sexta-feira, 7 de julho de 2017

Temer perde apoio e Maia já se articula com mercado

Raphael Di Cunto e Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), intensificou contatos no mercado financeiro desde o agravamento da crise política, num movimento visto por analistas, economistas e agentes do setor que se reuniram com ele como uma tentativa de mostrar que, caso o presidente Michel Temer seja afastado, ele estaria preparado para assumir a função, com a manutenção da equipe econômica e das reformas.

Maia tem elogiado a equipe econômica, deixando de lado divergências que já tiveram. O discurso é interpretado como sinalização de que manteria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fiador das reformas junto ao mercado. Ele também diz que não há clima para aumento de impostos no curto ou médio prazos.

A agenda de Maia coincide com a avaliação, por parte dos agentes de mercado, de que Temer não terá mais condições de aprovar nenhuma reforma - com exceção da trabalhista, no Senado - enquanto estiver ocupado em reagir às denúncias de corrupção contra ele.

A "alternativa Rodrigo Maia" está longe de ser motivo de euforia no mercado financeiro e entre empresários. Mas a fragilidade do atual governo tem levado muitos a enxergar no presidente da Câmara maior possibilidade de avanço da agenda de reformas. Com ele, dizem, haveria um fôlego, mesmo que curto, para avançar uma reforma da Previdência realista, com idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres.

O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), comparou o momento atual ao período que antecedeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Entre as razões que levaram Dilma a cair, a principal foi a falta de governabilidade. Agora está acontecendo a mesma coisa. Eu não tenho condições de dizer se Temer é culpado ou não. Mas tenho capacidade para dizer que estamos chegando na ingovernabilidade".

Ele relata que os partidos estão conversando sobre um pacto de governabilidade: "Tem que haver agora qualquer tipo de acordo que dê ao país estabilidade mínima até as eleições. Isso não é difícil". Se Temer for afastado, "Maia é presidente por seis meses. Aí ele tem condições, até pelo cargo que exerce como presidente da Câmara, de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade". O principal, diz, é manter a equipe econômica.

Maia amplia contatos com agentes econômicos
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou a conversar mais com o mercado financeiro desde o agravamento da crise política, num movimento visto por analistas, economistas e agentes com quem se reuniu como uma tentativa de mostrar que, caso o presidente Michel Temer seja afastado, estaria preparado para assumir a função, com a manutenção da agenda de reformas e da equipe econômica.

"Ele quer mostrar que tem estatura, está preparado para a função, que não é verde como sugerem", disse um dos agentes que participaram de encontro recente. A "pouca" idade do presidente da Câmara, 47 anos, cinco mandatos de deputado, mas só uma passagem pelo Executivo,quando foi secretário de governo da prefeitura do Rio, geraram comentários de que ele não teria condições de tocar o país em meio à crise.

A intensa agenda de encontros com investidores e analistas na residência oficial ou, mais raramente, no gabinete da Câmara, a maioria sem registro na agenda, é vista como uma tentativa de mostrar o "plano de governo" para a eventualidade de a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) ser aprovada pelos deputados - chance que aumentou nos últimos dias.

Entre os ouvintes, segundo apurou o Valor, estão analistas do Santander, Itaú e Banco Société Générale Brasil, de corretoras como XP Investimentos e BGC Liquidez, empresas de análise, um dos sócios da Ventor Investimentos, Flávio Fucs, e economistas como o diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, que tem interlocução com todo o mercado.

Um dos pontos mais recorrentes das conversas são elogios à equipe econômica - com quem, contudo, já teve divergências. O discurso é interpretado como a sinalização de que manteria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fiador das reformas. Maia também repete promessa de sua eleição para a presidência da Câmara e diz que não há clima para aumento de impostos no curto ou médio prazos.

Segundo um interlocutor do mercado, o contato com Maia tinha ficado mais difícil após a reeleição dele no começo do ano, mas agora "é só ligar e marcar".

