quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Opinião do dia – Jürgen Habermas

Pergunta - O sr. ainda se ilude com a sociedade da mídia?

Habermas - Ora, a sociedade da mídia! A perda da sublimidade do sublime -um lapso é um lapso- já tem algo de alentadoramente igualitário. Mas, quando tudo se transforma num Harald Schmidt Show, quando todos se tornam mediadores e só falam como mediadores, aí então o mundo assume traços luhmannianos. Eu não acho que me iludo com uma esfera pública na qual a mídia de massas dita o ritmo. Muitos tentam tomar pulso dessa realidade virtual. Em "Facticidade e Validade", porém, considerei o assunto de uma perspectiva totalmente diversa...

Pergunta - ....da perspectiva do soberano democrático.

Habermas - Exato. Pois nossa constituição exprime sempre a ideia da autodeterminação de um organismo democrático. A simples frase que todo poder estatal vem do povo não diz muito para as relações de fato, mas é melhor do que nada. Os cidadãos também não iriam às urnas, por exemplo, se não supusessem intuitivamente que os procedimentos estabelecidos ainda têm algo a ver com a ideia clássica da autodeterminação democrática.

É por isso que se impõe a questão de saber se essa ideia permite uma interpretação que a preserve de ser esvaziada cinicamente ou de entrar em rota de colisão com a realidade das sociedades altamente complexas. No quadro normativo que proponho, a comunicação sobre a mídia de massas cumpre um papel relevante. O público disperso, reunido quase exclusivamente pela rede eletrônica, pode instruir-se também em instantes fugazes do dia-a-dia, com reduzida atenção, em pequenos círculos privados, sobre todos os temas e artigos possíveis da mídia de massas. As pessoas podem, então, adotar posições favoráveis ou contrárias, o que implicitamente elas já fazem há algum tempo. Desse modo, elas participam não tanto da articulação, mas do peso das opiniões concorrentes. Como a comunicação pública entre a formação informal de opinião e os procedimentos institucionalizados dessa formação, por exemplo, uma eleição geral ou uma sessão do gabinete funciona como uma dobradiça, é de extrema importância o que está em jogo: a constituição discursiva da opinião pública.
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Jürgen Habermas, “Habermas e a constelação pós-nacional”, entrevista à Gunter Hoffmann e Thomas Assheuer do "Die Zeit e publicado pela Folha de S. Paulo, 18/10/1998

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