segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Eleições: maioria quer renovação

A maioria dos brasileiros não votaria nos candidatos que apoiou nas últimas eleições e aposta na renovação de nomes em 2018 para melhorar o país, aponta pesquisa da FGV-Rio.

Chance de renovação

Pesquisa aponta desconfiança sobre políticos, mas indica que eleição é saída para crise

Gabriel Cariello e Marco Grillo | O Globo

O descrédito do eleitor brasileiro em relação aos partidos políticos, ao presidente da República e até mesmo sobre os candidatos em quem votou em eleições passadas abre uma brecha para a renovação na eleição do ano que vem, quando serão escolhidos, além do presidente, governadores, senadores e deputados federais. Um estudo inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGVDAPP) mapeou essa desconfiança — até os índices que indicam melhora econômica são contestados — e, ao mesmo tempo, revelou que a maioria da população defende o voto como melhor mecanismo para a saída da crise. Dentro deste cenário, quase um terço dos entrevistados (29,8%) manifestaram a intenção de apoiar um “candidato novo fora da política tradicional”.

Em um patamar semelhante, outro indicativo da descrença, 29,3% responderam à mesma pergunta dizendo que pretendem votar em branco ou nulo em 2018. Já 16,1% não atrelaram a escolha a uma legenda específica e manifestaram o desejo de votar em um “candidato independentemente do partido”.

A Operação Lava-Jato, que atingiu frontalmente alguns dos principais nomes da política, envolvidos com corrupção, é um dos fatores que contribuem para a rejeição e a expectativa por novos nomes.

Segundo o diretor da FGV-DAPP e coordenador da pesquisa, Marco Aurélio Ruediger, a combinação entre descrédito e esperança poderá resultar em um processo de renovação eleitoral.

— A taxa de rejeição é grande, e a taxa de rotatividade deve ser imensa nessa eleição (2018). Tudo aponta para uma eleição que vai ser um momento pivotal (central) da política brasileira, como poucos nós tivemos. Eu diria a redemocratização, a eleição do Fernando Henrique (Cardoso) e depois do (Luiz Inácio) Lula (da Silva). Então, 2018 está se armando como um grande palco no qual uma série de ajustes e contas para fechar vai ser resolvida. Ou seja, qual o rumo o país vai ter? Qual a configuração política vai liderar esse rumo? E qual a expectativa eu vou ter para o Brasil no futuro?

Com o título “O dilema do brasileiro: entre a descrença no presente e a esperança no futuro”, a pesquisa da FGV explicita o descolamento do brasileiro em relação ao Congresso Nacional e ao Executivo. Entre as 1.568 pessoas entrevistadas, 83% afirmaram não confiar no presidente da República (Michel Temer; o levantamento não fez a referência nominal); 79% disseram desconfiar dos políticos eleitos; e 78% reforçaram que não confiam nos partidos. Em outra questão levantada pelos pesquisadores, 47% afirmaram que o país estaria melhor sem as legendas.

SEM REPETIR O VOTO
Ao serem questionados sobre as eleições de 2018, 55% dos ouvidos rejeitaram a possibilidade de escolher o mesmo candidato à Presidência em quem votaram nos pleitos anteriores. Os percentuais se mantêm no mesmo patamar para governador (53%), senador (52,4%) e deputado federal (51%). Entre os possíveis nomes a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) já foram candidatos anteriormente — Ciro é o que disputou há mais tempo, em 2002. Já João Doria (PSDB) e Jair Bolsonaro, também presidenciáveis, nunca concorreram ao cargo antes.

A pesquisa indica que a via eleitoral é, para a maioria dos brasileiros, a melhor saída para os problemas do país — 65% concordaram com a frase “mais importante do que protestar nas ruas é votar nas eleições”. A expectativa deve adicionar uma pressão extra nas eleições do ano que vem e nos candidatos eleitos, já que, mesmo vivendo o descrédito, a população acredita que a situação vai melhorar nos próximos cinco anos — 53,7% imaginam que a qualidade de vida vai prosperar no período.

— A maior parte das pessoas estaria melhor sem os políticos. Todo esse drama que a gente tem vivido nos últimos anos, somado à própria estrutura do nosso sistema político, que não é mais funcional, leva à imensa falta de credibilidade e de confiança nos partidos políticos como instituições confiáveis de representação. E isso obriga os políticos do Congresso a repensarem o papel deles. Eles são fundamentais — explica Ruediger. — O Brasil não conseguiu construir consenso, a não ser o consenso na desconfiança no sistema político e nos atores políticos.