Aliados ponderam que Maia é egresso do setor financeiro, trabalhou na juventude nos bancos BMG e Icatu e sempre gostou de assuntos econômicos. A postura de visitar o sistema financeiro ocorre desde o mandato-tampão no ano passado, quando ele, numa tentativa de se firmar como interlocutor, procurava os bancos para conversar.

Em nenhum momento nesses encontros Maia sequer sugere assumir a Presidência da República, segundo relato de quatro pessoas. Questionado sobre essa possibilidade em conversa na semana passada, o presidente da Câmara foi categórico: disse que não parou para pensar nessa hipótese e que o melhor para o Brasil é a continuidade do governo Temer. O tom, verificou um dos presentes, foi bem mais enfático do que o relatado por deputados que falaram com ele.

Conforme o Valor mostrou ontem, o presidente da Câmara, primeiro na linha sucessória, tem traçados dois cenários com aliados para a denúncia contra Temer e que passam por manter postura "institucional", sem a defesa do governo, mas também sem articular sua derrocada. Assim, fica resguardado para qualquer situação, com ou sem o afastamento do pemedebista.

Caso Temer permaneça no cargo, hipótese ainda muito provável, Maia teria mantido sua lealdade, buscaria a reeleição para deputado federal e tentaria se cacifar para comandar a Câmara pela terceira vez seguida. Se Temer não conseguir, Maia manteria a atual coalizão de partidos e buscaria tocar a agenda até a eleição de 2018.

Aliados também são procurados e têm procurado interlocutores no sistema financeiro e produtivo para discutir as mudanças no cenário. Alguns dos mais acionados são o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), e o líder do Podemos, deputado Alexandre Baldy (GO), ex-secretário de Indústria e Comércio de Goiás e que articulou com Maia mudanças no projeto de repatriação, além de ser genro de Marcelo Limírio Gonçalves, ex-controlador da Hypermarcas.

A agenda de reuniões coincide com a avaliação, por parte dos agentes de mercado, de que Temer não terá mais condições de aprovar nenhuma reforma, com exceção da trabalhista no Senado, enquanto a agenda do governo for se esquivar das investigações. Com Maia, dizem, haveria um fôlego novo, mesmo que curto, para avançar uma reforma da Previdência mais realista, com a aprovação de uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres.

Muitos empresários e economistas do mercado financeiro ressalvam, por outro lado, que Temer continua com apoio para permanecer no comando do país caso consiga mostrar que não perdeu a governabilidade. Embora tenham crescido as chances de afastamento diante da ameaça de novas delações premiadas, da escolha de um relator que indica ser favorável à denúncia e da pressão para que os parlamentares se posicionem, muitos ainda avaliam que não serão alcançados os 342 votos necessários para autorizar que o presidente seja julgado por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas esse grupo já começou a olhar mais atentamente o presidente da Câmara como alternativa viável. "Ainda que mantenhamos um pé no governo Temer e sustentemos apoio ao presidente, a situação quase insustentável dele nos fez procurar novas possibilidade. Nesse momento, Maia parece a melhor delas. Tem conhecimento técnico, perfil conciliador e comprometimento com as reformas", disse um investidor.

O próprio presidente da Câmara reconheceu em encontro na quarta-feira, contudo, que as seguidas denúncias contra o pemedebista devem inviabilizar a aprovação da reforma da Previdência, ao empurrá-la para mais perto da eleição de 2018, e que a base não está mais coesa como antes. Mostrou até certo ceticismo, segundo um analista, de novos avanços da pauta econômica "porque a Câmara não estaria mais sensível a temas fiscais".

Um dos pontos cruciais para a governabilidade será a votação, na véspera da análise da denúncia, da medida provisória (MP) da reoneração da folha de pagamentos, que causa divergência na base. (Colaboraram Vandson Lima e Marcelo Ribeiro)

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