terça-feira, 8 de agosto de 2017

Namoro entre PMDB e Doria põe pressão sobre Alckmin para 2018

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A troca de afagos entre Michel Temer e João Doria, ocorrida nesta segunda (7) em evento na capital paulista, expôs um processo de aproximação entre o PMDB do presidente e o prefeito tucano.

O movimento ganhou força com a rejeição do afastamento do peemedebista do Planalto pela Câmara.

É um jogo de conveniência mútua, que serve não só para alinhavar eventuais alianças, mas também como instrumento de pressão para a pretensão de Doria de ser candidato a presidente no ano que vem.

O prefeito quer manter opções abertas para reforçar sua posição no PSDB e, numa situação extrema, para o caso de haver um rompimento com seu padrinho político, o também presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

As negociações são discretíssimas e envolvem amigos em comum de ambos. Doria tem horror à ideia de ser visto como traidor do homem que viabilizou sua carreira política, mas, como diz um aliado, dorme e acorda pensando no Planalto.

CONTROLE TUCANO
Alckmin aproveitou-se da barafunda tucana decorrente da delação da JBS, simbolizada na derrocada do rival Aécio Neves (MG) e na indecisão sobre o apoio a Temer, e tomou controle do partido.

Conseguiu adiantar a decisão sobre candidatura presidencial para dezembro.

No plano do grupo de Alckmin, Doria seria candidato ao governo do Estado com Rodrigo Garcia (DEM) na vice, ajudando a puxar uma votação arrasadora no maior colégio eleitoral do país –supondo-a vencedora em primeiro turno, Doria acompanharia o tucano pelo país no segundo round.

O prefeito, segundo um dirigente do PSDB, não descarta o arranjo, mas enviou sinais ao DEM, sigla com nova força pela posição singular do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que substituiria um Temer afastado.

Maia não mordeu a isca, mas a tentativa serviu para aumentar-lhe o cacife: há duas semanas, a cúpula do partido foi recepcionada por Alckmin, retomando assim o papel de parceiro preferencial do PSDB. Até então, o paulista preferia o PSB.

Com a cristalização do quadro da permanência de Temer, ao menos até o próximo escândalo, o foco passou a ser o PMDB e seus enormes tempo de TV e fundo partidário –o pleito de 2018 não terá financiamento privado de empresas.

Não que o prefeito pretenda romper com Alckmin, mas já disse que o candidato em 2018 deve ser aquele mais bem colocado em pesquisas. Hoje o potencial eleitoral de Doria é superior nesse quesito.

Outro dirigente tucano acha que Doria vai postular a candidatura. Como já disse que não disputaria com Alckmin a indicação, por lealdade, essa seria a senha para a mudança de sigla. A questão é: o enfrentaria nas urnas?

Aliados de Doria dizem que não. Alguns de Alckmin não estão tão certos assim. Publicamente, o prefeito segue com o discurso de que permanecerá na cadeira.

Contra a hipótese de Doria no PMDB, há o fato de ser o partido do impopular Temer e de um rosário de investigados na Lava Jato. Vender o prefeito como o "novo" filiado ao "velho" requereria um malabarismo insondável.

Para o PMDB, a vantagem é dupla. A mais óbvia: o partido nunca teve um candidato viável à Presidência.

Além disso, Temer está irritado com Alckmin. O governador nunca apoiou a presença de tucanos no ministério, embora defendesse a permanência do presidente para manter o jogo dentro de regras conhecidas até 2018.

Da bancada tucana paulista, 11 de 12 deputados votaram em favor do afastamento presidente. Até o fato de não ter ido ao encontro de Temer e Doria nesta segunda foi comentada pelo peemedebista como "deselegante".

Isso ajuda a explicar o tom quase eufórico de Temer ao falar do prefeito.

O PMDB procurou Alckmin recentemente, apresentando o preço para estar com o tucano em 2018: que ele apoiasse uma candidatura de Paulo Skaf ao Bandeirantes. O governador desconversou.

Assim, namorar Doria dá munição à sigla se chegar a hora de negociar apoio efetivo ao governador paulista.

MODULAÇÃO
Enquanto a dança evolui, o prefeito paulistano trata de modular sua retórica, até aqui focada no antipetismo.

Ocorre que há boa chance de Luiz Inácio Lula da Silva não disputar o pleito, seja por ter condenação em segunda instância, seja porque o Supremo pode retomar o julgamento em que deverá proibir réus de serem presidentes.

Aí o estilo gregário de Alckmin o torna favorito no meio da política tradicional. Como tem feito, Doria enalteceu no evento a "conciliação".

Logo depois, em Salvador, Doria foi homenageado pelo prefeito ACM Neto (DEM). Voltou a lembrar sua origem nordestina e disse ser contra o "Nordeste contra Sudeste" –um ponto nevrálgico para Alckmin, que conta com a candidatura do democrata no maior colégio eleitoral nordestino para virar votos fidelizados pelo PT.

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