segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A imagem negativa do governo | Gaudêncio Torquato

- Blog do Noblat

Alguma coisa está mal explicada: o presidente da República é impopular, mas seu governo está tirando o Brasil do fundo do poço, bastando ler os sinais de recuperação da economia. Os componentes dessa equação podem ser assim alinhavados:

Parcela da mídia, com seu extraordinário poder destrutivo, não consegue afastar Michel Temer do Palácio do Planalto, conforme defende em editoriais e no tiroteio expressivo sobre a figura do presidente.

Grandes manifestações, organizadas por movimentos sociais, intensas por ocasião do impeachment de Dilma Rousseff, mostram-se cansadas e longe das ruas.

Populações do Brasil profundo se interessam por coisas da micropolítica – casa própria, escolas, hospitais e remédios, transporte e alimentos baratos – não tomando posição aberta em assuntos como afastamento do presidente da República.

No topo e no meio da pirâmide, empresários, executivos, entidades da produção e profissionais liberais aplaudem as medidas do governo para resgatar a economia.

Como explicar a aparente contradição entre impopularidade do presidente e os avanços por ele comandados? Analisemos. A primeira observação é a de que a avaliação negativa do governo não é um fenômeno isolado. Reflete a imagem que a sociedade tem da política e seus protagonistas. Desde o mensalão, compra de deputados na era petista, denúncias invadem a intimidade dos lares, trazidas pela tuba de ressonância dos meios de comunicação. Construiu-se a paisagem de um imenso lamaçal que, a cada dia, recebe toneladas de dejetos.

Mesmo dando nota baixa à política, o eleitor continua demonstrando simpatia pelo parlamentar de sua proximidade. Aspecto de nossa cultura. A inserção de todos os políticos no inferno imagético é um fato. As pesquisas não mostram isso porque o alvo dos Institutos é a figura do dirigente da Nação.

A opinião pública
Convém lembrar que a formação da Opinião Pública é um processo que leva em conta o nível de conhecimento/informação das pessoas. Que acabam registrando em seus sistemas cognitivos parte dos conteúdos que lhes chega por meio das mídias eletrônicas (rádio, televisão, redes sociais) e impressas (jornais e revistas). Dois tipos de receptores aparecem: os que recebem mensagens dos telejornais/rádios e os que têm acesso aos meios impressos, além dos eletrônicos.

É difícil resistir ao bombardeio midiático de um poderoso telejornal, com imagens de dutos enferrujados jorrando dinheiro, sob a voz de tenor de William Bonner e dos agudos de Renata Vasconcelos. Os índices de audiência bruta (que a publicidade designa como GRP – Gross Rating Points) - são cavalares, somando mais que pesadas campanhas publicitárias juntas de grandes grupos. Os telespectadores acabam “comprando” o cenário negativo que cerca os personagens do tiroteio televisivo. O estrago sobre sua imagem é fatal.

O poder destrutivo é tanto mais letal quanto mais forte seja o calibre da arma. Maior a dose, maior o efeito. O mais visto dos telejornais dedica a maior parte de seu horário à política. E mais: a cobertura da Operação Lava-Jato é farta de imagens repetidas. Logo, imagem da pessoa que carrega uma mala de dinheiro acaba colando no personagem central do noticiário, no caso, o presidente da República. Mesmo sem prova de que o dinheiro foi entregue a ele. A repetição da cena tem a força de um furacão. Os personagens descritos no roteiro da cobertura noticiosa acabam todos com a marca de malfeitores.

O dono da flauta dá o tom
Eventuais respostas ao bombardeio midiático por parte dos atores políticos ganham pouco espaço, sobrando sempre para os “donos do poder informativo” a sua “verdade”. Pincemos a lição do capitulo VI, de Minha Luta, de Hitler, que diz: “o êxito de um anúncio, seja ele comercial ou político, se deve a persistência e assiduidade (periodicidade) usadas”. Goebels chegou a alinhar princípios da propaganda, entre eles, os da orquestração e da repetição.

Somam-se ao bombardeio midiático os bastiões oposicionistas, que juntam, principalmente, parlamentares do PT e do PSOL, e movimentos sociais. Mostram tenacidade, bastando ver a bateria de mensagens nas redes sociais com análises negativas sobre o governo. Perda de direitos de trabalhadores, precarização do trabalho, escravidão em que são jogados milhões de trabalhadores compõem a pauta anti-governista, abafando, com seus refrãos, os desastres da era lulopetista: a maior recessão econômica da história, o rombo de R$ 140 bilhões nas contas públicas, 13 milhões de desempregados.

Nos palanques a serem armados no Nordeste, a partir de 17 de agosto, quando Lula iniciará sua caravana pela região, pode-se ter certeza de que a planilha da catástrofe será jogada no colo de Michel Temer. Luiz Inácio é exímio na arte da mistificação das massas. Um prestidigitador da arte de confundir pela palavra. Portanto, na frente da comunicação, PT e seus planetas têm sido mais eficientes do que a orquestra de comunicação governamental. O fato novo no arquipélago de porta-vozes é o retraimento de movimentos sociais. Um sentimento de saturação permeia esses batalhões, tirando-os das ruas. Parecem cansados de slogans e descrentes de mudanças.

Quanto ao topo e ao meio da pirâmide, que abrigam fortes núcleos de apoio ao governo, o que se vê uma expressão contida, que não chega a causar barulho. As ondas que saem de suas gargantas se espalham para cima e para baixo, porém de maneira lenta. Daí a hipótese de que, só depois de bom tempo, chegará nas margens uma avaliação positiva do governo. Nas bases da pirâmide, concentram-se os blocos de carências. Pragmáticos, inclinam-se a perfilar ao lado dos feitores da micropolítica, dirigentes municipais em primeiro lugar. A imagem do governante maior é uma abstração, algo distante.

Por essas veredas, trafega a avaliação positivo/negativa do Governo.

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Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

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