sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Humberto Saccomandi: Cenário externo em 2018 favorece o Brasil

- Valor Econômico

Vários países, nos últimos dias, elevaram previsões para 2018

Todo ano começa com uma lista de riscos potenciais, e 2018 não será diferente. Mas tudo indica que o ano será muito favorável à retomada de um crescimento vigoroso no Brasil. As expectativas estão em alta em quase todo o mundo, e as principais economias vêm elevando as suas previsões de crescimento. Curiosamente, o maior impulso e o maior risco devem vir dos Estados Unidos de Donald Trump.

Este já foi um bom ano, pelos padrões recentes. Em 2017, pela primeira vez em dez anos, todas as 20 maiores economias do mundo, o chamado G-20, estão crescendo simultaneamente. Esse grupo responde por quase 85% da economia mundial. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento global neste ano, estimado em 3,6%, será o melhor desde 2011. Se o Brasil está patinando, a culpa é nossa.

O FMI já previu, no seu mais recente Panorama Econômico Mundial (de outubro), um pequeno aumento do crescimento mundial em 2018, para 3,7%. Mas essa melhora deverá ser mais robusta.

Nas últimos dias, vários países relataram um crescimento acima do previsto neste final de ano e, com isso, elevaram as suas previsões para 2018, em geral para além das estimativas do FMI, que eram consideradas conservadoras.

É o caso, por exemplo, do Japão. O FMI prevê alta do PIB de 0,7% em 2018. Mas, nesta semana, o governo japonês reviu para cima suas projeções e agora estima crescimento de 1,8% no ano que vem. Para a Alemanha, maior economia da Europa, o FMI prevê expansão de 1,8% em 2018, mas o alemão Handelsblatt Research Institute já estima expansão de 2,5%. O Banco Central Europeu (BCE) também elevou nesta semana a sua previsão para a zona do euro, de 1,8% (divulgada em setembro) para 2,3%.

Poucos países importantes estão revendo suas projeções para baixo. É o caso do Reino Unido, por causa do Brexit, e da Espanha, pela crise na Catalunha.

Essas melhoras já estão em andamento e possivelmente não incorporam ainda o mais novo estímulo para 2018: a reforma tributária nos EUA, um pacote trilionário de corte de impostos aprovado na quarta-feira.

Os EUA estão para embarcar numa farra fiscal, já que os cortes de impostos (de US$ 1,5 trilhão em dez anos) não se pagarão, isto é, não serão cobertos por um aumento de arrecadação nem por um corte de gastos, segundo avaliações do próprio Congresso dos EUA. Eles resultarão, assim, num aumento de déficit público, com consequente alta da dívida. Isso pode vir a ser um problema no futuro, mas não agora.

O efeito desse estímulo fiscal sobre a economia vem sendo tema de intenso debate nos EUA. Há divergências sobre a dimensão e a duração desse impacto. Muito dependerá do comportamento das empresas e dos consumidores que pagarão menos impostos já a partir de janeiro. Se eles gastarem o excedente, isso acelerará a demanda e o crescimento da economia. Algumas empresas anunciaram a intenção de investir mais, mas há também as que preferem remunerar mais os acionistas ou recomprar ações.

Economistas em geral concordam, porém, que o pacote terá impacto mais forte em 2018 e possivelmente em 2019, perdendo efeito nos anos seguintes. E estimam uma alta adicional do PIB de 0,3 a 0,8 ponto no ano que vem. Com isso, a previsão de expansão dos EUA em 2018 está mais perto de 3% do que dos 2,3% previstos pelo FMI.

A Europa pode ter o seu próprio estímulo fiscal, ainda que numa escala bem menor que o dos EUA. O impasse sobre a formação do novo governo alemão está adiando definições importantes de política econômica no país, em especial o que fazer com o superávit fiscal. Ainda assim, a tendência é que, seja via corte de impostos, seja via aumento gasto público (ou, mais provavelmente, um mix dos dois), a Alemanha puxará uma demanda maior na Europa.

A China anunciou nesta semana a sua intenção de manter o crescimento estável no ano que vem. Neste ano, o país tinha meta de crescer em torno de 6,5%, mas deve encerrar o ano um pouco acima disso. Agora, pela primeira vez em muito tempo, a China começará um ano sem uma meta pré-definida de crescimento. Isso deve abrir caminho para um período de expansão menor, mas Pequim deixou claro que essa transição será gradual, numa tentativa de acalmar investidores e evitar um novo período de desvalorização da moeda e fuga de capital.

Essa melhora generalizada na economia mundial ajudou a elevar o comércio e os preços das commodities. O petróleo também subiu, pressionado pelo acordo de produção entre Opep e Rússia, o que favorece investimentos no Brasil.

E quanto aos riscos? Os principais estão ligados a Trump.

Dos riscos geopolíticos, há a ameaça persistentes da crise nuclear com a Coreia do Norte. Recentemente o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, mencionou a possibilidade de negociação com o regime de Kim Jong-un, mas foi desautorizado pela Casa Branca, que mantém a política de confronto.

Há ainda o risco de um conflito amplo entre Irã e Arábia Saudita no Oriente Médio, que depende certamente do apoio de Trump aos sauditas. Isso faria disparar o preço do petróleo e poderia afetar toda a economia mundial.

Haverá menos riscos eleitorais em 2018 que em 2017. Das grandes economias, Brasil, Rússia, México e Itália vão às urnas. Na Rússia, Putin será reeleito. A eleição em novembro para o Congresso dos EUA só terá efeito em 2019.

Possivelmente o principal risco macroeconômico é um aumento da tensão comercial entre EUA e China. O governo americano deve decidir no ano que vem se adota ou não sobretaxas contra uma série de produtos chineses. O próprio corte de impostos nos EUA deverá favorecer, ao menos inicialmente, um aumento do déficit comercial americano, que Trump prometeu reduzir.

Um alta inesperada da inflação nos países ricos (há uns poucos sinais, incertos) poderia levar a juros maiores e a uma queda mais forte dos mercados de ações, que estão em nível recorde - o que em si já embute um risco.

Os riscos de 2018 existem, mas a probabilidade de eles se materializarem não parece alta.

Se o Brasil não aproveitar esse cenário externo benigno, acrescentaremos mais uma à extensa lista de oportunidades perdidas pelo país. Apesar de 2019 ainda estar longe, as projeções hoje indicam que não será um ano tão favorável.

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