segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O que estará em jogo em 2018: Editorial/O Estado de S. Paulo

Ainda é cedo para fazer a lista das pré-candidaturas à Presidência da República que ocupam as páginas dos jornais quase todos os dias e pautam acalorados debates entre os seus prosélitos nas redes sociais. Muitas não sobreviverão aos atritos do tempo. Para o grau de volatilidade da política brasileira, um ano é tempo demasiadamente longo para sustentar inalteradas as variáveis complexas do quadro partidário e eleitoral.

Mas, independentemente dos nomes que estarão sob o escrutínio da sociedade em 2018, é possível afirmar que a disputa de fundo a ser travada nas urnas no ano que vem será entre realidade e ficção, fatos e narrativas, notícias e fake news, racionalidade e paixão.

Evidentemente, tal dicotomia não será inédita. Porém, é certo que no próximo pleito ela será exacerbada diante das fissuras no tecido social provocadas pela radical polarização adotada como política de governo durante 13 anos pelo lulopetismo.

A massificação do acesso às redes sociais também não é um fenômeno novo, mas a cada eleição torna o ambiente digital cada vez mais relevante como espaço para a promoção do debate público. Não é por outra razão que as redes têm servido como meios preferenciais para a propagação de mentiras e distorções, justamente por não serem dotadas dos mecanismos de apuração e controle de qualidade de que dispõem os veículos de comunicação ditos tradicionais.

Os eleitores também estarão mais suscetíveis a entrar em falsos debates sobre falsas questões, promovidos em boa medida pelos chamados robôs, contas automatizadas nas redes sociais que servem para manipular e direcionar o debate político na internet, aumentando artificialmente a popularidade de determinadas pessoas ou a importância de certas “causas”.

Estes dois fatores, vale dizer, a forte polarização política e o aumento da relevância das redes sociais como espaço público, aliados à pulverização das candidaturas e à descrença generalizada da sociedade em relação aos políticos, formam o adubo ideal onde vicejam as mentiras e dissimulações que empobrecerão, e muito, o debate eleitoral de 2018.

E não é preciso esperar tanto tempo para chegar a tal conclusão. Basta observar o que andam dizendo os dois pré-candidatos à Presidência que, no momento, lideram as pesquisas de opinião.

Em entrevista a uma rádio de Goiás na quinta-feira, o ex-presidente Lula da Silva disse que “quem salvou o Brasil uma vez pode salvar o Brasil de novo”. Primeiro, é sempre bom lembrar que suas afirmações como eventual candidato à Presidência devem ser tomadas com parcimônia, não só por seu histórico de mentiras, mas por uma incerteza jurídica. Condenado a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula da Silva só poderá ser candidato caso não seja condenado em segunda instância. Logo, trata-se de uma fala marcada por dúvidas. Mas apenas à guisa de argumentação caberia indagar que Brasil o sr. Lula da Silva precisou salvar e qual ele se julga em condições de salvar novamente caso possa ser candidato e então eleito.

A quantidade de indicadores sociais e econômicos que hoje atestam o franco processo de recuperação do País após o desastre das administrações petistas é tal que somente por má-fé ou desinformação podem ser negados.

Já Jair Bolsonaro, que tem escrito cartas aos cidadãos brasileiros para tentar transmitir a ideia de que representará uma candidatura “liberal”, nada de concreto tem a apresentar que corrobore as suas versões dos fatos. Sua atuação como parlamentar mostra exatamente o contrário, um político populista e pouco afeito a medidas econômicas que levem a um equilíbrio das contas públicas. Além disso, sua retórica é tipicamente autoritária.

O futuro do País estará em jogo nas eleições de 2018. Diante de um ambiente pantanoso, em que verdade e mentira serão contrapostas o tempo inteiro, a maturidade dos eleitores em dissociar dados e paixões também estará sob escrutínio.

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