terça-feira, 1 de agosto de 2017

Colhendo os frutos | José Márcio Camargo*

- O Estado de S. Paulo.

Com a redução dos juros, o mercado de crédito já começou a dar sinais de aquecimento

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) decidiu em reunião na última quarta-feira reduzir a taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) em um ponto de porcentagem. Com isso, a taxa atingiu 9,25% ao ano. O nível mais baixo desde 2013.

Ao iniciar a redução da Selic apenas quando a taxa de inflação mostrou tendência de queda e as expectativas de inflação apontavam para a meta em 2017, o BC conseguiu levar a taxa de inflação para níveis um pouco abaixo da meta do ano, algo que parecia impossível um ano atrás, permitindo que a Selic possa fechar 2017 entre 8,0% e 7,5%.

As previsões para 2018 devem levar em consideração os efeitos da reforma trabalhista sobre o processo de formação dos salários nominais e reais e os efeitos da introdução da TLP sobre a potência da política monetária.

A nova legislação trabalhista cria a possibilidade de que os salários nominais sejam negociados individualmente entre empresas e trabalhadores, ao longo do contrato de trabalho. Com isso, será possível evitar que, quando a inflação estiver em queda, os salários reais dos trabalhadores que permanecem empregados aumentem. A taxa de juros necessária para atingir a mesma taxa de inflação será menor do que hoje. A relação entre desemprego e inflação se deslocará para a esquerda.

A substituição da TJLP pela TLP, se aprovada, terá o efeito de diminuir o montante de crédito subsidiado, aumentando a potência da política monetária. Estas duas reformas irão permitir quedas adicionais na Selic a partir de meados de 2018.

Com a redução dos juros, o mercado de crédito já dá sinais de aquecimento. As concessões apresentam tendência de crescimento, o estoque de crédito dos bancos privados está em trajetória ascendente, o spread entre a taxa de juros do crédito livre e a taxa Selic mostra forte tendência de queda e a inadimplência, principalmente das Pessoas Físicas (FGTS?), mostrou redução significativa. O efeito é o aumento da demanda e mais crescimento.

No mercado de trabalho, apesar das elevadas taxas de desemprego, os sinais são alentadores. A taxa de desemprego caiu significativamente entre o segundo e o primeiro trimestre de 2017, apesar de, normalmente, este ser um período em que o desemprego tende a aumentar. O nível de ocupação aumentou e o número de desempregados diminuiu.

O aumento do número de trabalhadores por conta própria é, por si só, um sinal positivo. Afinal, um trabalhador por conta própria não pertence ao mercado de trabalho, não é um empregado, mas sim ao mercado de bens e serviços. É um empreendedor. No início da recessão, ao perderem seus empregos, os trabalhadores buscam sua sobrevivência vendendo produtos e serviços, ou seja, se tornam trabalhadores por conta própria. À medida que a recessão se aprofunda, o número de trabalhadores que buscam esta saída aumenta e, ao mesmo tempo, a demanda por estes bens e serviços cai, devido ao aumento do desemprego. O resultado é aumento da competição, queda dos lucros e, eventualmente, “expulsão” de parte destes empreendedores do mercado. Isto foi exatamente o que ocorreu em 2016.

Quando a economia começa a se recuperar, a demanda aumenta e parte dos empreendedores que foram “expulsos” do mercado ao longo da recessão começa a retornar. Ou seja, um aumento do número de trabalhadores por conta própria, neste estágio da retomada, é sinal de que a demanda está em crescimento e, portanto, que a recessão está chegando ao fim.

Como este é, em geral, o último mercado a reagir, seja na queda, seja na retomada, o fato de que ele já apresenta sinais de recuperação é um importante indicador de que a economia está entrando em trajetória sustentável de crescimento.

O governo começa a colher os frutos das políticas e reformas aprovadas nos últimos meses. O importante é persistir nesta trajetória, apesar da crise política e da forte resistência das corporações.

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*Professor do Departamento de Economia da PUC/RIO, é economista da Opus Gestão de Recursos

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