quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Inflação cai e BC reduz juros

Com a safra recorde e a queda nos preços de alimentos, a inflação ficou em 0,19% em agosto. O alívio nos preços foi um dos fatores que levaram o BC a reduzir os juros básicos para 8,25%. Analistas preveem que a taxa poderá chegar a 6,5% no fim do ano.

BC reduz mais os juros

Inflação baixa leva Selic a 8,25%. Analistas já projetam taxa em até 6,5% no fim do ano

Gabriela Valente, Marcello Corrêa, Ronaldo D’Ercole e João Sorima Neto | O Globo

-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- A queda da inflação, o quadro de recuperação gradual da atividade econômica e o cenário externo favorável levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a reduzir ontem a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano — o menor patamar desde julho de 2013. A decisão, já esperada pelo mercado, foi unânime. Citando a projeção para o IPCA, índice usado na meta oficial de inflação, de 3,3% no fim do ano, o Copom ainda indicou que fará novos cortes na Selic, mas de menor magnitude.

“Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária. Além disso, nessas mesmas condições, o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo”, afirmou o comunicado divulgado após a reunião. Para 2018, as estimativas para a inflação estão em 4,4%, praticamente no centro da meta, que é de 4,5%. Esse cenário pressupõe que os juros encerrem este ano em 7,25%, recuem a 7% no início de 2018 e subam a 7,5% no fim do ano que vem.

— O BC está apenas sancionando uma realidade. A inflação pode fechar até abaixo de 3%. E pode ficar abaixo até no ano que vem. É uma coisa bizarra, mas positiva — afirmou o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas. — Antes, o BC falava das reformas. Agora, está sendo mais otimista do que nunca.

A inflação de agosto, divulgada ontem pelo IBGE, reforça a expectativa de novos cortes na Selic. O IPCA ficou em 0,19% no mês passado e, em 12 meses, está em 2,46% — a menor variação acumulada desde fevereiro de 1999. Diante desses dados, já há quem preveja que a Selic possa fechar 2017 abaixo de 7% ao ano, como economistas da ARX e da Sulamérica. O banco BNP Paribas revisou sua projeção para 6,5%.

José Julio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV e ex-diretor do BC, não descarta a possibilidade:

— Diante de tudo isso, não vou me surpreender se a Taxa Selic vier abaixo de 7%. Pensar em 7% está de bom tamanho, mas abaixo de 7% não é impossível, em função desse conjunto de fatores. Uma capacidade ociosa elevada, com as expectativas (de inflação) bem ancoradas, permite, de fato, que você dê continuidade ao procescom so. Acho que 7% é uma boa estimativa, mas pode ser um pouco menos.

Alberto Ramos, diretor de América Latina do banco Goldman Sachs, avalia que o Copom fará um corte de 0,75 ponto percentual na sua próxima reunião, em outubro, e outro de 0,5 ponto em dezembro. Com isso, a Selic encerraria o ano em 7%.
Essa projeção também é feita pelo economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall. Mas ele disse à agência Bloomberg que ainda prevê uma redução de 0,5 ponto percentual no início do ano que vem, quando então se encerraria o ciclo de cortes na taxa básica. O Safra projeta que a Selic ficará em 6,5% até o início e 2019.

FRUSTRAÇÃO NAS REFORMAS É RISCO
O Copom, porém elencou alguns riscos para a trajetória futura dos juros. Como “a frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia”, o que teria impacto na inflação em um horizonte relevante” para a política monetária, ou seja, para os próximos dois anos. Outro fator é o fim do atual cenário externo favorável para os países emergentes — a elevação dos juros básicos nos Estados Unidos, por exemplo, poderia levar os investidores internacionais a retirarem recursos de emergentes como o Brasil.

Entre os fatores positivos, o Comitê aponta “o processo de reformas, como as recentes aprovações de medidas na área creditícia”, caso, por exemplo, da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que almeja eliminar o crédito subsidiado para as empresas. “O Comitê entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, afirmou o Copom em comunicado. Também chamada de taxa neutra, é aquela que não estimula e nem controla a inflação. Segundo fontes, a equipe econômica trabalha com um percentual próximo a 4%, já descontada a inflação.

Segundo ranking elaborado pelo site MoneYou e pela Infinity Asset Management, mesmo com o corte de ontem, o Brasil permanece com o terceiro maior juro real (descontada a inflação) do mundo: 3,29%. O país está atrás apenas de Rússia, 4,32%, e Turquia, com 4,02%.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) elogiaram a decisão do Copom. Mas o presidente da CNI, Robson de Andrade, ressaltou que, para que o cenário de juros baixos se mantenha, é preciso avançar na agenda de reformas.

— A redução dos juros é essencial para a recuperação das condições financeiras, tanto das empresas quanto dos consumidores, e para impulsionar a retomada da economia — afirmou Andrade.

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), disse que ainda há espaço para cortes mais incisivos na taxa básica, “para acelerar o crescimento e a retomada do emprego”. Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, também afirmou que os juros ainda estão muito altos, o que comprime o consumo das famílias.

Seguindo o Copom, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander anunciaram redução em suas taxas de juros.

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