terça-feira, 21 de novembro de 2017

Luiz Carlos Mendonça de Barros: Recuperação acelera, volatilidade também

- Valor Econômico

Não será surpresa se um número superior a 3% para o crescimento em 2018 aparecer na virada do ano no Focus

Os últimos indicadores econômicos relativos aos meses de setembro e outubro mostram uma aceleração da atividade econômica neste final do ano. As vendas ao varejo, principalmente as que incluem o setor de veículos, apontam uma intensidade da recuperação inesperada, mesmo para os otimistas como eu. O mesmo vem ocorrendo com as exportações e importações, sendo que estas, embora com um crescimento menor, indicam uma alta consistente.

No gráfico estão colocadas as curvas relativas à produção industrial, varejo restrito e ampliado e massa de rendimentos reais com variação trimestral em relação ao ano anterior (variação % trimestral t/t-1). Vejam claramente a recuperação em V que é o padrão para casos de bolha de crédito que ocorrem em economias de mercado como a nossa. A maioria das notícias da imprensa ainda insistem em afirmar que a recuperação atual é a mais lenta de nossa história, esquecendo que ela segue os padrões de situações semelhantes. Aconselho estudarem a recuperação dos Estados Unidos e da Europa nos últimos oito anos quando uma bolha de crédito ocorreu.

Finalmente, as primeiras indicações sobre a arrecadação fiscal deixam claro que a recuperação da atividade econômica já chegou ao caixa do governo, como nos revela o economista Fernando Montero da Tullet Corretora:

"Outubro deverá registrar seu 3º mês de arrecadação positiva, subtraído receitas extraordinárias e aumento de impostos. Após longa estiagem, a arrecadação parece finalmente responder e, ao que tudo indica, em ritmo acima do esperado. O ciclo volta com suas elasticidades. A receita de 2017 estaria vindo acima das estimativas nas últimas avaliações, incluindo a que embaçou o PLOA de 2018. Este último, ainda, ganhará macro mais amigável que o contemplado nos parâmetros expostos, com um PIB de 2018 um ponto percentual acima (de 2% para 3%) e um INPC de 2017 quase um ponto percentual abaixo (de 3,1% para 2,4%)" (Fernando Miguel Montero, economista chefe, do depto. econômico da Tullett Prebon Brasil S/A CVC).

Este movimento dos indicadores econômicos está levando alguns analistas a rever suas previsões para o PIB em 2017 para algo muito próximo de 1%. O próprio Fernando Montero trabalha agora com 0,9% para o ano fechado. Certamente será questão de tempo para que as previsões para 2018 também sofram revisões para cima. Não será surpresa se um número superior a 3% para o crescimento no ano de 2018 aparecer na virada do ano nas estatísticas do relatório Focus do Banco
Central. E se isto acontecer, é importante entender que à época das eleições em outubro o PIB estará crescendo no trimestre cerca de 4% ao ano. O que certamente será um fator importante na forma pela qual um grande número de eleitores definirá seus votos nas urnas.

Nestas condições como explicar então a volatilidade que atingiu nos últimos dias os vários segmentos de nossos mercados financeiros? A Bovespa nos últimos 60 dias oscilou mais de 9% - para cima e depois para baixo - e os juros futuros voltaram a subir com um vigor não explicado pelo cenário da inflação prevista pelos analistas. As oscilações do dólar futuro foram bem mais comportadas em função dos números impressionantes de nossa conta corrente e da balança de pagamentos comerciais. Além disto as incertezas políticas, que nasceram a partir do encaminhamento da segunda denúncia contra o presidente Temer, deixaram de exercer pressão sobre os principais ativos brasileiros na medida que hoje é consenso que ele vai terminar seu mandato.

A resposta a este aparente "conumdrum" já está aparecendo na mídia nas declarações de vários analistas: "São as incertezas sobre as eleições presidenciais de 2018 e a possibilidade de um novo presidente sem compromissos claros com a gestão da economia, seja ele Lula ou Bolsonaro".

Saímos, portanto, do domínio de fatos reais e concretos e entramos na esfera do imaginário dos principais agentes econômicos. Esta passagem é muito perigosa, principalmente em um momento em que os verdadeiros participantes das eleições de 2018 ainda não são conhecidos. Estamos, portanto, em um sistema em que a segunda derivada de eventos incertos vai dominar as mentes de um universo heterogêneo de formadores de opinião, sejam jornalistas atrás de manchetes ou analistas em busca de algum aconselhamento para seus clientes. Ou seja, nada do que vai aparecer, de agora até pelo menos abril do próximo ano, na mídia deve ser considerado pelo seu valor de face como sempre acontece com meros ruídos e não fatos.

Esta situação é muito perigosa para o investidor comum pois permite a criação de movimentos especulativos a cada nova informação que for divulgada sobre pesquisas e candidatos potenciais. E a imprensa não vai deixar de explorar este filão de notícias. O mesmo vai ocorrer com os especuladores de plantão, como já vem acontecendo nestes últimos dias.

Este vazio de previsões racionais e baseadas em fatos com alguma lógica política pode durar até o fim do primeiro trimestre de 2018. O que fazer então? Na minha opinião nada de apostas, de um lado ou do outro, pois o risco de decisões erradas e que levarão a arrependimentos futuros é muito grande. Talvez a combinação de aplicações de juros no curto prazo - o chamado overnight - seja a melhor opção aos investidores normais. E uma dose diária de um calmante forte...
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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

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