sábado, 5 de agosto de 2017

Afastado dos holofotes, Aécio reaparece em hora crucial para Temer

Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Afastado dos holofotes desde maio, após ter sido atingido pela delação do empresário Joesley Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou à cena na última semana.

Na véspera da mais importante votação para o governo Michel Temer na Câmara, o tucano jantou no Palácio do Jaburu no sábado (29) e almoçou no domingo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O trabalho deu resultado. Na última quarta-feira (2), 263 deputados votaram para barrar o processo. Desse total, Temer contou com o apoio de 22 dos 47 parlamentares do PSDB na Casa, enquanto a expectativa era de que a maioria da bancada votasse pela continuidade do processo.

O governo, que seguia mantendo conversas discretas com Aécio, fez um apelo para que ele aparecesse publicamente nas articulações a fim de dar mais força ao apoio do PSDB ao Planalto.

O ressurgimento em público coincidiu com novo revés: a Procuradoria-Geral da República apresentou mais um pedido de prisão do tucano.

O senador ficou mais de 40 dias afastado das atividades parlamentares no primeiro semestre por determinação do STF, que acabou reformando a decisão e autorizou que ele reassumisse o mandato no fim de junho.

De lá para cá, Aécio busca um equilíbrio entre não se expor em excesso e nem desaparecer completamente como um líder do PSDB.

De acordo com um tucano, o mineiro sabe que se aparecer demais pode enfrentar novas investidas do Ministério Público, mas entende que submergir o enfraquecerá.

Os gestos do senador no último fim de semana foram lidos por alguns aliados como uma tentativa de reassumir a presidência do PSDB, o que não se concretizou.

Aécio se licenciou do comando do partido logo depois do vazamento de um áudio em que ele é flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O cargo foi assumido interinamente pelo senador Tasso Jereissati (CE).

Tasso, que é favorável ao desembarque do governo, se irritou com as articulações e chegou a escrever uma carta de renúncia no começo da semana passada. Mas o episódio foi contornado após conversas que tiveram forte atuação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Aécio pediu a Tasso que ficasse no cargo. Em troca, comprometeu-se a não criar dentro do partido uma espécie de "duplo comando". O cearense deve, por sua vez, diminuir o tom de crítica ao governo.

O acordo entre os tucanos passou ainda pelo desenho de um novo calendário para definir o comando nacional do partido.

Em vez de fazerem a convenção em agosto, como pretendia Tasso, concordaram em eleições para os diretórios municipais, estaduais e nacional entre novembro e dezembro.

Em um aceno a Alckmin, que pretende disputar o Planalto em 2018, combinaram de anunciar ainda em 2017 o pré-candidato da legenda.

Isso dificultaria a vida do prefeito de São Paulo, João Doria, que teria de assumir publicamente suas intenções de ser presidente com menos de um ano de sua gestão.

CABEÇAS PRETAS
Além de ceder à presidência a Tasso, Aécio fez um aceno à ala que defende que o partido deixe a base do governo. Ele ligou na quinta para o deputado Daniel Coelho (PE), um dos principais líderes do movimento contrário ao apoio tucano a Temer.

A ligação resultou numa postagem de Coelho num grupo de mensagens da bancada tucana na Câmara.

"A atitude de Aécio e a disposição de Tasso em encarar a difícil missão trabalham em nome da união. Não é em torno de Temer ou de terceiros que vamos nos unir. Só o nosso projeto nos une. Recebo o ato de Aécio como ato humildade e conciliação", escreveu.

O clima no partido, porém, ainda é de desconfiança mútua, apesar do acordo, e os próximos desdobramentos da relação do PSDB com o governo devem dar o tom do que vai se construir até dezembro.

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