terça-feira, 14 de novembro de 2017

Raymundo Costa: Demonstração de força no PSDB


- Valor Econômico

Desafio de Alckmin é reunificar o partido e aglutinar o centro

O governador Geraldo Alckmin fez barba, cabelo e bigode nas eleições para o diretório regional de São Paulo. Ganhou também a disputa em nível nacional. Deu uma demonstração de força e só não será o próximo presidente do PSDB se não quiser, mas tudo indica que vai querer. Ungido, Alckmin teria e ainda tem tudo para liderar o polo em torno do qual se juntaria o centro político, na sucessão presidencial de 2018, mas criou arestas ao longo do processo.

A mais óbvia delas é o senador mineiro Aécio Neves, atual presidente do partido, hostilizado sem pejo no palanque da convenção paulista. A outra é o investimento do Palácio do Planalto para dar ao centro uma outra opção, mais à direita que à esquerda. Uma costura que envolve a associação do DEM com o PP, partidos com origem remota na antiga Arena. Esse deve ser o norte da reforma ministerial que vai agrupar as novas forças do governo do PMDB, sem os tucanos.

O primeiro desafio de Alckmin é unir o PSDB. Essa etapa vai até dezembro, data da convenção que em princípio deveria escolher entre o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador Marconi Perillo (GO) o novo presidente do PSDB. Depois da demonstração de força que deu no último domingo, Alckmin está apto a reivindicar o cargo e repetir a experiência única de Aécio Neves, que foi ao mesmo tempo presidente do PSDB e o candidado do partido do Palácio do Planalto.

Caciques de primeira linha do PSDB acham que a experiência foi um desastre para o partido. Pode ser, mas para Aécio, como candidato à Presidência, foi ótima: desde cedo o senador mineiro engajou a máquina e os recursos do partido em sua candidatura presidencial, aquela que chegou mais próximo de tirar o PT do governo, desde 2002. Além disso, Alckmin deixa o governo de São Paulo, para se candidatar, em fins de março início de abril - e teria o palanque partidário para usar até junho, quando oficialmente começa a campanha.

Em São Paulo não houve nem a suposta disputa em torno da secretaria-geral do PSDB: ao contrário do que foi divulgado, o deputado Vanderlei Macris não foi um candidato do senador José Serra e só não é tão próximo a Alckmin quanto o vencedor da disputa, César Gontijo, encarregado pelo governador de coordenar a campanha do cientista político Luiz Felipe D'Avila à sucessão no Palácio dos Bandeirantes.

O Diretório Municipal de São Paulo hoje é do prefeito da cidade, João Doria. Alckmin é incontestável no Estado e agora tem na mira o comando nacional. Ou apoia Tasso ou Perillo, ou aceita a sugestão de Fernando Henrique Cardoso e ele mesmo assume a presidência do partido. Perillo não é, no momento, candidato ao Palácio do Planalto. O mesmo não pode ser dito de Tasso. Alckmin ficou incomodado com o namoro, às claras, do senador cearense com a candidatura presidencial.

A expectativa de poder seduz, deve reduzir resistências e pode juntar os tucanos em torno de Alckmin como aconteceu com Aécio em 2014. Além da oposição de Minas Gerais, por enquanto, o governador terá que lidar com a pré-candidatura à Presidência do prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto, ratificada domingo na convenção do Amazonas. Mas tanto a coesão dos tucanos como o passo seguinte só terá sucesso se ele conseguir superar o déficit crônico de seus índices nas pesquisas de opinião pública.

Alckmin terá de engordar um pouco mais esses índices, se quiser ter sucesso na etapa seguinte de organizar a aliança de centro com os demais partidos. O centro começa a ficar congestionado e a maior dificuldade para Alckmin pode estar no governo federal, que pretende organizar e apoiar uma candidatura que defenda as propostas do governo Temer. No Palácio do Planalto estima-se que o governo pode contribuir com algo entre 10% e 12% na votação do escolhido.

Muito embora com a popularidade ao rés do chão, os 3% de aprovação de Temer não são motivo para desânimo para os estrategistas palacianos. O trunfo do governo é a recuperação econômica. O Planalto preparou uma relação com 16 indicadores econômicos que melhoraram em relação ao fim do governo Dilma Rousseff, alguns significativamente como a inflação (de 9,28% para 2,54%) e a taxa de juros (de 14,25% para 7,5%); outros mais lentamente, como o emprego (mais 1,1 milhão de pessoas ocupadas no 3º trimestre de 2017).

Há coisas prontas e outras por fazer, como as privatizações previstas para o primeiro semestre do próximo ano, algumas delas independentemente de aprovação do Congresso. O governo vai manter o discurso da austeridade e da necessidade da reforma da Previdência. Esse é o manifesto que está sendo escrito pelo governo para que os candidatos se posicionem contra ou favor. Uma saia justa para os setores do PSDB. Antes eles brigavam para votar a retirada de Michel Temer da Presidência da República, agora terão que se manifestar sobre um programa econômico que poderia muito bem ser tucano.

O discurso cabe no figurino do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um nome que surpreendeu adversários que não imaginavam que ele pudesse conseguir tanto da economia em condições políticas tão adversas, mas que não empolga o Palácio do Planalto nem seu partido, o PSD. Depende de seu desempenho nas pesquisas. Também na roda está o nome do prefeito João Doria, se ele se dispuser a sair do PSDB. O nome que definitivamente não está nos rascunhos deixados sobre as mesas de reunião do Planalto é o de Alckmin. O que, visto de hoje, com um governo e um presidente tão impopulares, pode até ser bom para o candidato do PSDB.

Temer não deve ser candidato à reeleição ou ao menos não pensa nisso, no momento. Quer ser protagonista, sim, nas eleições de 2018, mas tem consciência do passivo que carrega seu governo. Mas não abre mão de tentar influir e organizar um aliança de partidos capaz de eleger e dar sustentação ao próximo presidente, até porque entende que a situação no Congresso, apesar da reforma política, continuará tão fragmentada quanto é atualmente.

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