terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Reformas como trunfo eleitoral: Editorial/O Estado de S. Paulo

Ao persistir nas reformas essenciais para o País, a despeito da enorme dificuldade política, da resistência das corporações privilegiadas e do desgaste provocado por um debate repleto de mistificações, o governo do presidente Michel Temer consolidará uma agenda que certamente estará nos palanques na eleição do ano que vem. Talvez seja essa a principal contribuição do final desse governo: obrigar os candidatos a presidente a dizer o que pensam sobre esse tema, que os políticos costumam evitar em ano de eleição, em razão da percepção de que se trata de assunto do qual o eleitor nem quer ouvir falar.

Já está mais do que na hora de parar de tratar o eleitor como incapaz de aceitar a realidade e de perceber que o descontrole das contas públicas lhe é prejudicial. No caso da reforma da Previdência, por exemplo, o governo começa a colher os frutos de uma campanha que afinal mostrou que somente os privilegiados ganham com a manutenção do atual sistema. A mensagem, conforme indicam pesquisas de opinião, parece ter sido capaz de reduzir uma antes sólida maioria contrária à reforma. A rejeição ainda é majoritária, mas cresceu muito a parcela dos que agora se dizem favoráveis à reforma.

Mais importante do que essa reversão de expectativas, porém, é o fato de que o engajamento do governo colocou a reforma da Previdência na berlinda, e, com ela, todo o tema da necessidade de sanear as finanças nacionais e facilitar a retomada do crescimento – o que inclui outras medidas essenciais, como a reforma tributária. Tudo isso pode vir a ser empacotado como plataforma eleitoral por um candidato que venha a ser apoiado por partidos reformistas, que apostariam na recuperação da economia como ativo na campanha de 2018. Seja quem for esse candidato, deverá servir como porta-voz de uma parte significativa das forças produtivas do País, que sabem o quão crucial é superar a irresponsabilidade populista que, na era lulopetista, parecia fadada a se perpetuar. Ao portar a bandeira das reformas nos debates eleitorais, um candidato com aquele perfil certamente será confrontado por aqueles que se opõem às mudanças, alguns ferozmente, e então o eleitor terá condições – ao menos é isso o que se espera de uma campanha – de conhecer os diversos pontos de vista a respeito desse assunto.

Ninguém terá como ficar em cima do muro. Aqueles partidos e candidatos que costumam fugir desse debate porque, segundo imaginam, poderiam sofrer prejuízos eleitorais já estão sendo impelidos a se posicionar sobre as reformas. No caso da Previdência, o governo espera que os partidos que dizem apoiar as reformas fechem questão em torno do tema, isto é, obriguem seus parlamentares a votar a favor. Contingentes cada vez maiores de cidadãos preocupados com o futuro pensam da mesma forma e esperam o mesmo dos partidos que apoiam. E alguns grandes partidos de fato têm fechado questão, embora sem prever nenhuma punição em caso de dissidências – como foram os casos do PSDB e do PMDB.

Não é o ideal, mas só isso já é o bastante para indicar uma possível formação de um movimento, na disputa da Presidência, que alinhe partidos formalmente comprometidos com as reformas. O primeiro grande teste desse possível bloco deverá ser justamente na votação da reforma da Previdência, empurrada para fevereiro de 2018. Por ser ano eleitoral, ainda que apenas em seu início, o debate no Congresso decerto estará vinculado a esse cenário, e então será possível avaliar quem é quem nessa grande questão nacional.

Não é mais possível hesitar diante da necessidade de reforçar a responsabilidade fiscal e aprovar reformas que deem sustentação à tão esperada recuperação da economia. Os inimigos do bom trato das contas públicas todos sabemos quem são, pois estes não se escondem – ao contrário, fazem disso seu grande capital eleitoral, contando com sua capacidade de manter os eleitores encantados com promessas populistas. Para enfrentá-los, espera-se que essa ofensiva reformista do governo ganhe adeptos, em primeiro lugar, entre aqueles que deveriam apoiar a agenda reformista, mas, por razões puramente eleitoreiras, titubeiam ou desconversam. Nenhum cálculo desse tipo se justifica diante da chance única de obter plena chancela eleitoral às reformas.

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