segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Evento do PSDB-SP tem coro de 'fora, Aécio' e tentativa de pacificação

Anna Virginia Balloussier / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Para o governador paulista Geraldo Alckmin, o momento era de "união e unidade".

Mas, com gritos de "fora, Aécio", a convenção estadual do PSDB-SP, realizada neste domingo (12), na Assembleia Legislativa de São Paulo, mostrou que o racha no tucanato não cicatrizou.

O mestre de cerimônias do evento bem que tentou: "Eu quero que você abrace a pessoa ao seu lado e fale: 'Eu amo o PSDB'". Mas o clima paz e amor dissipava rápido quando o nome do senador mineiro era evocado.

"Ele deveria colocar o pijama e voltar para a casa", disse à imprensa Pedro Tobias, reconduzido no dia à presidência do diretório paulista da sigla, sobre Aécio Neves. "Quieto ele ajuda mais."

Entre as últimas bicadas internas, destacam-se a permanência do PSDB no governo Michel Temer e a manobra de Aécio para reassumir a presidência nacional da legenda, destituir o senador Tasso Jereissati (CE) da interinidade e indicar o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman para o cargo.

No sábado (11), o PSDB-MG fez sua própria convenção, e nela Aécio reconheceu que é hora do partido deixar a administração peemedebista, mas "pela porta da frente, da mesma forma como entramos". Ele disse, sem especificar qual cargo disputaria (se Senado ou governo mineiro), que seu nome no pleito de 2018 é garantido.

Aécio se licenciou da liderança tucana após a descoberta de uma gravação em que pede R$ 2 milhões ao empresário e delator Joesley Batista. O espaço que reconquistou no partido é danoso, segundo Tobias. "Compra caixão, se sobrar caixão por aí."

Na mesma toada foi o secretário estadual Floriano Pesaro (Desenvolvimento Social), pré-candidato ao governo paulista. Para ele, Aécio "não pode contaminar membros do partido" e deve "se afastar para se defender" das acusações na Justiça.

Na convenção mineira Aécio "deitou e rolou", afirmou o vereador Mario Covas Neto, que diz ter cogitado abandonar o PSDB, mas suspendeu a decisão por ora. "O ideal será esperar a convenção nacional [em dezembro]" para ver que rumo o tucanato tomará, afirmou. "Se saio agora, o grupo fisiológico ganha mais força."

Na semana passada, Tasso já havia acusado Aécio de "fisiologismo", e o senador rebateu dizendo que rechaça essa "pecha".

Para Alckmin, não é hora de "discutir questões pessoais", e sim de esperar a próxima eleição da diretoria do partido. "Bola para frente."

Também pediu para "aguardar" o desfecho da convenção nacional quando questionado se assumiria a presidência do PSDB.

Trata-se de uma "decisão coletiva do Brasil", num pleito que já conta com "dois pré-candidatos", afirmou. Além do cearense Jereissati, o governador de Goiás, Marconi Perillo, também pleiteia o posto.

Como antecipado pelo "Painel",o governador já admite a aliados que está disposto a assumir as rédeas do partido se for aclamado pelas diversas correntes do partido.

PRESIDENCIÁVEL
A unanimidade, ao menos no diretório paulista, está em torno de Alckmin. A disputa interna entre ele e seu afilhado político João Doria, para ver qual dos dois conquistava a vaga de presidenciável tucano em 2018, parecia página virada na convenção.

"Estamos juntos", disse o prefeito sobre Alckmin, quando a dupla desembarcou de uma van que trouxe outros caciques do partido em São Paulo, como Goldman, José Serra e José Aníbal.

Estiveram, mas não por muito tempo: Doria saiu antes dos colegas, para ir ao Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Antes, disse que aquela era a "convenção da pacificação".

O prefeito e Goldman, o novo presidente do PSDB nacional, tentam deixar para trás o entrevero que nutrem há meses e que teve seu ápice em outubro, quando Doria chamou o ex-governador de "fracassado" que "agora vive em casa de pijamas".

A vestimenta para dormir, no entanto, foi lembrada por uma claque da base tucana, que fez um coro de "eu pedi pijama!" quando Goldman começou seu discurso.

"A gente leu que o PSDB tinha acabado. Onde, eu não sei. Aqui em São Paulo não acabou, não, e não vai acabar no Brasil", disse o presidente do PSDB até a convenção nacional que elegerá a nova liderança partidária.

"Não temos caciques, coronéis, imperadores, temos líderes que têm que responder à sua base", afirmou em seguida, sem endereçar críticas a nomes específicos.

Na plateia, uma dirigente do PSDB Mulher cotovelou uma amiga e disse: "Primeiramente, fora Aécio...".

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