quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A volta ao passado para ‘reprogramar’ o presente

Executiva do PMDB retoma nome Movimento Democrático Brasileiro para ‘realmente ganhar as ruas, com uma nova programação’

Maria Lima | O Globo

De olho nas eleições de 2018 e em meio a disputas internas, a Executiva nacional do PMDB anunciou ontem que o partido vai mudar de nome. Eliminará o “P”, incorporado por obrigação legal em dezembro de 1979, para dar lugar ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sigla que no passado coroou o partido como oposição à ditadura militar. O retorno ao nome de origem foi defendido pelo presidente da legenda, senador Romero Jucá (RR), como símbolo da proposta de reformulação que, segundo ele, tem o objetivo de “ganhar as ruas” e transformar o partido em uma “força política”.

O ofício comunicando a mudança do nome do PMDB, que será oficializada em convenção nacional em 27 de setembro, já foi encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). — “Movimento” é mais forte. A gente quer realmente ganhar as ruas, com uma nova programação, bandeiras nacionais. Queremos ser muito mais do que um partido, queremos ser um força política, e nós vamos ser — disse Jucá. — Quero rebater a crítica de que o PMDB estaria mudando de nome para se esconder. Não é verdade. A mudança, no entanto, não agradou ao ex-senador Pedro Simon, um dos fundadores do MDB, em março de 1966. Segundo ele, o momento para a troca não é adequado.

— Voltar a se chamar MDB seria ótimo. Mas no meio dessa reforma política que estão apoiando? Não é o momento. Em cima desse mar de dinheiro público que vão dar para os partidos? Não é o momento. Em cima desse distritão, que vai transformar cada candidato, cada deputado, em um partido próprio? Não é o momento. Em cima desse movimento de acabar com o voto de bancada para salvar os deputados que estão aí? E vincular isso ao MDB? Terminem de fazer isso, depois vejam o nome. Mexer com a sigla agora é um pecado.

Além da crise de governo, o PMDB enfrenta disputas internas. O partido puniu dissidentes com suspensão de atividades partidárias por terem votado a favor da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Temer. Os cinco parlamentares retaliados protocolaram ontem um pedido para que a decisão seja suspensa.

RENAN: “AME-O OU DEIXE-O”
O Conselho de Ética ainda avalia processo de expulsão dos senadores Kátia Abreu (TO) e Roberto Requião (PR). Mas o barulho maior é feito pelo ex-líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), que rompeu com o governo. Depois de participar da reunião ontem, Renan disse que o PMDB está virando o partido do “ame-o ou deixe-o”. E cobrou a eleição de uma nova Executiva nacional. Jucá rebate, dizendo que prefere que Renan fique no partido:

— Espero que ele fique no “ame”, mas se for inevitável... Acho que o partido é plural, discute ideias contraditórias. O problema é o estilo de se ter agressividade e respeito com os companheiros e com a base. Nós não vamos admitir. No caso da suspensão dos deputados, foi uma decisão solicitada pela bancada federal, aprovada por unanimidade na Executiva e delegado ao líder tomar a iniciativa da suspensão das atividades partidárias por 60 dias.

Sobre a nova Executiva, Jucá disse que será eleita quando acabar o mandato da atual. O senador disse também que ainda não há decisão sobre a expulsão de Kátia e Requião.
— O Conselho de Ética vai definir. Ainda há um longo caminho de discussão e direito de defesa — disse Jucá.

(Colaboraram Gabriel Cariello e Miguel Caballero)

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