terça-feira, 24 de outubro de 2017

‘Eleitor se sentiu traído por Dilma’, diz Lula

Ao jornal espanhol “El Mundo”, Lula disse agora que o eleitor se sentiu traído pelo ajuste fiscal e pela desoneração da folha no governo Dilma.

Lula diz que ajuste fiscal de Dilma fez eleitorado se sentir traído

Para ex-presidente, que escolheu sucessora, governo ‘jogou fora a base social’

- O Globo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o eleitorado brasileiro que reelegeu Dilma Rousseff em 2014 se sentiu traído pela petista após ela anunciar que promoveria um ajuste fiscal no governo. A declaração foi dada ao jornal espanhol “El Mundo”, em entrevista publicada anteontem. Inicialmente, o periódico publicou que Lula disse que Dilma “traiu o eleitorado que a elegeu em 2014”. Porém, ontem, após Lula afirmar que não havia dito tal frase, o jornal espanhol alterou a declaração em seu site. O ex-presidente publicou, em sua conta nas redes sociais, trecho da entrevista, no qual diz que o governo “jogou fora a base social” que tinha reeleito Dilma.

De acordo com Lula, promover o ajuste fiscal foi um dos erros cometidos por Dilma na Presidência — o principal equívoco, no entanto, teria sido a política de desonerações de empresas. Apesar da crítica, Lula afirmou que Dilma foi impedida pelo Senado de rever a própria política estabelecida por ela.

— Claro que falhamos. Nosso maior erro foi exagerar na política de desonerações das grandes empresas. O Estado deixou de arrecadar para dar aos empresários, e em 2014 saía mais dinheiro do que entrava. Entre 2011 e 2014 se desoneraram R$ 428 bilhões. Quando Dilma tentou acabar com essa ajuda, o Senado não permitiu. O segundo erro (do governo Dilma) ocorreu quando a presidente anunciou o ajuste fiscal e o eleitorado que a elegeu em 2014 se sentiu traído, ao qual havíamos prometido que manteríamos os gastos. Assim começamos a perder a credibilidade — disse Lula, segundo o jornal “El Mundo”.

O petista comparou a situação de Dilma com o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e citou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso na Lava-Jato, para justificar a saída do PT da Presidência depois de 13 anos.

— O ano de 2015 foi muito parecido com 1999, quando Fernando Henrique Cardoso tinha popularidade de 8%e o país tinha quebrado três vezes. No entanto, nessa ocasião, o presidente da Câmara era Michel Temer, que o ajudou a governar. Nós (do PT) tínhamos Eduardo Cunha (como presidente da Câmara em 2015), que se encarregou de barrar cada reforma que Dilma propunha. Foi ele (Cunha) quem levou adiante um processo ilegítimo de impeachment. Tínhamos um inimigo em casa.

SEM ARREPENDIMENTO
Lula afirmou que não se arrepende de ter apoiado a reeleição de Dilma em 2014, em vez de se lançar candidato. O petista declarou que deseja disputar a Presidência no ano que vem e condicionou a intenção de se candidatar com o avanço das investigações contra ele. Ao jornal espanhol, Lula afirmou ser perseguido pela imprensa brasileira.

— Se pensam que uma condenação vai me tirar a ideia de ser candidato, conseguiram o efeito contrário. O julgamento ao qual estou submetido é uma farsa. Nem a Polícia Federal nem o Ministério Público encontraram provas para me acusar, por isso digo que a sentença do juiz Sergio Moro é eminentemente política — argumentou Lula.

O ex-presidente também declarou que, caso eleito, pretende realizar um referendo para revogar medidas aprovas pelo presidente Michel Temer e criticou a emenda feita à Constituição que estabeleceu limite para os gastos públicos por 20 anos:

— O Brasil tem que voltar a ser governado pensando na maioria, e não em alguns poucos. Por isso, o primeiro que penso é implementar um referendo revogatório de muitas medidas aprovadas pelo Michel Temer. É criminoso ter uma lei (do teto de gastos) que limita durante 20 anos a possibilidade de inversão do Estado.

Lula disse que não dá apoio incondicional ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e defendeu que o país vizinho resolva seus problemas internamente.

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