuradoria-Geral da República, a oposição precisa dos votos de 342 dos 513 deputados.

A votação está marcada para 2 de agosto, na volta do recesso parlamentar.

Na semana passada, a cúpula peemedebista ameaçou suspender eventuais rebeldes por três meses das atividades partidárias, inclusive afastando-os das comissões que integram. Em última instância, o conselho de ética do partido pode determinar a expulsão desses peemedebistas.

Pelas contas, Temer tem no PMDB 55 votos garantidos. Dos outros oito, dois são dados como irreversíveis: Sergio Zveiter (RJ) e Jarbas Vasconcelos (PE).

Zveiter apresentou na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, na semana passada, parecer favorável ao prosseguimento da denúncia, mas foi derrotado.

Jarbas já declarou voto contra o presidente. "Mantenho meu voto com ou sem ameaça". "Sou fundador do MDB e do PMDB. Talvez estes que estejam querendo punir tenham chegado agora no partido."

No levantamento dos peemedebistas, estão indecisos Pedro Paulo (RJ), Celso Pansera (RJ), Laura Carneiro (RJ), José Fogaça (RS), Osmar Serraglio (PR) e Veneziano Vital do Rego (PB). Este último já declarou em enquete da Folhaque vota contra Temer.

Integrantes do partido avaliam que o posicionamento da bancada do Rio se deve à vontade que eles têm de deixar a sigla diante do desgaste do PMDB fluminense, ao qual pertencem quadros como o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-governador Sérgio Cabral, ambos presos.

Embora se diga indecisa, a deputada Laura Carneiro afirma que sua decisão não será influenciada por ameaças. "Já havia sido dito que essa seria uma questão de foro íntimo", afirmou. Pedro Paulo chegou a dizer à Folha que votaria a favor do governo, mas agora diz que quer estudar a denúncia. Celso Pansera não quis declarar voto.

Cícero Almeida (AL), ligado ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que rompeu com o governo, também não decidiu como vai se posicionar. Assim como os outros "independentes" do partido, Almeida se disse incomodado com o fechamento de questão. "Vai ser feio para o PMDB. Acho que seria um ato covarde do presidente Michel Temer, que eu respeito pela sua história."

ESPERA
Com a expectativa de virar votos para a decisão final, o presidente decidiu segurar retaliações a infiéis e trocas ministeriais para depois da votação em plenário. O peemedebista avaliou que, diante do momento delicado, o Planalto deve continuar negociando mesmo com aqueles que votaram pelo prosseguimento da acusação na CCJ.

Temer informou a ministros tucanos que não pretende, pelo menos por enquanto, retirá-los do cargo. O presidente acredita que o partido seguirá na base caso a denúncia contra ele por corrupção passiva seja barrada.

A mesma postura deve ser adotada para os comandos de Cultura e Transparência, atualmente ocupados por interinos. A avaliação é de que ambas são pastas sensíveis para uma troca em momento de turbulência política.

Nas palavras de um auxiliar presidencial, uma escolha questionável pode gerar protestos de artistas e de servidores, gerando mais desgaste para o presidente.

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