sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Planalto aposta em "voto de responsabilidade" de dissidentes

Por Andrea Jubé e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O esvaziamento do jantar oferecido pelo presidente Michel Temer aos parlamentares em busca de apoio à reforma da Previdência não desanimou o Planalto, que vai continuar negociando. O comparecimento do deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que faz oposição ao governo, entusiasmou Temer. A confusão em torno do adiamento da nomeação do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) e do constrangimento causado a Antonio Imbassahy (PSDB-BA) afastou pemedebistas e tucanos, mas o governo aposta no "voto de responsabilidade". O principal obstáculo continua sendo o temor do revés eleitoral.

O governo afirma que pelo menos 170 parlamentares compareceram, mas participantes do jantar relatam que os presentes chegavam a 130 ou 140. Ao fundo, quatro mesas permaneceram vazias. O governo precisa de 308 votos para aprovar a proposta.

Outra explicação para o número de ausentes é que dezenas de deputados foram ao encontro dos prefeitos de suas bases eleitorais - seus principais cabos eleitorais - que estavam em Brasília em evento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Jarbas Vasconcelos, representante do grupo de "autênticos" do MDB de Ulysses Guimarães, foi embora antes da chegada de Temer, que se atrasou para receber um grupo de prefeitos. Mas ele pediu ao deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) que informasse o presidente de seu comparecimento. Jarbas votou a favor do prosseguimento das duas denúncias contra Michel Temer, mas avisou o governo que votará a favor da reforma previdenciária porque "tem responsabilidade com o país".

Assim como Jarbas fez oposição a Temer na apreciação das denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), mas declarou apoio às mudanças nas regras previdenciárias, o governo tem expectativa de que outros oposicionistas acompanhem o posicionamento do pernambucano. Outros dois nomes na mesma situação têm sido lembrados: o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR) e o presidente do PPS, Roberto Freire (SP). É o que o governo tem chamado de "voto de responsabilidade".


Em contrapartida, o Planalto reconhece que os parlamentares não querem votar a reforma com receio de perderem votos a um ano da reeleição, principalmente nos Estados onde é forte a corporação do funcionalismo público. Deputados apoiados por sindicatos de servidores públicos afirmam, reservadamente, que a reforma os prejudica. Esse temor ganha corpo entre os eleitos pelos ex-territórios (Amapá, Rondônia, Roraima), onde funcionários públicos ganharam status de servidores federais em "trens da alegria" aprovados pelo Congresso Nacional.

A confusão causada pelo governo com o anúncio de que Antonio Imbassahy seria substituído por Carlos Marun provocou boicote dos pemedebistas e tucanos.

No PMDB de Temer, só 18 dos 61 deputados teriam comparecido. Preocupado, o presidente chamou o líder da bancada na Câmara, Baleia Rossi (SP), para viajar com ele a Rondônia ontem.

No PSDB, a ala que votou pelo afastamento de Temer evitou comparecer dizendo que não se sente confortável para participar de um "convescote" com o pemedebista, ainda mais para tratar de assunto tão desgastante. Mesmo na ala governista, poucos foram à reunião - o principal argumento foi a insatisfação com o tratamento dado a Imbassahy.

O descontentamento com a articulação política também fez com que deputados do Centrão e DEM, que cobram mudança no ministério, faltassem, embora os líderes de todos os partidos da base tenham registrado presença.

Outros fatores influenciaram no esvaziamento da reunião: o apoio reduzido da proposta na Câmara, a sessão do Congresso para votar vetos de interesse dos prefeitos, que só acabou às 22h.

Além disso, continuam a dizer, o governo ainda não convenceu a população de que a reforma não vai tirar direitos dos mais carentes. Um parlamentar do PSD, partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deu como exemplo a pesquisa Estadão-Ipsos publicada ontem. Nela, o ministro, considerado no mercado o responsável pela retomada do crescimento econômico do país, é o presidenciável mais rejeitado, com 70% de desaprovação. "Isso é porque ele não consegue defender direito a reforma da Previdência".

Outro deputado do PSD que já anunciou publicamente que apoia a reforma ressaltou que, dada as práticas do governo de trocar votos por emendas e cargos, no chamado semiparlamentarismo, a participação poderia passar a imagem de que faz parte do grupo fisiológico. "Eu estou convencido, não preciso participar de convescote para votar a favor".

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