segunda-feira, 10 de julho de 2017

PSDB se reúne para decidir se deixa governo

Tucanos avaliam que relatório favorável à aceitação da denúncia contra Temer seria gota d’água para saída

Silvia Amorim, O Globo

-SÃO PAULO- Com visões desencontradas sobre o rumo que o PSDB deverá tomar em relação ao governo do presidente Michel Temer, lideranças do partido se encontram hoje em São Paulo para uma nova tentativa de construir um consenso interno e, assim, estancar a sangria da legenda. O encontro, de iniciativa do governador Geraldo Alckmin, terá a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, e do prefeito João Doria. Ele acontecerá no mesmo dia em que está prevista a divulgação do relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer.

Uma posição de Zveiter favorável à abertura de investigação contra o presidente no Supremo Tribunal Federal, avaliam tucanos, poderá ser a gota d’água para o PSDB deixar o governo. Preocupado com uma decisão nesse sentido, Temer procurou ontem ao menos um dos governadores tucanos convidados por Alckmin para o encontro em São Paulo. O peemedebista pediu apoio para manter a sigla no governo. Marconi Perillo (GO) foi o único governador a confirmar presença até ontem à noite.

Há cerca de um mês e meio, Alckmin, FH, Doria e Tasso estiveram reunidos na capital paulista para discutir a mesma questão. Na época, eles concordaram, mesmo indo contra a ala do partido que já pregava o desembarque, que era preciso manter o apoio a Temer para garantir as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso. De lá para cá, a crise política se agravou, e a pressão pelo fim do apoio a Temer tem beirado o insustentável no PSDB.

O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), afirmou ontem que há uma tendência majoritária para sair do governo e votar pela aceitação da denúncia contra Temer.

— A cada dia tem mais ingredientes. Hoje, de forma majoritária, a bancada pretende sair do governo e votar a favor da denúncia. Uns até ficam chateados, mas, como líder, eu tenho que refletir a maioria da bancada — diz Trípoli.

Ele afirmou que a reunião de hoje é mais um passo dentro do que ficou acertado: manter um monitoramento constante sobre a evolução da situação do governo. Há a expectativa também de decisão sobre se haverá uma convenção para substituir o senador Aécio Neves (MG) na presidência da legenda.

Sinal de que a pressão pelo desembarque cresceu no PSDB foram declarações dadas na semana passada por caciques da legenda, como Tasso e o senador Cassio Cunha Lima. Pela primeira vez, eles consideraram publicamente a possibilidade de o governo Temer estar perto de seu fim.

— Podemos estar diante do início do fim com a posição do relator do PMDB, porque Temer não tem nenhum apoio popular — afirmou Cunha Lima.

No dia anterior, Tasso disse que o país estava “chegando à ingovernabilidade” e sugeriu que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reuniria as condições necessárias para promover estabilidade no país.

— Rodrigo Maia tem condições de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade de que o país precisa. Estamos chegando à ingovernabilidade e tem que haver agora um acordo para dar estabilidade mínima para se chegar a 2018 — afirmou Tasso.

FH também mudou de opinião e, desde junho, tem pedido a renúncia de Temer. Ele também passou a defender a antecipação de eleições diretas. A proposta de uma eleição antes de outubro de 2018, entretanto, não encontrou eco no partido. Pelo contrário: em Brasília, os tucanos parecem cada vez mais convencidos de que a saída é apoiar um mandato-tampão de Rodrigo Maia.

AGUARDAR O FIM DAS REFORMAS
Na colcha de retalhos em que se traduz o PSDB hoje, Alckmin e Doria lideram uma outra vertente, a dos que flertam com a manutenção do apoio ao governo em nome da aprovação das reformas. Ontem, eles repetiram o discurso.

— Hoje é preciso aguardar o término das reformas. Depois disso vejo que não há nenhuma razão para o PSDB participar do governo — disse Alckmin. Doria enfatizou: — Eu não defendo que o PSDB se mantenha no governo. Eu defendo que o PSDB tenha o olhar para o Brasil, em como fazer para que as reformas continuem. Pode até ser sem ficar no governo; acho que essa é uma questão do debate.

Com planos de concorrer à Presidência da República, Alckmin não tem simpatia por um mandato-tampão de Maia. O deputado poderia se tornar um candidato natural ao Planalto e concorrente de peso em 2018. Uma eleição antecipada, por outro lado, poderia colocar Doria no caminho de Alckmin, uma vez que o prefeito aparece hoje mais bem posicionado do que o governador nas pesquisas de intenção de voto. Para ser o escolhido dentro do PSDB, Alckmin aposta numa construção de apoio multipartidário que vem conduzindo silenciosamente, e isso demanda tempo.

Aécio e ministros do PSDB como Aloysio Nunes Ferreira (Relações Internacionais) também apoiam a permanência no governo. (Colaboraram João Sorima e Eduardo Bresciani)

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