quarta-feira, 5 de julho de 2017

Todos contra todos | Merval Pereira

- O Globo

A delação de Lúcio Funaro, doleiro do PMDB e operador de Eduardo Cunha, que levou Geddel Vieira Lima à cadeia, vai envolver toda a cúpula do PMDB, inclusive o presidente Michel Temer. Esse grupo do PMDB não escapa do tiroteio, e no final morrem todos — como no filme do Tarantino “Cães de aluguel”, no qual todos os pistoleiros atiram contra todos — porque vão entrar tanto na delação do Funaro quanto na do Eduardo Cunha.

Geddel é um político experiente, com vários processos na Justiça envolvendo cargos públicos, e tem estrutura psicológica para resistir aos primeiros meses de cadeia. Mas, chega uma hora em que acaba falando. Acho que vai esperar um pouco para ver o que vai acontecer com Michel Temer, antes de tomar uma decisão.

Além da prisão de Geddel Viera Lima, ex-ministro de Temer dos mais ligados historicamente à sua carreira política, a delação de Lúcio Funaro já tem outra consequência imediata: a Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para incluir o presidente Michel Temer, e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) como investigados no inquérito que apura a atuação da cúpula do PMDB da Câmara, que teria se unido num esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato.

Mais uma peça foi acrescentada ontem a esse quebra-cabeça que a Polícia Federal e o Ministério Público estão montando. O empreiteiro Marcelo Odebrecht, depondo para o juiz Sergio Moro, disse que Michel Temer fazia parte do esquema de Eduardo Cunha na Câmara que influenciava no Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Tanto Geddel quanto Moreira Franco foram diretores da Caixa Econômica Federal quando estavam sem mandatos legislativos, e a investigação é para apurar a atuação desse grupo do PMDB na Caixa, com suspeita de manipulação em financiamentos e investimentos em títulos de empresas como a JBS.

O ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo, solicitou ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sua opinião sobre o pedido da Polícia Federal. Essa investigação sobre o PMDB tem a ver com o inquérito-mãe, conhecido como “quadrilhão”, que foi desmembrado em quatro investigações sobre partidos políticos: PMDB na Câmara e no Senado, PT e PP.

O ex-presidente Lula é investigado nesse inquérito como o chefe da organização criminosa que usou os partidos políticos para montar o esquema de financiamento eleitoral ilegal. As informações do empresário Joesley Batista, e mais as do doleiro Lúcio Funaro, serão compartilhadas nesse inquérito, por determinação do ministro Edson Fachin.

Segundo informações, o inquérito já tem 15 investigados, entres eles: os expresidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Alves, o líder do governo no Congresso, André Moura, os deputados Arnaldo de Faria de Sá e Manoel Junior, além do operador e delator Fernando Falcão.

As investigações serão depois unificadas novamente para a apresentação de uma denúncia sobre o “quadrilhão”, a exemplo do que foi feito no mensalão, em que 40 investigados, alguns sem foro privilegiado, foram julgados pelo Supremo Tribunal Federal por associação. Esta deve ser talvez a última denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deixa o cargo em 17 de setembro. Ele pretende encerrar sua passagem pela chefia da PGR com esse pedido de abertura de processo envolvendo dois ou até mesmo três ex-presidentes da República: Temer, Lula e, talvez, Dilma Rousseff.

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