segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Fernando Limongi: A solidão tucana

- Valor Econômico

Urgência para a Previdência é resposta ao PSDB

Com a retirada da candidatura de Luciano Huck e a definição do PSDB, o quadro sucessório ganhou uma simplicidade inesperada. Geraldo Alckmin, entretanto, não conquista os corações e as mentes dos que veem em Lula o mal maior. Não se sabe se a desconfiança decorre da crença de que Alckmin seria incapaz de derrotar o petista ou se porque não se acredita na sua adesão ao ideário das reformas liberais. Seja como for, manteve-se a movimentação para encontrar (ou inventar) uma candidatura alternativa.

O Ministro Henrique Meirelles, como seria de se esperar, foi o primeiro a atacar o candidato Alckmin. Em entrevista publicada na última segunda-feira, fez profissão de fé liberal e elegeu a aprovação da Reforma da Previdência como sua plataforma. Sem medir as palavras, criticou o PSDB, colocando na conta do partido as resistências mais fortes à aprovação das 'reformas modernizantes' defendidas pelo governo Temer, do qual o Ministro se proclamou o principal expoente.

Meirelles, neste ponto, ensaiou coro com economistas de renome historicamente associados aos tucanos que, nos últimos meses, vem criticando as atuais lideranças do partido pela falta de compromisso com a responsabilidade fiscal. Não faltaram desfiliações anunciadas com pompa, seguidas de apoios a candidatos novos com lastro entre o empresariado comprometido com a renovação da política.

Nestas críticas, o apoio ao governo Temer e às reformas acabam se misturando. Tudo se passa como se o compromisso com as reformas e a austeridade fiscal pedissem o apoio incondicional e irrestrito ao governo Temer. Quem critica o governo, estaria do lado da irresponsabilidade e das benesses financiadas pelo Estado que tanto agrada aos políticos e custa ao povo.

O fato é tanto Meirelles quanto os que falam em nome da responsabilidade fiscal procuram fazer crer que o PSDB é o principal obstáculo à reforma da previdência, que se o partido a apoiasse, a medida seria aprovada.

O ministro, em sua entrevista, se esqueceu de mencionar que seu próprio partido, o PSD, sob o comando de outro ministro de Temer, Gilberto Kassab, tampouco declarou voto favorável à reforma da previdência. Na realidade, a prioridade de Kassab dá bem a medida da viabilidade da candidatura de Meirelles. Realista, o ex-prefeito de São Paulo aguarda a movimentação de José Serra, de olho em uma possível composição que lhe renda a candidatura a vice-governador em São Paulo.
A repentina simplificação do quadro eleitoral fez com que a reforma voltasse a ganhar o status de urgente e inadiável. A razão é simples: Temer e seu PMDB foram deixados à margem e, por isto, saíram em busca de um legado para trazer à mesa de negociação.

Assim, a reforma da previdência voltou a ser a prioridade do governo. Não faz muito, em novembro para ser exato, o próprio Temer, mostrou resignação ante a impossibilidade de trazer a voto a reforma da previdência. Se não der para aprovar, 'paciência', afirmou o presidente. Na última sexta-feira, Temer, a seu modo, engajou-se na tentativa desesperada para votar a reforma ainda este ano. Pediu a empresários que pressionassem deputados para obter os votos necessários e se confessou disposto a "aproveitar a minha impopularidade e fazer o que precisa ser feito."

De concreto, além de promover jantares para contar votos, tudo que o governo fez foi finalizar a troca de Antonio Imbassahy por Carlos Marun. A nomeação é emblemática. Em lugar de ampliar, o governo limita sua base, recompensando a fidelidade canina dos que lhe garantiram o mandato. Teve início a xepa que caracteriza o fim de governos sem influência sobre sua sucessão. Marun é o novo responsável pela articulação política.

Geraldo Alckmin, de sua parte, foi consagrado na convenção de seu partido e fez discurso de candidato. Definiu seu principal adversário e se comprometeu com as reformas, incluindo a da previdência. Resta saber se o eleitorado que o governador mira abraçará sua candidatura. Por enquanto, quem tão facilmente se convenceu que Temer seria a salvação ainda hesita em jogar suas fichas em Alckmin. Falta ao governador paulista bons amigos entre os que defendem as razões do mercado.

Para os amigos...
Na noite de quarta-feira, o Diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, foi o convidado de honra da festa patrocinada pelo ex-senador Clésio Andrade (PMDB-MG). Sentou-se em mesa especialmente reservada pelo anfitrião. Envolvido no Mensalão Mineiro, vice da primeira gestão Aécio Neves em Minas e senador, Clésio renunciou ao mandato para escapar das investigações por peculato e desvio de recursos públicos. Pelo que se noticiou, Clésio e Segóvia conversaram como bons amigos.

No mesmo dia, pela manhã, a Polícia Federal deflagrara a operação Esperança Equilibrista em que ex-reitor e professores da UFMG foram levados a depor coercitivamente. Não se sabe, até o momento, do que são acusados e as razões que justificaram o recurso ao depoimento excepcional. Nenhum deles havia sido sequer convocado a depor.

Impossível não relacionar a operação com as desencadeadas contra outras universidades, a mais conhecida delas, por suas consequências trágicas, a que teve lugar em Santa Catarina. Como mostrou Luiz Maklouf Carvalho em "O Estado de São Paulo", as acusações que levaram ao suicídio do reitor partiram de um desafeto, uma vingança pessoal encampada e multiplicada pela Polícia Federal com seu pendor para o espalhafato.

Diz-se a torto e direito que o Brasil vive uma nova era. O ditado "para os amigos tudo, para os inimigos a lei" teria caído em desuso. No novo Brasil, a lei seria para todos, como estampa o título do filme-manifesto.

Os eventos recentes indicam que o santo é de barro e o andor precisa ser carregado com o cuidado de sempre. As autoridades de plantão, as altas e as baixas, sempre têm seus amigos e seus inimigos, a quem administram as leis com doses variadas de rigor.

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Fernando Limongi é professor do DCP/USP e pesquisador do Cebrap.

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