domingo, 17 de setembro de 2017

As campeãs nacionais da corrupção | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Os irmãos Batista e sua JBS foram uma grande novidade no mundo das maiores empresas brasileiras deste século, um time em que mudam mais as camisas do que os jogadores. Apesar do histórico muito mais longo e notório, a Odebrecht também fez carreira rápida.

Cresceram de modo acelerado porque eram corruptas ou eram corruptas porque cresceram de modo acelerado? Difícil responder, mas há elementos para especulações razoáveis.

No começo do século, a JBS/Friboi chegava ao grupo das 400 maiores. Em meados da década de 2000, subia para a primeira divisão, o grupo das 50 maiores.

Em 2014, superou a Vale, tornando-se a segunda maior companhia, em receita líquida. A Odebrecht passou da rabeira da primeira divisão para o sétimo lugar em cerca de uma década.

Embora não seja fácil imaginar crimes que superem os feitos de JBS e Odebrecht, quantas empresas da primeira divisão teriam restos a pagar nos tribunais?

Algumas outras grandes foram apanhadas em operações diversas da Polícia Federal desde 2014, mas a bandalheira sabida até agora não foi tão longe. Oito têm a ficha suja.

Neste século, não mudou muito a composição do grupo das 50 maiores, se consideradas fusões e aquisições.

Em um período que se pode chamar de "meia geração", os 16 anos de 2001 a 2016, apenas uma meia dúzia de empresas caiu de divisão (contas feitas com base nos rankings "Valor 1000", algo adaptados por este jornalista).

Um tanto curioso, nesse período pouco mudou o tamanho relativo das 500 maiores (em relação ao tamanho da economia; umas em relação às outras).

Houve troca de lugares no grupo de elite. Empresas de petróleo, alimentos e varejo subiram, empurrando para baixo fabricantes de veículos, indústrias e elétricas, pincelada do que foi a história econômica do período.

A Marfrig, por exemplo, teve ascensão quase tão fulgurante quanto sua companheira de ramo.

Difícil dizer que Odebrecht e JBS fossem incompetentes (em operações mais estritamente empresariais), nem era isso o que diziam seus pares de mercado e analistas, ao menos antes das evidências escandalosas ou definitivas de gangsterismo.

Como também é notório, JBS e Odebrecht subiram pelas tabelas com a contribuição milionária de todos os erros e mutretas dos governos petistas, por meio de negócios com dinheiro público, embora várias outras empresas tenham recebido grossos subsídios, em particular depois de 2008.

Algumas empresas da elite até escaparam da morte na crise de 2008 com ajuda do governo, que financiou fusões e aquisições a fim de evitar a falência de firmas metidas em especulação financeira de incompetência criminosa (caso de frigoríficos, de empresas de papel e celulose e bancos).

A maioria da tropa de elite, uns 80%, parece ter um comportamento mais discreto (Petrobras, a número um, e Eletrobras, entre as dez mais, são casos à parte).

A maioria dessas empresas está no topo pelo menos desde o início do século; as mais novatas surgiram há mais de 30 anos, em geral muito mais. Um terço é multinacional com controle estrangeiro.

Com exceção da também notória Oi, nenhuma delas teve negócios tão íntimos com o Estado quanto Odebrecht e JBS.

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