quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Alckmin agrada, mas não empolga o mercado

Por Lucinda Pinto, Lucas Hirata e José de Castro | Valor Econômico

SÃO PAULO - A reação dos mercados financeiros à confirmação de Geraldo Alckmin como provável candidato tucano à Presidência em 2018 reflete com exatidão o sentimento dos investidores: é a melhor opção neste momento, mas não o candidato dos sonhos. Diante da confirmação do acordo do PSDB para elegê-lo presidente do partido - o que aumenta seu capital político para candidatar-se à Presidência -, a bolsa exibiu alta modesta, de 0,7%, e o dólar caiu 0,33%, fechando a R$ 3,2093.

Analistas veem no tucano alguém com experiência, fiscalmente responsável, que deve dar sequência ao esforço de reformas, inclusive da Previdência, sem riscos de experimentos econômicos. Costurando alianças nos bastidores, ele demonstra condições de unificar as forças de centro-direita - que, se sair para as eleições fragmentada, eleva as chances de um candidato mais à esquerda.

A dúvida, que limita o entusiasmo, reside na força que o tucano terá nas urnas. "Alckmin é um nome 'pesado', difícil de subir", define um profissional. Na última pesquisa Datafolha, Alckmin aparece com 8% das intenções de voto em uma simulação de disputa do primeiro turno, contra 35% de Lula, 17% de Bolsonaro e 13% de Marina Silva.

Alckmin agrada, mas não chega a empolgar os mercados
A reação dos ativos financeiros ao nome de Geraldo Alckmin como provável candidato tucano à Presidência em 2018 reflete com exatidão o sentimento que o mercado parece nutrir pelo tucano: é a melhor opção neste momento, ainda que não seja o candidato dos sonhos. Em reação à confirmação do acordo do PSDB para eleger o governador como presidente do partido - o que aumenta o capital político para que ele se candidate à presidência da República -, a bolsa exibiu alta modesta no começo da manhã, enquanto o dólar passou a recuar levemente.

A resposta se deve ao fato de analistas verem no tucano alguém com experiência, fiscalmente responsável, que deverá dar sequência ao esforço de reformas, inclusive da Previdência. E, por ser alguém muito conhecido, afasta riscos de experimentos econômicos. Na definição de um gestor, oferece a previsibilidade necessária num momento de tantas incertezas.

A grande dúvida, que limita o entusiasmo, ainda reside sobre qual a força que o tucano terá nas urnas. "Alckmin é um nome 'pesado', difícil de subir", define o profissional. Na última pesquisa Datafolha, Alckmin aparece com 8% das intenções de voto em uma simulação de disputa do primeiro turno, contra 35% de Lula, 17% de Bolsonaro e 13% de Marina Silva.

O primeiro ponto a favor de Alckmin é que ele demonstra condições de unificar as forças de centro-direita, o que deve reduzir o receio do mercado de que essa ala saia para as eleições fragmentada, elevando as chances de um candidato mais à esquerda. "Alckmin tem mostrado capacidade de costurar alianças nos bastidores", diz um profissional de mercado. Para esse interlocutor, ao assumir o partido, Alckmin é quem decidirá o futuro do prefeito de São Paulo, João Doria, dando sinais de que é mais habilidoso do que se pensa.

O fato de o governador ter conseguido se lançar como candidato único à presidência do PSDB sem rachas reforça a visão de que o tucano tem poder de articulação, diz outro participante do mercado. "Ele já demonstrou capacidade de construir alianças e, num momento em que as bases de líderes tradicionais estremecem, Alckmin consegue manter seus aliados por perto. Isso faz toda diferença quando se está num momento de construir consenso para reformas", destaca.

A postura menos incisiva de Alckmin sobre as reformas econômicas parece, na opinião de outra fonte de mercado, mais estratégia do que falta de apoio a mudanças em regras como a da Previdência. "Enquanto Doria e Bolsonaro se expõem porque precisam conquistar confiança de nomes relevantes da classe política e do mercado, Alckmin não tem essa necessidade. Portanto, não precisa queimar capital político agora com temas espinhosos." O "silêncio" de Alckmin é fruto dessa estratégia, que pode beneficiá-lo durante este momento em que o cenário de candidatos ainda se desenha.

Já a falta de exposição de Marina Silva vai no sentido oposto e acaba por prejudicar uma eventual pré-candidatura sua. "Enquanto o mercado tem ideia da direção de um governo Alckmin, o mesmo não pode ser dito em relação a um governo Marina."

Mas alguns participantes do mercado veem com reservas essa estratégia menos incisiva do tucano, testada em outras campanhas, como a de 2006, quando Alckmin, pressionado pelo adversário petista, disse que não faria privatizações. Neste momento em que a bandeira da redução do Estado é tão cara ao mercado, qualquer hesitação sobre o assunto será mal recebida pelos agentes. "Diferentemente da disputa de 2006, quando Alckmin perdeu para Lula, hoje o ambiente favorece as discussões de uma agenda mais liberal e de reformas", diz uma fonte.

Se o fato de Alckmin já ter passado por testes pode ser um ponto positivo, porque elimina riscos de surpresas negativas em sua gestão, isso também é um elemento de dúvidas quando se pensa em força junto ao eleitor. E essa é uma das razões pelas quais o mercado "não morre de amores" pelo tucano, na definição de um dos profissionais ouvidos pelo Valor. "Não adianta acertar tudo com os aliados, ter uma base de apoio forte e chegar em março em baixa nas pesquisas", diz um gestor.

Assim, o apoio político será fundamental para compensar pontos fracos do tucano - como a suposta falta de carisma ou popularidade entre regiões de fora do Sudeste. O mais importante, pelo tempo de TV também, é como ele vai conseguir se articular. "PMDB, DEM, PR, PP, que são mais de centro, ele vai ter de se articular mesmo que seja no segundo turno", aponta.

Um cenário considerado no mercado é que, numa disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro, Alckmin se beneficie do chamado voto útil. O problema é que esse voto não costuma ser declarado durante a campanha e a definição da eleição tende a acontecer muito perto do pleito. A incerteza, portanto, pode ser mais alta ao longo da campanha, o que é uma má notícia para os mercados. "Alckmin pode ser um prenúncio de volatilidade", define um profissional.

Por ora, não se discute nenhum nome que se destaque para compor a equipe econômica, mas há confiança de que o tucano - por ser um político representativo - não terá dificuldades para se certar de profissionais qualificados.

Outro nome no radar do mercado é o do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ainda assim, a probabilidade de eleição de Meirelles é apontada como baixa, principalmente quando comparada a de Alckmin. Isso porque o ministro pode não contar com a mesma experiência de articulação política que o tucano.

Por mais que a população anseie por novos nomes, ainda há o peso do apoio político e a formação de coalizões. O que conta a favor de Meirelles é a "máquina do Estado", principalmente se a economia der novos sinais de recuperação. De qualquer maneira, o Planalto terá de se decidir entre apoiar a candidatura do tucano ou movimentar o aparelho estatal para impulsionar a popularidade de Meirelles.

A disputa entre os dois, entretanto, pode pulverizar os votos para o centro, sendo assim um desafio maior para a eleição de um candidato mais alinhado à agenda do mercado. "É sempre ruim ter essa divisão", disse.

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