quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Esquerda democrática e esquerda autoritária | Cláudio de Oliveira

Sempre existiu uma esquerda que observou os princípios democráticos: prevalência da maioria, respeito à minoria; pluripartidarismo; livre manifestação do pensamento; autonomia da sociedade civil (sindicatos, etc) ante o Estado; direito de greve para os trabalhadores.

Essa esquerda democrática não expropriou os proprietários, mas taxou a riqueza e a distribuiu através de políticas sociais. Como regime econômico, estabeleceu economia mista, de convivência entre os setores estatal e privado, sob coordenação governamental.

O seu exemplo clássico é a Suécia, governada pelo Partido Social Democrata desde 1932, com alguns intervalos. O ápice do Estado de Bem-Estar Social sueco foi durante os governos de Olof Palme, bem como na Alemanha, nos governos dos socialdemocratas Willy Brandt e Helmut Schmidt.

Curiosamente, na Itália, foram os comunistas que se estabeleceram como esquerda democrática. O PCI foi um dos fortes pilares da democracia italiana do pós-guerra, liderado por políticos da estatura de Palmiro Togliatti e Enrico Berlinguer.

Esquerda autoritária
E sempre existiu uma esquerda autoritária, que estabeleceu regimes de partido único; reprimiu violentamente qualquer oposição, de direita ou de esquerda; suprimiu a liberdade de opinião; subordinou a sociedade civil (sindicatos, etc) ao partido e ao Estado.

Seu exemplo clássico foi a União Soviética, especialmente no período de Josef Stalin. Os seus sucessores ideológicos esmagaram tentativas de democratização, como a Primavera de Praga, de Alexander Dubček, e a Glasnost, de Mikhail Gorbatchev.

O autoritário modelo soviético serviu de inspiração para a China de Mao Tsé-Tung e Cuba de Fidel Castro.

Na América Latina, a esquerda autoritária parece ter ainda grande influência.

É lamentável que setores expressivos no PT e Psol se solidarizem com o regime da Venezuela, que teima em não reconhecer o Congresso de maioria oposicionista e democraticamente eleito; persegue os adversários; restringe as liberdades civis, instituiu uma Constituinte que não respeita o sufrágio universal; e agora destituiu a procuradora-geral da República. Mais uma experiência de esquerda autoritária, justificada com os argumentos de sempre.

Espero que setores do PT e do Psol, bem como o PDT, partido brasileiro filiado à Internacional Socialista, o PSB, nascido em 1947 sob o lema de socialismo e liberdade, o PPS, a alma democrática do antigo PCB, e novas expressões do campo da esquerda, como o PV e a Rede Sustentabilidade, se coloquem claramente em defesa de valores democráticos.

Nestes tempos em que a extrema-direita começa a ganhar expressão política de alguma relevância, o Brasil precisa não só da afirmação de uma centro-direita e de um centro democráticos e civilizados, como também de uma esquerda democrática, fiadora dos princípios do Estado de Direito.

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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

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