segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Inflação baixa e crescimento – Editorial | O Estado de S. Paulo

Quando a alta de preços perde impulso e se torna tolerável, o orçamento familiar fica mais saudável, o comércio se movimenta e os negócios, aos poucos, ganham vigor

Muito mais que um resultado bonito para ser comemorado e exaltado por economistas, a inflação baixa é hoje um combustível da recuperação brasileira. Ficou em 1,62% entre janeiro e agosto a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Foi a menor taxa acumulada nesse conjunto de meses desde o início do Plano Real, em 1994. Mas a importância da novidade vai muito além do registro estatístico. A inflação contida tem alimentado o consumo, principal motor da reativação, como confirmaram os números do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. Quando os preços disparam, a renda familiar é devorada com rapidez pelos aumentos. O poder de compra dos consumidores diminui seguidamente e nenhum reajuste salarial basta para recompô-lo de forma durável. O desarranjo tende a espalhar-se por todo o sistema de produção e comercialização de bens e serviços. O desemprego é a consequência mais dolorosa. Quando a alta de preços perde impulso e se torna tolerável, ocorre o oposto - o orçamento familiar fica mais saudável, o comércio se movimenta e os negócios, aos poucos, ganham vigor.

A reativação brasileira, lenta, mas continuada, vem sendo favorecida pelo sucesso da política anti-inflacionária, por muito tempo conduzida exclusivamente pelo Banco Central (BC), por meio de juros altos e crédito apertado. Medida pelo IPCA, a inflação ficou em 0,19% em agosto, 1,62% no ano e 2,46% em 12 meses, bem abaixo da meta de 4,5% e do limite inferior de tolerância, de 3%.

A alta de preços acumulada em 12 meses tem caído de forma ininterrupta, desde 8,97% em agosto do ano passado. Os números mensais têm oscilado, mas num intervalo razoavelmente estreito. O custo da alimentação em casa recuou 1,84% em agosto, 3,68% no ano e 5,19% em 12 meses, graças à boa oferta. Outros itens do orçamento doméstico também têm evoluído de modo mais favorável que nos anos anteriores e pode-se falar de uma ampla desinflação, com efeito social bem distribuído.

O IPCA é baseado no padrão médio de gastos de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos. Mas a pesquisa oficial, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também cobre o universo das famílias com ganho mensal de até 4 mínimos. Para esse grupo a evolução geral dos preços de consumo tem sido até mais favorável, com variação negativa em agosto (-0,03%) e alta de apenas 1,73% em 12 meses.

A desinflação, portanto, vem sendo especialmente benéfica do ponto de vista da distribuição social do alívio financeiro. O recuo dos preços da alimentação, item com maior peso nas despesas dos grupos de rendimento mais baixo, tem contribuído de forma importante para a melhora das condições de consumo na base da pirâmide. Mas a virada só se completará, para esse e para os demais grupos, com uma oferta muito mais ampla de empregos. A oferta tem crescido, mas o desemprego, embora em queda, permanece muito alto, afetando, ainda, 12,8% da força de trabalho.

A volta às compras é por enquanto o efeito mais sensível da inflação em queda. O consumo familiar no segundo trimestre foi 1,4% maior que no primeiro e 0,7% superior ao do mesmo período do ano anterior. O resultado positivo nessa comparação surgiu depois de nove trimestres de quedas.

Os primeiros sinais de moderação na alta de preços apareceram no ano passado. Isso permitiu ao BC iniciar em outubro uma política de redução da taxa básica de juros. Os números favoráveis da inflação permitem antever a manutenção, ainda por algum tempo, da política de afrouxamento das condições de crédito. Se os fatos confirmarem essa expectativa, as condições de financiamento se tornarão mais favoráveis à expansão do consumo, à formação de estoques pelas indústrias e à retomada do investimento empresarial em máquinas e equipamentos.

Certos grupos defendem, em nome de um estranho “progressismo”, taxas de inflação bem maiores que as atuais como se isso favorecesse o crescimento econômico. Os fatos nunca deram razão a esses grupos e atualmente os desmentem mais uma vez.

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