quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A pureza dos nanicos | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Desconfio da ideia de pureza. É a movimentos que procuravam aplicar de forma imaculada os preceitos ideológicos ou religiosos que defendiam que podemos atribuir alguns dos piores banhos de sangue da história da humanidade. Se o Brasil teve a felicidade de escapar às armadilhas do puritanismo intransigente, acabou caindo no extremo oposto, que é a inconsistência programática.

No campo da esquerda, as contradições são velhas e conhecidas. Comunistas nutrem uma tara secreta por fazer alianças com a burguesia. Socialistas não enrubescem ao aliar-se a Geraldo Alckmin, que, até prova em contrário, é um conservador, mas está albergado num partido que se intitula social-democrata. O PT, tendo chegado ao poder, não hesitou nem por um instante em trair bandeiras históricas da legenda, como a descriminalização das drogas e a legalização do aborto.

Foi só recentemente que grupos mais à direita resolveram sair do armário, isto é, assumir-se como tal, mas foram rápidos em mostrar que são até mais inconsistentes que seus homólogos esquerdistas.

O MBL, grêmio de jovens que descrevem a si mesmos como liberais, abraçou uma campanha maluca contra a nudez na qual flerta com a censura. Da última vez que conferi, isso não entrava na cartilha liberal.

Jair Bolsonaro, um candidato nanico que, de repente, viu suas pretensões fermentadas pela crise política, viaja aos EUA para cumprir uma agenda em que posa de liberal, moderado e amigável ao mercado financeiro. Qual Bolsonaro diz a verdade, este ou aquele que em inúmeras ocasiões imprecou contra a democracia e defendeu a tortura praticada pelo regime militar? Pessoalmente, acredito mais na honestidade dos nanicos do que na ambição dos que se imaginam viáveis.

É triste constatar que, entre a pureza e o pragmatismo, o Brasil opta pelo oportunismo mesmo.

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