quarta-feira, 22 de novembro de 2017

PIB e inflação devem contar menos com a agropecuária – Editorial

As recentes previsões para a safra agrícola de 2018 deixaram o mercado financeiro preocupado, com a perspectiva de que o carro-chefe da economia deste ano vai perder o poder de tração. Foi o extraordinário crescimento de 30% da safra de grãos de 2016/2017 que interrompeu mais de dois anos de recessão. O salto de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no primeiro trimestre puxou o aumento de 1% da economia, depois de oito trimestres seguidos de baixa. A agropecuária influenciou a retomada não só com sua participação de cerca de 5% do PIB total, como contagiou positivamente os demais setores ao estimular a compra de tratores e caminhões e alimentar a demanda por serviços, contribuindo decisivamente para a previsão de que o ano vai fechar com um crescimento próximo de 1%.

O forte aumento da produção da agropecuária também repercutiu positivamente no consumo com uma redução generalizada dos preços dos alimentos, ajudando a pavimentar o caminho para a redução dos juros, com consequente corte do custo do dinheiro e da dívida pública. Os alimentos no domicílio registram queda de 4,56% no ano, de acordo com o IPCA de outubro, e de 5,06% em 12 meses. Com uma participação de 17% no IPCA, os alimentos ajudaram a derrubar o índice acumulado no ano para 2,21%, em comparação com os 5,78% de igual período em 2016; e para 2,7% em 12 meses, bem abaixo dos 7,87% de um ano antes.

A expansão da agricultura teve impacto igualmente favorável no mercado de trabalho, que chegou a registrar desemprego de 13,7% no primeiro trimestre e recuou para 12,4% no terceiro. De acordo com os dados do Caged, do Ministério do Trabalho, as 105,1 mil vagas abertas no setor agropecuário de janeiro a outubro deste ano representaram 35% das 302,2 mil vagas abertas em todo o mercado. Além disso, há a inegável contribuição para a balança comercial e de pagamentos, uma vez que o país é o maior produtor mundial de café, açúcar e suco de laranja; e segundo em frango, boi, fumo, soja e álcool. De janeiro a outubro, as exportações do agronegócio superaram as importações em US$ 70,2 bilhões, sustentando o superávit comercial de US$ 58,5 bilhões.

Por todos esses motivos a perspectiva de uma safra menor em 2017/2018 preocupa. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Conab projeta redução média de 5,5% em relação à safra passada, para 225,4 milhões de toneladas, apesar de esperar aumento de 1% da área plantada, para 61,5 milhões de hectares. As produções de arroz, feijão, milho e soja devem recuar; a de algodão vai crescer, e a de trigo, fica estável. Segundo o IBGE, a safra vai despencar 8,9%, para 220,2 milhões de toneladas, apesar do aumento de 7,2% da área plantada.

Como a produção será menor apesar de a área cultivada ser maior, a conclusão é que haverá uma queda de produtividade, e a principal causa são fatores climáticos. As chuvas atrasaram, postergando o plantio. Em muitas áreas, os agricultores ainda estão semeando, atividade que deveria ter terminado em setembro. A segunda safra também vai atrasar, aumentando as chances de problemas. Como resultado, o Ministério da Fazenda projeta também uma redução do valor da produção agrícola no próximo ano, de 5,1% em comparação com este ano; e, consequentemente, menor contribuição para o PIB.

Os preços agrícolas vão colaborar menos para conter a inflação, uma vez que a produção vai diminuir, e isso já está embutido nas projeções para o IPCA e juros do próximo ano. A pesquisa Focus mostra a previsão de que o IPCA será de 4,04% em 2018, acima dos 3,09% esperados para este ano, mas ficará abaixo da meta, enquanto a taxa Selic deverá estabilizar nos 7% em que deve fechar dezembro. No mercado futuro, porém, os juros mostram tendência de alta.

Outros segmentos da economia estão reagindo e devem contribuir para a expansão de 2,55% em 2018, projetada pela pesquisa Focus. A própria agropecuária, na previsão do departamento econômico do Bradesco, deve crescer 4%, depois do salto de 12% esperados para este ano. De toda forma, o que o conjunto do quadro reforça é a necessidade de avanço das reformas econômicas para que a economia como um todo se recupere e a inflação consolide a trajetória mais domesticada.

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