quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Alckmin: defesa de forte ajuste fiscal

- O Globo

Para governador de São Paulo, país não pode conviver com déficit primário de R$ 160 bi por ano
Em evento no Rio, o governador defendeu “rigoroso tratamento” da questão fiscal e agenda de reformas para colocar o país nos trilhos. Governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin defende um “rigoroso tratamento” da questão fiscal e uma agenda de reformas para recolocar o país nos trilhos. Para ele, é necessário reduzir o déficit público, diminuir o tamanho do Estado e promover outros ajustes econômicos para recuperar o “desastre econômico”, que atribuiu ao governo do PT. Alckmin também não poupou de críticas o governo do presidente Michel Temer. Segundo o tucano, a política fiscal em curso ainda é “frouxa” frente às necessidades do Brasil.

Alckmin participou, na última terça-feira, do encontro E agora, Brasil?, organizado pelo GLOBO, com o patrocínio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e apoio do Banco Modal. O evento foi realizado no Teatro Maison de France, no Centro do Rio, e contou com a participação de empresários, acadêmicos e jornalistas do GLOBO.

ÚLTIMO ENCONTRO DE 2017
O encontro foi o último E agora, Brasil? realizado em 2017. Antes de Alckmin, participaram do evento o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o prefeito de São Paulo, João Doria, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, os economistas Armínio Fraga e Antonio Correa de Lacerda, e o sociólogo e professor da USP José Pastore, acompanhado pelo economista e professor da PUC-Rio José Marcio Camargo.

Além de política e economia, também foi discutida pelos participantes a busca por soluções para a questão da Segurança Pública. Entre as sugestões apresentadas por Alckmin, estão a criação de um ministério que cuidará da área, e a inclusão dos governos federal e municipais na formulação e aplicação de políticas públicas de combate à violência, atualmente desenvolvidas pelos governos estaduais.

De acordo com o governador de São Paulo, a economia será um tema preponderante no cenário eleitoral em 2018, porque, para ele, ainda não há clareza sobre o real quadro do país:

— A situação fiscal é extremamente grave. A sociedade não está bem consciente da gravidade do problema fiscal. Como pode um país que deve 75% da sua dívida pública bruta e ainda tem déficit primário de R$ 160 bilhões por ano? Onde vai parar isso? É inacreditável. E (a União) ainda dá aumento (aos servidores). Dá aumento com quatro anos de antecedência — afirma o tucano, acrescentando que, para ele, a população não tem conhecimento da real situação do país. — Na União, as pessoas não veem a gravidade da situação porque ela não atrasa salário. Por que não? Ela pode se endividar, nós (governos estaduais) não. Se eu não tiver o dinheiro em caixa, como o Rio de Janeiro, eu não pago salário, o governo federal pode; ele não paga nada da dívida. Se não pagar a dívida do estado ela é sequestrada, tenho que pagar, quase R$ 1 bilhão por mês. (...) Eu tenho proposta para isso: nós temos que acordar cedo e dizer: “O que nós vamos reduzir hoje?”

Alckmin acredita que os desajustes econômicos tornam o Brasil “um dos países mais injustos do mundo”.

— É mais do que desigual, é profundamente injusto. Injusto na maneira como arrecada e injusto na maneira como devolve o recurso. Então tem aumento para 2016, 2017, 2018 e 2019. Tudo por lei. Quem for eleito o ano que vem já deu aumento em 2019 para todos, ativos e inativos, Judiciário e Legislativo — critica o governador, apontando a responsabilidade do governo federal. — São erradíssimos (os aumentos a servidores concedidos por Temer). A política fiscal é frouxa. É um dado de realidade. E todo mundo aplaude achando que está uma beleza.

Em 2006, Alckmin foi criticado, inclusive por correligionários, por não ter feito uma defesa enfática das privatizações, principalmente quando polarizou a disputa no segundo turno com Lula. O tucano chegou a vestir um colete da Petrobras, num gesto que, segundo ele, serviu para combater “mentiras” que foram ditas pelo adversário na campanha eleitoral. Na peça de roupa, ainda havia logomarcas de outras estatais. O governador credita a derrota ao fato de enfrentar um candidato que disputava a reeleição.

— Qual a diferença de 2006 para hoje? Chama-se reeleição. Já fui reeleito duas vezes. É covardia. Até a Dilma (Rousseff ) foi reeleita. Não tem como perder — ironizou.

Para 2018, caso seja candidato e, posteriormente, eleito, afirma que vai defender um programa de “redução” do Estado, mas descarta privatizar o Banco do Brasil.

— Não iria, não vou e nem irei (privatizar o Banco do Brasil). Não vou vestir o colete das estatais, mas tenho juízo. Não vou falar coisas que acho que não são o caminho nesse momento. Temos 150 empresas estatais, vai começar privatizando o Banco do Brasil a troco de quê? — afirmou Alckmin, citando duas estatais criadas durante os governos do PT. — Alguém já ouviu falar do trem- bala? Passaria por Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Não tem trem, não tem ferrovia, não tem nada, mas a estatal está aí. Na TV do Lula (TV Brasil), foram à Justiça brigar para ver quem ia nomear o presidente da estatal. Está aí também. Um terço delas (das estatais), mais de 40, criadas no governo do PT. Só perdeu para os militares, que criaram 47.

PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS
O governador usou exemplos de programas implementados em São Paulo para defender o que considera que deve ser feito na esfera federal. Alckmin governou São Paulo entre 2001 e 2006, quando renunciou para concorrer ao Palácio do Planalto, e retornou ao cargo em 2011, sendo reeleito em 2014.

— Em São Paulo, no governo Mário Covas, presidi o Programa Estadual de Desestatização. Privatizamos tudo, só não privatizamos o que não teve quem comprasse. Nesses casos, que foram Ceagesp e a Fepasa, passamos para o governo federal no acordo da dívida. Agora, estou fazendo concessões por meio de PPPs (Parcerias Público-Privadas).

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