segunda-feira, 3 de julho de 2017

Procuradores apostam em boa transição; Raquel monta time linha-dura

Para colegas próximos, futura procuradora-geral não vai desacelerar investigações

Chico Otavio, O Globo

A transição de Rodrigo Janot para Raquel Dodge na chefia da Procuradoria Geral da República pode surpreender. Colegas próximos a ambos apostam que nem Janot apressará as denúncias da Lava-Jato, principalmente as derivadas das delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, nem Raquel desencadeará uma operação desmonte, desacelerando as investigações. Quem convive com Janot está convencido de que ele não correrá o risco de desgastar a imagem. Prefere sair como vitorioso do que se expor a uma eventual rejeição de denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) ou no Congresso por inépcia.

Ao anunciar de imediato a escolha de Raquel Dodge, a segunda colocada na lista tríplice, o presidente Michel Temer antecipou o processo de transição. A manobra serviu a interpretações de que Temer pretendia constranger Janot, travando as investigações. Porém, a futura procuradora-geral da República não apenas declarou publicamente apoio à Lava-Jato, como tem entre os principais aliados colegas considerados “mãos pesadas”, implacáveis em denúncias contra esquemas criminosos, como os procuradores regionais Raquel Branquinho e Alexandre Espinosa.

PROCURADORA COLECIONA DESGASTES
A dicotomia entre Janot e Raquel não ameaçaria a arena onde o Ministério Público Federal trava a sua guerra contra a corrupção. A questão, segundo colegas que a conhecem bem, é de temperamento. Por ser extremamente centralizadora, colecionou desgastes por onde passou. Um colega lembra que, de seus oito adversários no recente processo eleitoral, só dois a parabenizaram publicamente após a escolha de Temer. Mas isso não autoriza os críticos a fazer previsões pessimistas sobre o futuro da Lava-Jato, sob seu comando.

Para trazer aliados como Raquel Branquinho, Alexandre Espinosa e Alexandre Camanho, expresidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, para a futura administração, como certamente pretende, Raquel terá de moderar o temperamento e aceitar as diferenças.

Se ocorrer alguma medida restritiva, certamente atingirá o tamanho das equipes alocadas nas investigações do escândalo iniciado na Petrobras. Raquel Dodge quer se convencer da quantidade de pessoas mobilizadas, principalmente as que estão cedidas de outros estados, recebendo diárias a um custo elevado para o orçamento do Ministério Público Federal. Acredita que há outros campos de atuação dos procuradores da República que podem se prejudicar com as cessões, mas não haverá mudanças imediatas.

No gabinete de Janot, embora ainda restem dois meses e meio de mandato, o clima é de fim de festa e certa frustração, provocada pelas derrotas mais recentes, como a devolução de Aécio Neves ao Senado, e outras mais antigas, como a demora do Supremo em decidir-se sobre a denúncia contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

A atmosfera, contudo, não faz justiça ao histórico de sucessos de Janot desde a primeira denúncia no âmbito da Lava-Jato, contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e a ex-deputada Solange Almeida, ambos do PMDB do Rio. Para os aliados, Janot deve assinar o que estiver maduro e deixar o restante sem temor para a sucessora.

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