ECONOMIA EM BAIXA
Além do descolamento com o sistema representativo, a pesquisa também revela que a população tem uma percepção negativa sobre o momento atual da economia, ainda que os índices demonstrem a queda da inflação, da taxa de juros e do desemprego. Para 63,9% dos ouvidos, o pior momento da crise econômica ainda está por vir. O percentual aumenta nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Ao mesmo tempo, a maioria dos brasileiros demonstra confiança no futuro do país — 83% dos entrevistados têm esperança no Brasil a longo prazo. Para Ruediger, esta situação paradoxal vai transformar a eleição do ano que vem em um episódio definidor para os rumos do país, comparável à redemocratização.

— Ainda que hoje a avaliação do quadro brasileiro seja a pior possível, a avaliação para daqui a cinco anos é muito otimista. Isso é bom por um lado, mas, por outro, é altamente problemático, porque vai jogar sobre a eleição do ano que vem e sobre o sujeito que for eleito um peso fenomenal de responder a todas essas demandas represadas e fazer todos os ajustes no sistema, que hoje é disfuncional e está descolado — aponta Ruediger.

Para o diretor da DAPP/FGV, o próximo presidente precisará dar uma resposta rápida aos anseios da população:

— Será uma tarefa hercúlea e que, se não for administrada a contento, não só em termos de resultados, mas também de construção de uma narrativa do por que algumas coisas precisam ser feitas e por que outras não podem ser feitas tão imediatamente, levará a uma situação que, em dois anos, o próximo presidente vai atravessar uma crise abissal.

O levantamento indica também que a corrupção será um dos temas delineadores do debate sobre a escolha dos representantes: 62,3% dos entrevistados afirmaram que essa é a principal angústia em relação ao país.

Marco Aurélio Ruediger sugere que a “ficha” dos candidatos funcionará como o primeiro mecanismo de seleção a ser usado pelos eleitores:

— É um filtro que antecede a discussão da pauta (eleitoral). Não adianta o sujeito falar que vai fazer coisas mirabolantes na economia, na educação e na saúde, se ele já vier desprovido da credibilidade (em função de acusações de corrupção), que é esse filtro inicial. Quem não tiver credibilidade corre o risco de não ser ouvido e simplesmente ser desconstruído durante o processo.

Outro ponto que surge a partir da análise da pesquisa é a constatação de que as manifestações perderam força — 69,1% afirmaram não ter ido a protestos desde 2013, auge do movimento nas ruas. O estudo sugere, segundo os pesquisadores da FGV, que os brasileiros estão esperando as eleições para promover transformações no país. Os responsáveis pelo levantamento, porém, não concordam com a tese de que o pleito de 2018 vai favorecer candidatos de tendências radicais, mesmo diante do anseio da população por um nome de fora da política.

— Da mesma forma que existe uma crise de legitimidade com as instituições, é possível perceber certa fadiga nas pessoas. Esse cansaço aponta para um cenário que, ao contrário do que se pode pensar num primeiro momento, não é de radicalização, mas de uma busca por um fim, por uma solução que “vire a página”— diz o pesquisador Amaro Grassi. — A gente viu uma oscilação polarizada (nos últimos anos), mas há uma maioria silenciosa, que não está se colocando nas ruas nem nas redes sociais, porque normalmente não está na linha de frente da discussão. Essa maioria tem uma expectativa de que a polarização seja substituída por uma convergência de agendas. A ideia de que é preciso reformar o Estado, dentro de uma razoabilidade.

O estudo foi realizado pelo Ibope, contratado pela FGV, entre os dias 19 e 24 de agosto. O nível de confiança do levantamento é de 95%, com margem de erro de dois pontos percentuais.

Pré-candidaturas despontam nas redes sociais
Um outro levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP), feito a pedido do GLOBO, mostra que, a um ano da eleição, o processo eleitoral já vem sendo amplamente discutido nas redes sociais. Entre 1º de julho de 6 de outubro, foram aproximadamente 44.500 menções ao tema. A discussão sobre as pré-candidaturas domina as discussões, com quase um terço das referências (31,7%). Contribuiu para a predominância o fato de alguns dos possíveis candidatos, como Lula, Bolsonaro e Doria, terem se antecipado ao calendário eleitoral oficial e estarem viajando pelo país e participando de eventos com caráter pré-eleitoral, o que provoca repercussões.

Em seguida, com 28%, aparece a reforma política, amplamente debatida por Câmara dos Deputados e Senado nas últimas semanas — o presidente Michel Temer sancionou o texto na sexta-feira. Dentro deste tema, financiamento de campanha (um fundo público de cerca de R$ 2 bilhões foi criado pelos parlamentares) e o voto impresso foram os assuntos mais debatidos.

Depois da reforma, a Operação LavaJato (24,8%) e debates relacionados à corrupção (12,6%) completam a lista.

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